Por Vanessa
Jurgenfeld - 31/05/2013
Mílton
Jung, apresentador do "Jornal da CBN", programa de maior audiência da
CBN, e Mariza Tavares, diretora de jornalismo da emissora.
Quando Natália Telles deparou-se com um tiroteio na
zona sul de São Paulo, ela postou no Facebook: "Meu Deus do céu, tiroteio
aqui na rua Vergueiro. Em pleno horário do almoço". Uma repórter da rádio
Band News FM, que conhecera Natália havia pouco tempo por causa de uma pauta,
leu a mensagem e a procurou para saber mais detalhes. A rádio então decidiu pôr
Natália, ao vivo, direto do local da ocorrência. No áudio, pelo celular, ela
dizia: "Tem muita viatura aqui. Mais ou menos umas 11. Tem uma vítima,
infelizmente. Não sei se é o bandido ou se era alguém que estava no banco. O
trânsito está todo fechado. A polícia fechou com um cordão de isolamento o
banco. Ninguém entra e ninguém sai. Não sei se os caras estão lá dentro, mas,
enfim, muito triste e muito medo de verdade. Horário de almoço, meio-dia e meia
começou o tiroteio aqui".
A informação da ouvinte foi uma das maiores
audiências do dia na emissora e mostra que há uma transformação em curso na
comunicação com o avanço das mídias móveis (equipamentos com conexão à
internet) e da informação rápida e fragmentada publicada nas redes sociais.
No rádio, de receptor, o ouvinte virou claramente
também emissor. Ganhou voz. Às vezes, voz ativa: reclama, sugere correção de
informação nos programas ao vivo, quer participar ativamente da programação e
interferir. Em uma situação como a de Natália, um bônus: a ouvinte se tornou,
por alguns minutos, aquele tipo de repórter que está no lugar certo na hora
certa.
Ainda que historicamente tenha sido interativo - na
era do rádio, entre as décadas de 1930 e 1950, as pessoas assistiam a programas
no auditório que se valiam da colaboração de orquestras, conjuntos regionais,
músicos solistas, humoristas, mágicos, concursos com sorteios e distribuição de
amostras de produtos para o público -, há um outro mundo nos anos 2000,
sobretudo na forma como a nova geração se relaciona com o meio (e com vários
outros). Para Nair Prata, pesquisadora na Universidade Federal de Ouro Preto
(Ufop), o rádio passa por uma redescoberta do seu papel e se questiona como
crescer no futuro.
Dados do Ibope sobre audiência indicam que há um
recuo entre os ouvintes de rádio. Em 2003, o índice de audiência nacional era
de 16,82%, entre março e maio em nove mercados pesquisados (cerca de 300
emissoras). No ano passado, teria caído para 15,47%, no mesmo período. Há
retração também na penetração do rádio entre os brasileiros. No primeiro
trimestre de 2008, atingia 82% da população contra 73% no primeiro trimestre
deste ano, segundo pesquisa Ipsos/Marplan. Outro alerta vem da fatia desse meio
no bolo publicitário nacional de mídia, que é praticamente a mesma nos últimos
cinco anos: 4%, segundo o Projeto Inter-Meios.
Embora esses números possam muitas vezes ser
questionados pelo setor, o fato de não haver tendência de crescimento tornou-se
um nó górdio. "Quando a televisão chegou ao Brasil [década de 1950],
estava tateando no escuro. Havia a parte técnica pronta, mas a programação
ainda estava sendo construída. Precisava encontrar uma linguagem e ela
apropriou-se da linguagem radiofônica. Seu início foi um rádio passado na TV.
Até que ela encontrou o seu caminho. Acho que o momento que o rádio vive hoje é
mais ou menos como esse", diz Nair.
"Radiomorfose" é o neologismo usado por
ela para definir o período de modificações, inspirada na expressão
"mídiamorfose", do teórico americano Roger Fidler. "Qual seria o
papel do rádio para esse jovem da geração digital? Ele ouve rádio como nós das
outras gerações [analógicas] ouvimos?", indaga Nair. A resposta mais comum
entre os pesquisadores tem sido um grande não.
