segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Pode-se trocar o nome de um candidato pelo de outro sem se notar a troca e os programas são uma repetição dos de eleições anteriores.

Originalmente publicado no Blog da Jornalista Cileide Alves – Sexta, 02/09/2016

 

As propagandas eleitorais dos candidatos a prefeito de Goiânia no rádio e na TV estão muito parecidas. Guardadas as raras exceções, pode-se trocar o nome de um candidato pelo de outro sem se notar a troca. Os programas são também uma repetição dos de eleições anteriores.
Qual é esse modelo? Jingle com o ritmo da moda, imagens do candidato sorridente, andando pela cidade; depoimentos de cidadãos comuns para reclamar da qualidade dos serviços públicos; belas imagens de Goiânia, seguida da defesa de que ela precisa de um gestor de qualidade (que obviamente é o candidato que fala). Por fim discursos vagos sobre temas que afligem a população, como serviços de saúde, educação e, agora, até mesmo a segurança pública, uma obrigação constitucional do Estado. Gasta-se muito tempo com o diagnóstico e pouquíssimo com a solução.
O expectador-eleitor tem uma sensação de anacronismo, isto é, sente que o tempo histórico das propagandas de hoje pertence a outro tempo histórico, anterior aos anos de turbulência vividos pelo Brasil. Explico.
Um terremoto, com dezenas de réplicas, abalou a estrutura da política nacional. Abriram-se crateras profundas na ação política tradicional, expondo aos eleitores e à população em geral as mazelas do sistema político-eleitoral. O caixa 2 financiado por recursos oriundos de corrupção tornou-se de todos conhecidos. As negociatas envolvidas na eleição para qualquer cargo público pioraram a já difícil relação entre a sociedade e seus representantes públicos.
No tempo atual, o olhar para os políticos mudou. Impossível ouvir seus discursos e assistir à propaganda eleitoral gratuita desta campanha municipal com o mesmo olhar de antes. Mas os programas que estão no ar não mudaram para acompanhar esse novo olhar. Repetem-se as mesmas estratégias de marketing. Os programas estão enfadonhos.
Pesquisa Grupom/Rádio 730, divulgada nesta quinta-feira (1º), perguntou aos entrevistados quais são os três maiores problemas de Goiânia e solicitou que fossem indicados pela ordem de importância. O atendimento à saúde foi o primeiríssimo colocado, com 89,4% das indicações. Em segundo lugar, a segurança pública, com 72,5% das indicações e, em terceiro, o transporte coletivo, este apareceu com 43,4%. Seguem na lista, em ordem decrescente, desemprego, falta de vagas nas creches, coleta de lixo e trânsito e mobilidade urbana.
Ao serem questionados sobre quem é o responsável pela solução dos problemas da saúde, 45,7% indicaram o prefeito Paulo Garcia e 46,6%, o governador Marconi Perillo. Em relação à segurança pública, 43,4% disseram que a responsabilidade é do prefeito e 48,5%, do governador. Acertaram no primeiro caso, pois saúde é uma atribuição tanto do município (responsável pelo atendimento básico) quanto pelo Estado (que cuida dos grandes hospitais), mas erraram no segundo, pois segurança pública é atribuição do Estado.
A divisão das responsabilidades entre Estado e município indica que o eleitor quer respostas do poder público, sejam elas vindas do município ou do Estado. A consequência é que prefeito e governador foram mal avaliados pelos entrevistados convidados a dar uma nota média de 1 a 10 para cada gestor na solução dos dois problemas. No atendimento à saúde, Paulo Garcia recebeu a nota de 3,3 e Marconi Perillo, 4,0. Na gestão da segurança pública, Marconi teve nota 3,9 e Paulo, 3,3.
O eleitor goianiense está, mais uma vez, expressando nesses dados sua impaciência com esses serviços de altíssima relevância para sua vida. Apesar disso, os candidatos optam pelas mesmas respostas de sempre. Há quem siga o caminho mais fácil, o do populismo, no sentido de propor aquilo que o povo quer ouvir, mesmo que a proposta seja impraticável ou que vai gerar problemas futuros.
A promessa de tornar a Guarda Municipal uma Polícia Municipal, do delegado Waldir Soares (PR), é um bom exemplo de populismo. A lei 13.022/2004 regulamenta as normas gerais da Guarda Municipal e não consta entre elas a sua transformação em polícia. Também não há por parte do candidato apresentação de proposta com lastro no orçamento municipal, como é o caso de sua promessa de comprar camionetes, motos e armamento para os guardas. Para ele, dinheiro há, mas está desviado para a corrupção. São soluções simplistas para problemas complexos.
O programa de Vanderlan Cardoso (PSB) lembra os programas eleitorais do governador Marconi Perillo. Um jingle que gruda na cabeça e nomes pomposos para projetos criados pelo marketing. Assim nasceu na campanha eleitoral de Marconi em 2010 o Credeq, um centro para atendimento de casos extremos de dependentes químicos.
Construído em Aparecida de Goiânia e inaugurado em julho, o Credec custou R$ 29,5 milhões com capacidade de internação de 96 pessoas. Além de seu custo/benefício ser questionável, também recebe críticas por ter sido pensado para internação do dependente, método condenado pela reforma psiquiátrica implantada por meio de lei federal em 2001. A proposta de Credeq não foi discutida com a sociedade, mas ele foi construído e parcialmente implantado para cumprimento de promessa eleitoral.
Nessa linha, Vanderlan apresenta quatro projetos com nomes pomposos. Criação de oito Unidades Administrativas Regionais, ou seja, as subprefeituras que já existem em lei municipal; criação de polos industriais, da Rede Digital de Segurança e do Projeto Crescer Goiânia, para possibilitar acesso ao crédito para micro e pequenas empresas.
O candidato Iris Rezende (PMDB) que já administrou Goiânia por três vezes dá-se ao luxo de falar obviedades sobre as questões de educação, saúde e transporte público, entre outros, sem indicar caminhos claros que seguirá em caso de se eleger pela quarta vez.
A delegada Adriana Accorsi (PT) escondeu o PT, o vermelho e o prefeito Paulo Garcia de sua propaganda eleitoral e promete se espelhar em seu pai, Darci Accorsi, que foi prefeito entre 1993–1994. Curiosa essa escolha, pois Darci nunca mais se elegeu depois desse mandato, nem a deputado estadual nem nas duas eleições para prefeito que disputou em 2000 e em 2004. O deputado estadual Francisco Júnior (PSD) repete o bordão “esse é meu jeito de fazer política”, sem que se saiba ao certo o que isso significa.
Depois de acompanhar os candidatos a prefeito, suas andanças e suas retóricas, cabe uma pergunta óbvia: o que eles propõem efetivamente para enfrentar os graves problemas de saúde e transporte público, indicados pelos entrevistados na pesquisa Grupom/Rádio 730 como o primeiro e o terceiro colocados na lista dos maiores problemas de Goiânia? (Excluí segurança pública, o segundo colocado, por não ser atribuição do prefeito.) E com o orçamento atual da Prefeitura, com receita em queda, despesas em alta e crise fiscal.
Em Tempo: O jornal Valor Econômico publicou nesta sexta-feira (2) pesquisa do Instituto Ipsos que avalia 22 figuras públicas conhecidas do Brasil. Todos foram desaprovados. O mais impopular é Eduardo Cunha; o segundo lugar coube a Dilma Rousseff e o terceiro ao presidente Michel Temer. Esse é o olhar do eleitor para os políticos em geral.
Cileide Alves é jornalista especializada em Política

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