Pode-se trocar o nome de um candidato pelo de outro sem se notar a troca e os programas são uma repetição dos de eleições anteriores.
Originalmente publicado no Blog da Jornalista Cileide Alves – Sexta, 02/09/2016
As propagandas eleitorais dos candidatos a prefeito de Goiânia no rádio e na TV estão muito parecidas. Guardadas as raras exceções, pode-se trocar o nome de um candidato pelo de outro sem se notar a troca. Os programas são também uma repetição dos de eleições anteriores.
Qual é esse modelo? Jingle com o
ritmo da moda, imagens do candidato sorridente, andando pela cidade;
depoimentos de cidadãos comuns para reclamar da qualidade dos serviços
públicos; belas imagens de Goiânia, seguida da defesa de que ela precisa
de um gestor de qualidade (que obviamente é o candidato que fala). Por
fim discursos vagos sobre temas que afligem a população, como serviços
de saúde, educação e, agora, até mesmo a segurança pública, uma
obrigação constitucional do Estado. Gasta-se muito tempo com o
diagnóstico e pouquíssimo com a solução.
O expectador-eleitor tem uma
sensação de anacronismo, isto é, sente que o tempo histórico das
propagandas de hoje pertence a outro tempo histórico, anterior aos anos
de turbulência vividos pelo Brasil. Explico.
Um terremoto, com dezenas de réplicas,
abalou a estrutura da política nacional. Abriram-se crateras profundas
na ação política tradicional, expondo aos eleitores e à população em
geral as mazelas do sistema político-eleitoral. O caixa 2 financiado por
recursos oriundos de corrupção tornou-se de todos conhecidos. As
negociatas envolvidas na eleição para qualquer cargo público pioraram a
já difícil relação entre a sociedade e seus representantes públicos.
No tempo atual, o olhar para os
políticos mudou. Impossível ouvir seus discursos e assistir à
propaganda eleitoral gratuita desta campanha municipal com o mesmo olhar
de antes. Mas os programas que estão no ar não mudaram para acompanhar
esse novo olhar. Repetem-se as mesmas estratégias de marketing. Os
programas estão enfadonhos.
Pesquisa Grupom/Rádio 730,
divulgada nesta quinta-feira (1º), perguntou aos entrevistados quais
são os três maiores problemas de Goiânia e solicitou que fossem
indicados pela ordem de importância. O atendimento à saúde foi o
primeiríssimo colocado, com 89,4% das indicações. Em segundo lugar, a
segurança pública, com 72,5% das indicações e, em terceiro, o transporte
coletivo, este apareceu com 43,4%. Seguem na lista, em ordem
decrescente, desemprego, falta de vagas nas creches, coleta de lixo e
trânsito e mobilidade urbana.
Ao serem questionados sobre
quem é o responsável pela solução dos problemas da saúde, 45,7%
indicaram o prefeito Paulo Garcia e 46,6%, o governador Marconi Perillo.
Em relação à segurança pública, 43,4% disseram que a responsabilidade é
do prefeito e 48,5%, do governador. Acertaram no primeiro caso, pois
saúde é uma atribuição tanto do município (responsável pelo atendimento
básico) quanto pelo Estado (que cuida dos grandes hospitais), mas
erraram no segundo, pois segurança pública é atribuição do Estado.
A divisão das responsabilidades
entre Estado e município indica que o eleitor quer respostas do poder
público, sejam elas vindas do município ou do Estado. A consequência é
que prefeito e governador foram mal avaliados pelos entrevistados
convidados a dar uma nota média de 1 a 10 para cada gestor na solução
dos dois problemas. No atendimento à saúde, Paulo Garcia recebeu a nota
de 3,3 e Marconi Perillo, 4,0. Na gestão da segurança pública, Marconi
teve nota 3,9 e Paulo, 3,3.
