terça-feira, 30 de julho de 2013

Um fetiche acompanha os protestos


Por Alberto Carlos Almeida

É comovente ver milhares de brasileiros, se não milhões, nutrindo a crença de que a recente onda de protestos vai mudar tudo. Muitos afirmam que passaram a se orgulhar do Brasil exatamente por causa dos protestos. Dizem que, antes das manifestações, se deparavam com um país de pessoas acomodadas e que agora tudo será diferente. O brasileiro mostrou que tem capacidade de expressar sua indignação contra políticos que exploram a população, que cobram impostos elevados, roubam, não vão presos e oferecem serviços públicos de baixíssima qualidade. Há a crença de que as manifestações e os protestos, ao pressionarem os políticos, terão o poder de alterar esse estado de coisas.

Nada mais clássico em termos de protestos populares que supostamente resultaram em mudanças do que a Revolução Francesa. Os fetichistas das manifestações têm por obrigação, a partir de agora, prestar reverência a toda e qualquer revolução, em particular àquela que derrubou o feudalismo e escancarou as portas da sociedade burguesa. As revoluções são, por definição, o ápice dos protestos populares que resultam em mudanças rápidas.





Contudo, os fetichistas do povo nas ruas esquecem que o que a Revolução Francesa fez também foi feito por todos os demais países europeus sem revolução alguma. A grande obra, se não única, da Revolução Francesa foi a abolição das instituições feudais. Isso também foi feito pela Grã-Bretanha, Portugal, Espanha e Alemanha sem que tivesse sido necessária qualquer revolução. O ímpeto dos revolucionários franceses não modificou (até hoje é assim) várias instituições, como é o caso da centralização política e administrativa do país. Além disso, não muito tempo depois da Revolução Francesa, veio a Restauração, quando várias instituições do Antigo Regime voltaram à cena.

O que a Revolução Francesa fez teria ocorrido de qualquer maneira, com ou sem revolução. Talvez o processo de mudança tivesse sido um pouco mais lento, mas teria sido feito a passos firmes, sem retrocesso e, o que é mais importante, sem o sacrifício de milhares de vidas e sem o risco de abolir instituições que já vinham funcionando há décadas e séculos. Os britânicos seguiram caminho alternativo: em vez de revolucionarem suas instituições, acabaram buscando reformá-las incrementalmente. Não por acaso, desenvolveram as duas instituições que comandam o mundo moderno, a democracia parlamentar e a economia de mercado.

Revoluções tendem a ser inúteis. Em geral, causam milhares de mortes, muitas vezes milhões, e instauram regimes que frequentemente são abolidos depois de anos, como foram os casos da Rússia e da China, e como serão muitos outros casos. Protestos e manifestações são versões mitigadas das revoluções.

Em qualquer onda de protestos, a turba que vai às ruas é absolutamente desinformada das minúcias e tecnicalidades que envolvem as decisões políticas. No caso do Brasil, as ruas têm sido ocupadas por jovens que têm pouca ou nenhuma experiência de vida, sequer são capazes de se sustentar economicamente. São pessoas completamente ignorantes de como se toca uma empresa, um negócio ou a administração pública. Ainda assim, têm o direito - isso é a democracia - de exigir mudanças imediatas da situação atual. Todavia, uma coisa é ter o direito de se manifestar; outra é se sentir no direito de ter suas reivindicações atendidas com rapidez. Temos um ditado que expressa bem a cautela que devemos ter quando se trata de mudanças: calma, que o buraco é mais embaixo.

O efeito imediato das manifestações foi uma herança fiscal maldita. Compreensivelmente, prefeitos e governadores decidiram não conceder aumentos para as passagens de transporte público. É óbvio que o recurso que não virá da majoração de preços terá que vir de algum outro lugar: impostos mais elevados, redução de recursos para outras áreas, como saúde e educação. O governo do Estado de São Paulo decidiu não aumentar o preço dos pedágios. Se tivesse feito isso, é bem provável que a turba de manifestantes desinformada destruísse todas as praças de pedágio do Estado. O resultado, todos sabemos: as concessionárias das estradas tiveram sua remuneração aumentada, o contrato foi cumprido neste aspecto, mas às custas de recursos orçamentários que deixarão de ir para outras áreas de atuação do governo. Alguém tem que pagar a conta, isso é algo que os manifestantes ignoram completamente.