"É como se o ouvinte se tornasse um
usuário", afirma Álvaro Bufarah, professor da Fundação Armando Álvares
Penteado (Faap). "Uma coisa é 'eu não gostei, e troco de emissora'. Outra
coisa é eu mandar um SMS ou enviar um e-mail questionando a fonte, mandar foto
de buraco", diz, referindo-se a situações já bastante frequentes em
algumas rádios.
Em um único dia, a rádio Band News FM recebe uma
média de 2 mil mensagens, entre SMS e e-mail, entre 6h e 19h. O "Jornal da
CBN", programa de maior audiência da emissora das Organizações Globo, das
6h30 às 9h, com o âncora Mílton Jung, recebe diariamente cerca de 300 e-mails.
No Twitter, em média, são 50 participações por dia. A CBN não usa SMS porque há
custo para o ouvinte. Já a SulAmérica Trânsito, primeira rádio com foco neste
tema, que pertence ao Grupo Bandeirantes, em situações críticas, como dias de
chuva com enchentes, já chegou a uma marca de 1,5 mil mensagens, entre SMS e
e-mails, em apenas 90 minutos. "Engavetamento 4 carros finalzinho d mgnal.
Quase a senna já sem interdcao de faixa dos veículos n castamnto e sem lentdao
(sic)", enviou pelo celular um ouvinte. Pela voz do locutor Ronald
Gimenez, editor-chefe da rádio, a tradução: "Nosso ouvinte traz a
informação de um engavetamento envolvendo quatro carros no fim da marginal
Tietê, chegando à rodovia Ayrton Senna. Não tem lentidão".
Além de intérprete das mensagens que chegam, e de
ele mesmo operar a mesa de som com as vinhetas e os intervalos comerciais, hoje
o trabalho de Gimenez envolve estar atento a três TVs e comandar três
computadores. Em uma troca frenética de janelas do computador, fala ao vivo,
tem acesso a um mapa com monitoramento on-line das principais vias da cidade,
ao Facebook, ao Twitter, aos SMS e ao portal de voz.
As multitelas mostram como a interatividade
modifica também a vida do profissional de rádio e o esforço que existe para
fidelizar o ouvinte, em uma busca de aproximação do conteúdo às necessidades
reais das pessoas. Mas fidelizar também ficou mais difícil diante da informação
farta a um toque na tela do celular, da abundância de músicas via download, e
em um mundo no qual há mais rádios tradicionais mesmo. Só em São Paulo são 37
emissoras no dial (FM), de acordo com dados do Ibope. Houve uma expansão dos
anos 1990 para cá - em parte pelas dificuldades técnicas das rádios AM, que
passaram a sofrer com as interferências de torres de transmissão de celulares e
em bando migraram para o FM, que, por sua vez. atingiu limite técnico em São
Paulo. "Antes, tínhamos um ouvinte fiel a determinada emissora. Hoje, o
jovem não é fiel. Consome o quanto lhe interessa. Depois, descarta aquilo e
passa para outra emissora", comenta Nair.
O velho rádio, já com 90 anos no Brasil, tenta se
adaptar a esse novo momento, em que vários tipos de rádios coexistem e ainda
não se sabe como será o modelo dominante do futuro: há a rádio AM importante no
interior, as rádios tradicionais do FM no dial, as web rádios (com conteúdo
somente pela internet) e as que estão no dial e também já possuem um braço mais
ativo na internet.
Historicamente, a primeira rádio do país foi a
Rádio Sociedade, criada em 1923, no Rio, por Roquette Pinto. Diferentemente de
opiniões que exaltavam o rádio como elitista e divorciado da realidade,
Roquette Pinto o definia como o jornal de quem não sabia ler ou de quem não
podia ir à escola, o divertimento gratuito do pobre e animador de novas
esperanças e consolador do enfermo. E, conforme ressalta Stella Caymmi no livro
recém-lançado "O que É que a Baiana Tem", para parte da população,
era passatempo de uma nascente sociedade urbana. Pelo rádio, diversos artistas
atingiram o auge de suas carreiras, como Dorival Caymmi, Araci de Almeida,
Carmen Miranda, Sylvio Caldas, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Ângela Maria e
Francisco Alves. O samba e as famosas marchinhas de Carnaval, como as de
Lamartine Babo e Braguinha, também irradiaram pelo rádio. "A música
popular brasileira e toda a indústria que a acompanha ao longo do século XX
muito provavelmente não teriam alcançado o grau de complexidade, sofisticação e
desenvolvimento que obtiveram sem o rádio", observa ela.