O eleitor goianiense está, mais
uma vez, expressando nesses dados sua impaciência com esses serviços de
altíssima relevância para sua vida. Apesar disso, os candidatos optam
pelas mesmas respostas de sempre. Há quem siga o caminho mais fácil, o
do populismo, no sentido de propor aquilo que o povo quer ouvir, mesmo
que a proposta seja impraticável ou que vai gerar problemas futuros.
A promessa de tornar a Guarda
Municipal uma Polícia Municipal, do delegado Waldir Soares (PR), é um
bom exemplo de populismo. A lei 13.022/2004 regulamenta as normas gerais
da Guarda Municipal e não consta entre elas a sua transformação em
polícia. Também não há por parte do candidato apresentação de proposta
com lastro no orçamento municipal, como é o caso de sua promessa de
comprar camionetes, motos e armamento para os guardas. Para ele,
dinheiro há, mas está desviado para a corrupção. São soluções simplistas
para problemas complexos.
O programa de Vanderlan Cardoso
(PSB) lembra os programas eleitorais do governador Marconi Perillo. Um
jingle que gruda na cabeça e nomes pomposos para projetos criados pelo
marketing. Assim nasceu na campanha eleitoral de Marconi em 2010 o
Credeq, um centro para atendimento de casos extremos de dependentes
químicos.
Construído em Aparecida de
Goiânia e inaugurado em julho, o Credec custou R$ 29,5 milhões com
capacidade de internação de 96 pessoas. Além de seu custo/benefício ser
questionável, também recebe críticas por ter sido pensado para
internação do dependente, método condenado pela reforma psiquiátrica
implantada por meio de lei federal em 2001. A proposta de Credeq não foi
discutida com a sociedade, mas ele foi construído e parcialmente
implantado para cumprimento de promessa eleitoral.
Nessa linha, Vanderlan
apresenta quatro projetos com nomes pomposos. Criação de oito Unidades
Administrativas Regionais, ou seja, as subprefeituras que já existem em
lei municipal; criação de polos industriais, da Rede Digital de
Segurança e do Projeto Crescer Goiânia, para possibilitar acesso ao
crédito para micro e pequenas empresas.
O candidato Iris Rezende (PMDB)
que já administrou Goiânia por três vezes dá-se ao luxo de falar
obviedades sobre as questões de educação, saúde e transporte público,
entre outros, sem indicar caminhos claros que seguirá em caso de se
eleger pela quarta vez.
A delegada Adriana Accorsi (PT)
escondeu o PT, o vermelho e o prefeito Paulo Garcia de sua propaganda
eleitoral e promete se espelhar em seu pai, Darci Accorsi, que foi
prefeito entre 1993–1994. Curiosa essa escolha, pois Darci nunca mais se
elegeu depois desse mandato, nem a deputado estadual nem nas duas
eleições para prefeito que disputou em 2000 e em 2004. O deputado
estadual Francisco Júnior (PSD) repete o bordão “esse é meu jeito de
fazer política”, sem que se saiba ao certo o que isso significa.
Depois de acompanhar os
candidatos a prefeito, suas andanças e suas retóricas, cabe uma pergunta
óbvia: o que eles propõem efetivamente para enfrentar os graves
problemas de saúde e transporte público, indicados pelos entrevistados
na pesquisa Grupom/Rádio 730 como o primeiro e o
terceiro colocados na lista dos maiores problemas de Goiânia? (Excluí
segurança pública, o segundo colocado, por não ser atribuição do
prefeito.) E com o orçamento atual da Prefeitura, com receita em queda,
despesas em alta e crise fiscal.
Em Tempo: O jornal Valor
Econômico publicou nesta sexta-feira (2) pesquisa do Instituto Ipsos que
avalia 22 figuras públicas conhecidas do Brasil. Todos foram
desaprovados. O mais impopular é Eduardo Cunha; o segundo lugar coube a
Dilma Rousseff e o terceiro ao presidente Michel Temer. Esse é o olhar
do eleitor para os políticos em geral.
Cileide Alves é jornalista especializada em Política
Leia mais em: http://diariodegoias.com.br/opiniao/29855-candidatos-a-prefeito-fazem-programas-evasivos-e-enfadonhos
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