O mês de Fevereiro marcou o início das pesquisas para a
corrida eleitoral de 2014, tanto em Goiás quanto no restante do Brasil. Qual a
real importância de se saber, com tanto tempo até as eleições de Outubro, dos
resultados das pesquisas? Até que ponto os resultados de pesquisa apresentados,
muitas vezes através de números e gráficos, são capazes de esclarecer? Trata-se
apenas de uma curiosidade momentânea ou aqueles dados podem ser convertidos em
informação estratégica? Veremos a seguir alguns destes questionamentos.
As pesquisas políticas de intenção de voto apresentadas
corriqueiramente na mídia são feitas quantitativamente, ou seja, são adotados
critérios estatísticos para “medir” determinadas opiniões, visões e
características da sociedade. Assim, a pesquisa cumpre o papel de definir, a
partir de parâmetros estabelecidos, a presença de determinados extratos na
sociedade, bem como mensurar determinadas preferências do eleitor.
Para se chegar aos resultados apresentados na mídia os dados
devem antes ser coletados. As formas mais comuns são através de entrevistas
presenciais ou por telefone. A etapa seguinte diz respeito ao tratamento dos
dados, ou seja, a junção dos dados obtidos de forma a totalizar a amostra
estabelecida e posterior apresentação e análise dos dados.
A apresentação dos resultados de uma pesquisa pode parecer,
num primeiro momento, como o ponto de término da pesquisa. Diferentemente, é
neste momento que se inicia a etapa mais importante de uma pesquisa,
transformar os dados coletados em informações úteis aos possíveis interessados,
sejam os atores políticos envolvidos ou os próprios eleitores. Existirá sempre
o componente de curiosidade, saber quem está na frente, qual nome tem melhor
aprovação, qual o candidato mais rejeitado, mas existem outras informações
valiosas que podem ser extraídas de uma pesquisa.
Os resultados de uma pesquisa de intenção de votos não são
definitivos, mas apenas um retrato estatisticamente fidedigno do momento. A
partir desse cenário caracterizado na pesquisa é possível identificar as
demandas dos eleitores, suas preferências e insatisfações, bem como as lacunas
nas ações dos candidatos. Uma pesquisa permite, assim, perceber alguns pontos
fortes e fracos dos candidatos. Os números em si não dirão muito, são as ações
posteriores à divulgação dos resultados que poderão mudar. Uma pesquisa pode
identificar um caminho a ser seguido, mas os interessados precisam primeiro
enxergar este possível caminho, e a partir disto decidir seguir este caminho ou
não.
O ferramental analítico e estratégico fornecido por uma
pesquisa permite definir os próximos passos a se tomar. Apesar de não garantir
que possíveis ações futuras sejam eficazes, as pesquisas fornecem uma direção
segura a ser tomada. O grande óbice aí encontrado reside exatamente na dificuldade
de se enxergar tal caminho. Para aqueles não versados em leitura de dados a
dificuldade de enxergar direções apontadas é maior, e para não se incorrer em
erros de julgamento comuns é preciso um estudo criterioso dos resultados.
Ademais, as equipes de assessoramento dos candidatos têm esta incumbência:
enxergar os caminhos e diretrizes sugeridas pelas pesquisas e definir a melhor
forma de se seguir nesta direção.
A vida útil de uma pesquisa em ano eleitoral é curta, o
cenário está em constante mudança. Entretanto, apenas um acompanhamento
contínuo dos acontecimentos e tendências do eleitorado permitirá acompanhar a
direção destas tendências e se as medidas adotadas surtiram o efeito desejado.
Isto só é possível através de novas pesquisas.
Informação estratégica
Apesar da intenção de votos ser amplamente divulgada neste
período, esta informação não é a mais importante neste período de pré-campanha.
É relevante neste momento para atrair financiamentos, preparar, consolidar e
estimular a base política de apoio e principalmente permitir a construção de
acordos eleitorais para o aumento do tempo de campanha. Estrategicamente,
entretanto, existem outras informações mais úteis, notadamente os índices de
avaliação das atuais administrações e o desempenho dos atuais governadores e
presidente, principalmente quando se busca a reeleição.
Para aqueles que buscam a reeleição é fundamental ter
índices de avaliação elevados para não fomentar sentimentos de mudança no
eleitorado. Caso os índices de aprovação apresentem resultados desfavoráveis
ainda será possível tentar melhorá-los antes da corrida eleitoral propriamente
dita, uma vez que ainda há tempo para se reverter tendências negativas.Para a
oposição, por outro lado, é o momento de se aproveitar de uma insatisfação,
seja ela momentânea ou duradoura, e explorar este sentimento do eleitorado,
demonstrar que a mudança será melhor que a continuidade.
As pesquisas publicadas nacionalmente, bem como as pesquisas
GRUPOM/Tribuna do Planalto, até o momento demonstram que o eleitorado não está
plenamente satisfeito com a administração de Dilma Rousseff, com aprovação
muitas vezes igual ou inferior a 50%. É um número alarmante para quem busca a
reeleição, momento dos estrategistas do governo federal agirem e tentarem
demonstrar para o eleitor que a mudança no cenário nacional não será positiva e
a melhor opção é a reeleição de Dilma.
Cenário em Goiás
A avaliação positiva da administração do governador Marconi
Perillo nas cidades de Rio Verde, Aparecida de Goiânia e Anápolis também se
aproxima de 50%, de acordo com as pesquisas GRUPOM/Tribuna do Planalto. Alguns
especialistas em marketing político costumam apontar que 40% de aprovação é o
número limite para aqueles que buscam a reeleição. Há ainda alguns estudiosos que
consideram o índice de aprovação próximo a 60% o nível seguro para se disputar
a reeleição. No caso de Aparecida de Goiânia e Anápolis a aprovação está
próxima a este limite de 40% na interpretação mais tolerante e flexível dos
especialistas. A gestão de Marconi Perillo frente ao Governo de Goiás precisa
melhorar caso o governador tenha pretensões de disputar a reeleição sem correr
o risco de ser engolido pelo sentimento de mudança que paira em Goiás.
O cenário eleitoral atual em Goiás apresenta dois nomes
conhecidos e três nomes desconhecidos do eleitorado. A comparação de intenção
de votos, num quadro como este, demonstra-se demasiadamente superficial e
transitória. A preocupação agora não é com intenção de votos, como aponta a
história recente das eleições goianas, em que nomes desconhecidos e com baixa
intenção de votos no início do período eleitoral despontaram como favoritos e
venceram suas eleições para Governador. O foco estratégico da interpretação e
uso das pesquisas neste momento demanda que se enxergue e dimensione os
sentimentos de mudança ou continuidade de forma a tentar potencializá-los a
favor dos interessados. Ainda há tempo para agir, mas é preciso informação
estratégica para saber como fazê-lo, e apenas pesquisas periódicas e leituras
criteriosas do cenário conseguirão atender a essa demanda por informação, de
forma a entender se hoje o eleitorado quer renovação, continuidade ou está
apenas cansado.Pesquisa também é marketing, mas agora é o momento de se pensar
e agir estrategicamente.
Leandro
Rodrigues (leandro.rodrigues@grupom.com.br)
é doutor em Ciência Política, pesquisador da UnB e analista de política da
Grupom
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