Mais recentemente, o aparelho tradicional de rádio
- presente em 90% dos lares brasileiros - atingiu saturação domiciliar (em
1995), de acordo com pesquisa encomendada pela Associação Brasileira das Empresas
de Rádio e Televisão (Abert), baseada na Pnad-IBGE. Para os pesquisadores,
contudo, há outras oportunidades - nem sempre ainda bem trabalhadas pelo meio -
pelo avanço na frota de automóveis (estima-se que cerca de 80% deles possuem
rádio) e por meio da produção de um conteúdo radiofônico pela internet, com o
crescimento do número de lares com computador e a disseminação do uso de
aparelhos como smartphones.
"Uma das grandes vantagens do rádio é que você
pode portá-lo em qualquer ambiente. Mas o meio olha isso ainda de forma
retrógrada. É preciso uma linguagem nova", alerta Bufarah. "Não é que
o rádio morre, é o conceito empresarial de programação que existe hoje que vai
morrer. O veículo se transforma."
O perfil médio dos ouvintes se mantém nos últimos
anos concentrado entre pessoas das classes A, B e C, especialmente acima de 30
anos. O fato de mais da metade da audiência estar acima dessa faixa etária
explica por que há cobiça pelos mais jovens. "Para a geração mais velha,
tanto faz se o rádio ficar na porta da geladeira ou no cabo da vassoura. Esse
público vai sentar e ouvir do mesmo jeito, pois já conhece o conteúdo. Mas as
novas gerações não o conhecem e estão perdendo a relação com o meio. Hoje, em
um pacote [de celular], entrego rádio, internet e acesso as emissoras de outros
países. E, nesse ambiente virtual, a concorrência é global", diz Bufarah.
"Tenho alunos que ouvem emissoras de rádio dos EUA ou da Inglaterra. E aí
como se explica isso para o cara da geração 'baby boomer' que está sentado na
direção de uma emissora? Ele bate no peito e fala: 'Faço rádio há anos, meu pai
fazia assim e eu faço assim'", critica.
Boechat comanda as manhãs da Band News FM: conversa
descontraída com o colunista da "Folha de S.Paulo" José Simão ajuda a
atrair ouvintes jovens para a audiência
Talvez esse comportamento se explique por que os
números, por ora, não mostram explosão de crescimento do rádio no mundo on-line
e as emissoras ainda buscam obter receitas com o rádio na rede. No primeiro
semestre de 2012, de 27 milhões de pessoas entrevistadas pela Ipsos Marplan,
54% acessavam a internet, mas só 5% ouviam rádio pela rede. E não está popularizado
o hábito de ouvir rádio pelo celular. Dentre os entrevistados da pesquisa que
escutavam rádio em casa, 11% afirmavam ouvir pelo celular; no local de
trabalho, o índice subia para 20%. "O rádio tradicional ainda é um meio
forte. Mas há todo um mercado em potencial [no consumo por outras
plataformas]", analisa Diego Oliveira, diretor da Ipsos Marplan.
As rádios tradicionais que possuem braço também
on-line acreditam que não existe uma audiência maior no on-line do que no
off-line. Mas observam que a tendência de audiência on-line aponta para cima
enquanto a do rádio tradicional indica queda. Grandes grupos têm liderado
transformações no meio para entrar em uma nova onda. Estúdios como os da CBN
possuem câmeras para que a programação na internet tenha imagens e o ouvinte,
ao acessar a rádio pelo site, se sinta um pouco dentro dela. Os repórteres -
que antes só gravavam entrevistas, com prioridade ao áudio - também fotografam
e filmam, para produzir conteúdo para o site. Os âncoras podem ser acessados pelo
Twitter.
"Quando falamos de CBN, embora achemos o
slogan 'a rádio que toca notícia' genial, ele conta só um pedaço da verdade
porque [hoje] é mais uma comunidade que tem que estar em diferentes
plataformas. O público que consome a CBN pode estar ali sintonizado no dial, no
radinho de pilha ou no rádio do carro, mas tem aqueles que estão consumindo via
'streaming' [estão trabalhando, com o computador conectado no site e ouvindo a
programação] e aqueles que vão consumir conteúdo 'on demand'", ressalta
Mariza Tavares, diretora de jornalismo da emissora.