Eis a fantástica herança deixada até agora pelas manifestações: uma restrição fiscal que só será resolvida, se realmente for, depois de muitos anos. A situação ficará ainda mais grave porque os governantes, com medo de novos protestos, dificilmente concederão aumento das passagens no ano eleitoral de 2014. Os manifestantes estão obrigando seus representantes a criar um problema cuja conta será paga nos anos seguintes.

A coisa pode piorar ainda mais. Os manifestantes são contra deputados e senadores terem direito ao voto secreto em algumas decisões parlamentares. Ignoram, porém, que o voto secreto é desejável em várias situações, nas quais, se o voto fosse aberto, os parlamentares seriam pressionados indevidamente pelo Poder Executivo. Esse é o caso da escolha do presidente do Banco Central e de diretores de agências reguladoras. Suponhamos que a pressão dos manifestantes seja inteiramente admitida por senadores e deputados. Se isso for feito, vamos piorar nossas instituições políticas. Afinal, como afirmado anteriormente, a turba que vai às ruas ignora completamente os detalhes da administração pública. Mais grave ainda, ignora inteiramente que as instituições que existem são assim justamente porque têm acumulado em seu interior um saber prático, muitas vezes secular. Abolir esse edifício de um momento para outro pode resultar mais em prejuízos do que em benefícios.

Alguns podem argumentar que as manifestações resultaram na imediata votação e rejeição da indesejável PEC 37, que retirava poder de investigação do Ministério Público. O contra-argumento é simples. Talvez a PEC 37 tivesse sido rejeitada mesmo sem os protestos. Jamais saberemos. O que sabemos é o preço fiscal pago para acelerar uma decisão que poderia ter sido a mesma.

As mudanças que nossos manifestantes pleiteiam já vêm ocorrendo há décadas. Eles não sabem disso. Falta-lhes qualquer tipo de sofisticação intelectual para compreender e ver que não se muda um país da noite para o dia e que coisas como o combate à corrupção e melhoria dos serviços públicos levam décadas. Anos atrás, a educação pública era elitizada. Aqueles que eram treinados pela escola pública, como no Colégio Pedro II, no Rio, faziam isso às custas de milhões de pessoas que habitavam as áreas rurais do país e que nunca entraram em uma sala de aula. O ensino básico foi universalizado, e isso foi um grande avanço. Depois, vieram programas para diminuir a evasão do ensino médio e para ampliar o acesso ao ensino superior.

O Brasil melhorou nos últimos 20 anos, na saúde, na educação, na infraestrutura, em todas as áreas. Talvez o ritmo tenha sido maior em umas áreas e menor em outras. Pode ser que não tenha melhorado tanto quanto o desejável. Melhorou, porém, e continuará melhorando. Contudo, os manifestantes não valorizam isso. Eles transformaram o Brasil em "tabula rasa" do fracasso e da inépcia, como se eles próprios também fossem incapazes de pressionar por melhoras. Pobre destino de um país que se torna refém de manifestantes.
Manifestações, protestos e até mesmo o vandalismo fazem parte da democracia. São salutares (até mesmo o vandalismo) como instrumento de pressão. Todavia, uma elite política acovardada, medrosa e apavorada diante disso em nada contribuirá para que continuemos a aperfeiçoar nossas instituições.

Aliás, quanto a isso, é estarrecedora a irresponsabilidade de um segmento da elite ao apoiar as manifestações sob o argumento velado de que podem levar o PT a ser derrotado nas eleições de 2014. Suponhamos que isso venha a ocorrer e que a candidata vencedora seja aquela que melhor encarna o espírito das ruas, Marina Silva. Terá sido uma mudança impressionante, graças ao poder das ruas. Mas será que isso é verdade, de fato? Claro que não. Marina terá que governar com o apoio de todos os partidos de centro, dentre os quais o velho PMDB. Isso significa que peemedebistas de grosso calibre político vão ocupar ministérios de seu governo supostamente de mudança e de renovação.