Na busca pelo ouvinte, a CBN tem dado nova cara às
atrações de auditório, formato famoso nos anos 1940. Além do programa do
psiquiatra Flávio Gikovate, que lota o teatro Eva Herz toda terça-feira, em São
Paulo, há o "Fim de Expediente", às sextas, com o ator Dan Stulbach
como um dos apresentadores, que busca uma conversa mais leve sobre atualidades,
para conquistar também os jovens.
"Abram-se as cortinas e recebam José Godoy e
Luiz Gustavo Medina, os verdadeiros galãs desse programa. Alô Suécia, alô
Holanda, alô França e Inglaterra, Porto Seguro, Macapá e Santarém. Seja
bem-vindo ao nosso palco o ídolo, o mito, a lenda Guilherme Arantes.
Autógrafos, beijos e tudo mais daqui a pouco", disse Stulbach ao abrir o "Fim
de Expediente" com plateia ao vivo, na sexta-feira da semana passada.
"Não existe lugar melhor do que o meu: a 60 centímetros de Guilherme
Arantes, o mito", falava Medina. Stulbach esquentava o programa:
"Você já namorou ao som de Guilherme Arantes? Medina lembrou a música
"Um Dia um Adeus". E cantou: "Eu indo embora, quanta loucura,
por tão pouca aventura". A conversa bem-humorada, como se o ouvinte
conhecesse Guilherme Arantes há anos (e talvez de fato o conheça), remete ao
rádio "companheiro", que põe a audiência de fato ali, sentada ao lado
do apresentador.
Na última década, o Grupo Bandeirantes também vem
tentando "revolucionar" o negócio rádio a sua maneira. Em 2005, criou
a Band News FM, que concorre diretamente com a CBN com notícias 24 horas. Pela
manhã, tradicionalmente o período em que ocorre o pico de audiência no rádio no
país, um de seus principais âncoras, Ricardo Boechat, disputa audiência com
Jung. Um ano depois, lançou a SulAmérica Trânsito, no ar apenas em São Paulo,
mas com estudos para expandir para cidades como Rio e Salvador. No ano passado,
criou a Bradesco Esportes, rádio exclusiva de esportes, de olho no público da
Copa do Mundo e da Olimpíada, e mostrando sua aposta em rádios customizadas em
que há uma empresa parceira como patrocinadora. "Se você não olhar para o
futuro, vai ser atropelado", diz Mário Baccei, vice-presidente de Rádio no
Grupo Bandeirantes.
As rádios customizadas surgem como uma saída que
remete aos clássicos programas patrocinados (o mítico "Repórter Esso"
foi o mais famoso). A diferença é que toda a programação agora tem um
patrocinador para financiá-la. O grupo faz contrato de cinco anos renováveis
com a empresa interessada na "temática" da rádio e faz menção ao
investidor ao longo da programação. Em troca, os contratos garantem restrições
à propaganda de concorrentes.
Na programação em geral, uma tendência é clara:
parte das FMs tenta dialogar com a origem mais falada do rádio. A retomada
começou a fazer mais sentido depois que o esquema adotado por gravadoras e
algumas emissoras de tocar músicas e receber "jabás" entrou em
decadência - efeito colateral da crise da indústria fonográfica, dilacerada
pela era digital. Nesse contexto, encerrou-se também a entrada de recursos
extras no caixa dessas emissoras.
Gimenez,
da rádio SulAmérica: recorde de mensagens em dias de chuva
Na corrida pelo novo ouvinte, o humor tem sido uma
espécie de novo aliado. "Se no passado foi no teatro de revista, nos anos
2000, momento em que as rádios não podem só ficar tocando música, vão buscar o
que falar [especialmente aos jovens] também no sucesso do 'stand up comedy'
ligeiro, politicamente incorreto", afirma Elias Santos, pesquisador da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Mas tem funcionado muito
numa camada mais popular."
Na Band News FM, a aposta envolve o colunista da
"Folha de S.Paulo" José Simão e o jornal "Saca-Rolha", que
dão tratamento bem-humorado às informações. Definido como "um jornal ao
contrário", o "Saca-Rolha" leva ao rádio um noticiário
"fake", montado com piadas baseadas em acontecimentos recentes.