A agenda dos manifestantes e dessa fatia irresponsável da elite esbarra em nossas instituições, esbarra em nada mais nada menos que no Brasil. O PMDB é fruto do Brasil, o presidencialismo de coalizão expressa nossa cultura, nosso jeito de ser. Será impressionante ver Marina, neófita em assuntos do Poder Executivo e sem pertencer a um partido grande e sólido, nas mãos dos mais capazes caciques políticos de nossos partidos políticos. Duvido que isso resulte em renovação de verdade.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de "A Cabeça do Brasileiro".
alberto.almeida@institutoanalise.com 
 www.twitter.com/albertocalmeida

domingo, 14 de julho de 2013

Nobrezas tipicamente brasileiras



Por Alberto Carlos Almeida


Os políticos brasileiros trabalham e residem em palácios. Há palácios para todos os gostos: Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada, Palácio dos Bandeirantes, Palácio Guanabara, Palácio Laranjeiras, Palácio da Liberdade, Palácio das Mangabeiras, Palácio Piratini, Palácio Iguaçu, Palácio de Ondina, Palácio do Campo das Princesas, Palácio da Abolição, Palácio das Esmeraldas e outros tantos palácios. Não é mero acaso o fato de as sedes de governos no Brasil serem denominadas palácios. Aliás, esse fato tem relação, por exemplo, com a utilização de aviões da FAB para transporte de autoridades, em particular quando se trata de um evento importante como a final da Copa das Confederações.

Além de residir e trabalhar em palácios quando investidos de seus cargos, nossos políticos também mantêm o tratamento pelo nome do cargo quando deixam o mandato. Não há no Brasil ex-governadores, ex-prefeitos ou ex-presidentes. Todos que uma vez foram governadores, prefeitos ou presidentes continuam a ser tratados por essas respectivas denominações, mesmo quando não mais se encontram no Poder Executivo. O mesmo ocorre com ministros, deputados e senadores. O cargo ocupado torna-se uma espécie de título de nobreza que carregam para o resto da vida. Tão importante quanto isso é o fato de nós, cidadãos comuns, se por acaso nos reunirmos algum dia com alguma ex-autoridade, por livre e espontânea vontade iremos chamá-la pela denominação do cargo que não mais ocupa. Fazemos isso porque temos respeito e deferência, porque temos receio de que aquela pessoa não goste caso a chamemos de ex-alguma coisa.






O primeiro-ministro britânico não reside em um palácio, mas sim, como todos os demais britânicos, mora em um simples endereço: Downing Street 10. Ele mora em um endereço e trabalha na Câmara dos Comuns. O deputado britânico é um comum. O presidente americano mora na Casa Branca. Não é um palácio branco, nem azul nem esmeralda. Além disso, de acordo com a lei, o presidente dos Estados Unidos tem que ser obrigatoriamente tratado por "senhor presidente" (Mr. president). Ele não é chamado por vossa excelência ou excelentíssimo nem em eventos do governo nem em documentos oficiais.

No Brasil, os ministros do Supremo Tribunal Federal têm direito a um determinado número de passagens aéreas para se deslocarem para o local de sua residência. É estranho que trabalhem em Brasília e morem em outro Estado. É mais um símbolo de poder tipicamente aristocrático: quem é poderoso de fato tem ao menos duas residências. Em sociedades democráticas, ter mais de uma residência deveria ser uma circunstância mais associada a ter dinheiro do que a ter poder. Não é nosso caso. Tornar-se ministro do Supremo Tribunal Federal deveria ser suficiente para saciar o desejo de honrarias e os objetivos profissionais de quem quer que fosse. Mas isso não é suficiente. É preciso que esteja associada ao cargo uma série de benefícios aristocráticos que, no Brasil, criam a separação entre os que têm poder daqueles que são simples comuns. Ter poder é isso: é poder viajar de graça para ver um jogo de futebol, chegar ao estádio de carro pela faixa exclusiva, dirigir-se à tribuna de honra pelo elevador e, no intervalo, poder comer e beber do bom e do melhor sem ter que enfrentar fila. A propósito, nossos juízes trabalham, no Brasil inteiro, em Palácios da Justiça. É contra isso que os manifestantes foram às ruas.