"São notícias de uma forma que a molecada gosta", diz Baccei.
"Buemba, Buemba" é o sinal de entrada de
Simão no meio da programação. Em um tête-à-tête, Boechat perguntava ao
colunista na terça-feira: como é o "tiro de largada de corrida no Complexo
do Alemão?" E ele respondia: "Paparapapapa", satirizando o fato
de que um tiroteio no Complexo do Alemão havia atrasado a largada do Desafio da
Paz, no Rio.
"Algumas emissoras têm feito um trabalho mais
sério para reconhecer o novo ouvinte. E há as que atiram para todo o lado:
alguém disse a elas que mídia social é o lance. Tem emissora que não consegue
dar o sinal na rede e não faz parte da estratégia um conhecimento real do
público", diz Bufarah.
Caetano Veloso escreveu em sua coluna no jornal
"O Globo", no domingo, sobre sua relação com o rádio. Passeando por
diversas estações, o cantor e compositor fez descobertas que retratam parte dos
novos tempos. "No rádio do carro ouço o que pinta, dentro do que, em
parte, procuro", escreveu. "Ouço na MPB FM Seu Jorge cantando
divinamente um samba de andamento médio em que um surdo sobrenatural comenta
toda a história de tristeza e superação que marca o gênero. Como é tarde, a
emissora não dá os créditos". Continua ele: "Ouço funk no rádio do
carro com o meu filho mais novo. Ele gosta. Tem 16 anos. O fascínio cresce pelo
fato (em princípios às vezes irritante para mim) de não serem gravações que vou
encontrar em discos na livraria mais próxima da zona zul, cuja comercialização
não é como a tradicional".
Em meio a essa metamorfose do rádio, por enquanto,
as emissoras que tocam músicas lideram as preferências (92% dos ouvintes). E,
especialmente, as rádios populares românticas têm se dado melhor, pelo menos em
termos de audiência. A rádio Transcontinental, baseada em sertanejo e pagode, é
a líder nas pesquisas de audiência na Grande São Paulo, seguida por Band FM e
Nativa, todas com perfil mais popular. Modelo do sucesso? Em algumas, o que
"bomba" nas redes sociais vira parte da programação. "Será que o
mundo dos políticos, dos jogadores de futebol, das celebridades é o mundo que o
povo quer ouvir ou o que ele vive? Será que ele não está mais preocupado com o
mundo da escola, do trabalho? As emissoras populares transmitem música que fala
de amor, que fala da dureza da vida, e aquilo traduz a vida do ouvinte. São
questões ligadas ao dia a dia dele e que ele compreende", afirma Luciano
Maluly, da Escola de Comunicações e Artes da USP, que credita a essa intimidade
o sucesso desse tipo de rádio.
Outra vantagem das rádios românticas é que atingem
um perfil com mais de 40 anos, uma geração razoavelmente habituada a ouvir
rádio tradicional. Não dependem do público jovem como ocorre com as rádios mais
pop/rock. "Essas rádios ainda conseguem ter sua audiência, mas, com o
passar do tempo, esse público também vai ser perdido. O jovem é o primeiro a
embarcar na novidade [rádio pela internet], mas, o foco vai se
expandindo", revela Marcelo Braga, diretor da web rádio Coca-Cola FM e
ex-diretor da Mix FM. "Tanto em Los Angeles quanto em Nova York, as rádios
jovens, que dominaram a audiência nos últimos 20 anos, caíram muito nos últimos
três anos, segundo pesquisa da Arbitron. Quem era primeiro virou sétimo
lugar."
Mas será que o braço internet vai engolir o braço
tradicional dos veículos no Brasil? "Essa é a pergunta de US$ 1 milhão.
Todo mundo quer saber quando, para poder correr muito e garantir seu lugar ao
sol", diz Mariza. Para Santos, da UFMG, as transformações não indicam que
o rádio [tradicional] vai morrer. "O importante é pensar que os
dispositivos midiáticos convivem. Não falo de convergência, mas de convivência.
Eles se mantêm e um influencia o outro. Quando um novo surge, obrigatoriamente
transforma o outro. É interessante pensar nessa movimentação. Deixa menos
catastróficas as profecias. Estamos numa transição."
Leia mais em:
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