Uma das respostas mais rápidas que qualquer governo pode dar às demandas das manifestações é a redução e modificação de toda a simbologia associada ao poder. Minha sugestão concreta é que seja modificado o nome de Palácio do Planalto para Casa do Planalto. O mesmo deve ser feito com o Alvorada e todos os demais palácios de governo existentes no Brasil. Não imagino que nossos políticos ficariam menos felizes em residir em casas e não em palácios. Além disso, todo tratamento por "vossa excelência" deve ser imediatamente abolido.

Ninguém que tenha sido eleito para um cargo público é excelência coisa nenhuma: eles não passam de empregados do povo, de empregados dos eleitores. Estão investidos de seus cargos para exercer um mandato temporário cujo objetivo é prover alguns bens públicos da forma mais eficaz possível. Apenas isso.

A sociedade brasileira está exigindo cada dia mais que nossos representantes sejam pessoas comuns, como nós somos. Os manifestantes foram às ruas porque se sentem explorados pelos políticos. Os políticos roubam, não vão presos, viajam em aviões da FAB para atividades de entretenimento e não proveem saúde, transporte, segurança e educação de qualidade. Não dá para ter tudo, é o que dizem os manifestantes.

É possível roubar e não ir preso, mas para isso é necessário fornecer bons serviços públicos. É possível abster-se de zelar por serviços de qualidade, mas então será necessário ir preso e pagar quando houver corrupção. O que não é aceitável é ter tudo, não fazer nada e mesmo assim continuar viajando país afora pela FAB.

A agenda dos manifestantes é a da qualidade de vida. A vida da população melhorou muito da porta de casa para dentro. O consumo aumentou muito nos últimos anos no Brasil. Quem não tinha automóvel passou a ter, quem nunca tinha entrado em um avião voou pela primeira vez. Foi possível reformar a casa como nunca antes na vida, trocar de móveis, comprar geladeira nova etc.

A vida da população brasileira, todavia, não melhorou da porta de casa para fora. A percepção é que houve piora. O transporte de casa para o trabalho e do trabalho para a casa é muito demorado, perde-se o tempo precioso de estar com a família. Ao chegar perto de casa, o risco de ser assaltado é grande. Quando se precisa de uma simples consulta médica, pode-se ter que esperar mais de três meses. Isso não é mais aceitável como era no passado, ainda mais quando se tem uma TV de qualidade em casa, um carro na porta e um filho fazendo faculdade.

A mentalidade dos brasileiros vem mudando aceleradamente, graças à melhoria da educação formal. Os manifestantes que foram às ruas são em sua grande maioria pessoas que têm o dobro de anos de escolaridade de seus pais. São universitários filhos de pais que sequer fizeram o segundo grau. Se, para seus pais, os palácios e viagens em aviões da FAB eram aceitáveis, para eles não é mais. Para seus pais, a inexistência de saúde pública foi muitas vezes substituída pela rezadeira ou por uma promessa feita a um santo de preferência. Seus filhos não acreditam nessas coisas. Seus pais não tiveram que cruzar de ônibus cidades lotadas de carros, mas eles têm que fazer isso. A pressão sobre nosso sistema político vem mudando e o grande mérito das manifestações foi tornar isso totalmente explícito e evidente.

A população brasileira já vem demandando melhor uso dos recursos públicos. E isso vai aumentar. Nosso dinheiro, que o governo obtém por meio dos impostos, não deve ser utilizado, é o que pensam aqueles que cursam faculdades e universidades, para sustentar um modo de vida aristocrático, mas sim para prover, com eficiência, saúde de qualidade. Os manifestantes querem que os símbolos aristocráticos do poder deixem de existir, mas querem também (obviamente) que os administradores públicos eleitos se tornem administradores de fato e tratem de prover serviços públicos decentes.

Nossos políticos precisam ser mais frugais e austeros em suas vidas pessoais enquanto exercerem o poder. O atual nível de esbanjamento é inadequado à nova composição social brasileira. Os símbolos são parte fundamental da atividade de representação. Além dos símbolos, é preciso enfrentar os gargalos que impedem a aplicação eficiente dos recursos públicos. Nunca a qualidade da gestão foi tão importante. A pressão social por melhores serviços públicos está colocada tanto pela sociedade quanto pelos manifestantes. Não há recursos suficientes para atender a tantas demandas. No curto prazo, só há uma coisa a fazer: imprimir mais eficiência ao uso dos recursos.

O eleitorado não quer saber como os políticos farão isso. O eleitorado não se preocupa com os meios, mas sim com o fim último, que é a melhoria dos serviços públicos. Não importa o que é preciso fazer para alcançar isso. Talvez seja o caso de gastar menos com funcionários públicos, não gastar com a construção de novas sedes administrativas e de governo, não gastar com estádios de futebol, fazer concessões ou privatizar. Enfim, não importa como se alcança o que se demanda, só interessa o resultado final.

Nada disso ocorre da noite para o dia e esse é o grande problema gerado pelos protestos. A expectativa de que tudo mudará rapidamente não será atendida. Melhorar a aplicação dos recursos públicos e aperfeiçoar os serviços exige tempo - na maioria dos casos, décadas. O que os políticos podem fazer no curto prazo é mudar a simbologia associada ao exercício do poder. Isso já seria uma grande resposta às manifestações. Exige, porém, que eles cortem na carne.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de "A Cabeça do Brasileiro". alberto.almeida@institutoanalise.comwww.twitter.com/albertocalmeida

terça-feira, 9 de julho de 2013

Maioridade penal: TV Goiânia entrevista Grupom

A TV Goiânia Band esteve na Grupom Consultoria e Pesquisa na terça-feira, 02, para conversar com o coordenador, Mario Rodrigues Neto, a respeito da pesquisa realizada pela empresa sobre Maioridade Penal.  O estudo que foi realizado entre os meses de maio e junho, mostra que 92% dos moradores de Goiânia são favoráveis à redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.

Esta pesquisa foi de iniciativa própria da Grupom Consultoria e Pesquisa, que está comemorado 40 anos no mercado e se preocupa com temas atuais debatidos por toda a sociedade.


Acompanhe a matéria!


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Goiânia Aposta em shoppings e hotéis

Goiânia vai receber cinco novos shoppings e Aparecida um. No mesmo ritmo, setor hoteleiro terá sete novos empreendimentos.


Lídia Borges 07 de julho de 2013 (Jornal O Popular)


    Passeio das Águas, no Setor Norte Ferroviário, 
    será o maior dos novos shoppings em construção na capital goiana 


Com a aposta na continuidade do poder de consumo goiano, até 2016, Goiânia vai receber cinco novos shoppings centers e Aparecida de Goiânia mais um. O maior deles é o Passeio das Águas, instalado no Setor Norte Ferroviário, com 277 lojas, 180 mil metros quadrados de área construída e inauguração prevista para este ano, entre o final de outubro e início de novembro. Os outros cinco (Cerrado, Aparecida, Golden, América e Mega Fama) terão entre 100 e 200 lojas, aproximadamente.

Além disso, cinco já existentes serão expandidos: Mega Moda e Estação Goiânia (próximos à Rodoviária), Plaza D’Oro (Residencial Eldorado) e Flamboyant. Entre construções e ampliações, o setor tem programado mais de R$ 1,3 bilhão em investimentos nas duas cidades.

No mesmo ritmo estão os empreendimentos hoteleiros. Serão, pelo menos, mais sete empreendimentos, num total de R$ 687 milhões em recursos e quase 2 mil novos leitos. Para justificar os investimentos, as construtoras se baseiam no crescimento, em sete anos, de 150% do tráfego de passageiros do Aeroporto Santa Genoveva e apontam pesquisas sobre a demanda por leitos, que segundo a HotelInvest, será 6% superior em cinco anos. “Hoje, Goiânia sofre uma carência de 2.500 leitos por ano”, reforça Rogério Queiroz Silveira, diretor da Queiroz Silveira Construtora, responsável pelos QS Marista e Two Hands.

Na contramão da expectativa, o presidente do Sindicato da Indústria de Hotéis de Goiânia, Luciano de Castro Carneiro, afirma que a demanda nas duas cidades não comporta tantos leitos. Segundo ele, a taxa de ocupação média na capital não chega a 60% e a quantidade de eventos que ocorrem em Goiânia não é suficiente para atrair o número de turistas necessário para sustentar esse crescimento.

“O que está acontecendo é que as construtoras fazem empreendimentos alegando que haverá um grande retorno para os investidores. Depois que a obra fica pronta e são vendidas todas as unidades, elas saem de cena, entregam para as administradoras, mas o prejuízo da falta de hóspede fica para quem comprou o apartamento, que tem de manter o funcionamento do hotel”, diz.

Empenho

Luciano cobra mais empenho dos governos estadual e municipais para a captação de eventos que atraiam mais turistas para a região. Mais uma vez, o economista José Luiz Miranda aponta como problema a falta de uma política consolidada para o incremento do turismo no Estado. “Temos excelentes locais de atração, mas a infraestrutura para receber os visitantes é precária e cara. Infelizmente, esse é um problema que ocorre também no resto do País”, ressalta o economista, que defende ainda a exploração econômica sustentável de espaços ambientais para o turismo.

Capital oferece boa qualidade de vida
(LB)07 de julho de 2013

Apesar dos crescentes problemas com trânsito, Goiânia é uma capital que atrai moradores e empresas pela qualidade de vida que ainda é possível manter por quem vive na cidade. Essa é uma característica muito evidente entre os investidores que estão acostumados a outros grandes centros do País, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, afirma o responsável pela Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Semic), José Geraldo Freire.

“Mais de 90% de Goiânia tem rede de esgoto; 99%, iluminação; 97,5% têm meio fio e guia; 88% da cidade têm calçada. Em contrapartida, temos apenas 0,27% de áreas em condições subnormais, que seriam as favelas. Quando apresento esses números para os empresários que nos procuram, são atrativos enormes para eles se estabelecerem aqui. Ou, se as empresas estão na região (Aparecida, Senador Canedo e até Anápolis, por exemplo), eles acabam optando por morar na capital”, relata José Geraldo.

Ele também relaciona como atrativos o menor custo imobiliário na região, comparado a outras capitais, e a proximidade com Brasília. Entre as empresas que recentemente optaram por Goiânia, ele lista a rede de lojas de departamento Havan, que já abriu uma unidade em Anápolis e projeta quatro lojas para a capital. Também cita a empresa de artigos esportivos (comércio e indústria) Decathlon, que, segundo ele, já adquiriu área próxima ao Flamboyant.

Polos
Com uma posição logística estratégica e um mercado de consumo que está entre os que mais devem crescer em dez anos, Aparecida de Goiânia tem atraído diversas indústrias, centros de distribuição e empresas comerciais. Tanto que já existem projetos para dois polos industriais privados, com capacidade para até 150 empresas no total.

Ambos já teriam demandas de investidores que querem se estabelecer na cidade, afirma o secretário municipal de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia, Marcos Alberto Luiz de Campos. “Os dois devem ser lançados no início do ano que vem. Serão opções confortáveis, seguras e modernas, para que as empresas sejam implantadas”, afirma Marcos Alberto, que cita também a implantação de um polo e um parque tecnológico municipais e do Complexo Empresarial Metropolitano, com recursos do Estado.

Também com investimentos privados, da ordem de R$ 50 milhões, será lançado em Aparecida, até o primeiro trimestre de 2014, o Condomínio Aeroportuário de Goiás, um aeroporto executivo de 200 hectares. Para o secretário, o custo menor e a disponibilidade de áreas na cidade, além da localização, são os maiores atrativos para as empresas, mesmo tendo condições de saneamento ainda precárias - apenas 15% do município têm cobertura do serviço e pouco mais da metade são atendidos com água encanada. “Mas existe uma perspectiva de universalização dos serviços em cinco anos.”

O atendimento da cidade por serviços de água e esgoto também deve gerar crescimento imobiliário em Senador Canedo, segundo expectativa do secretário municipal de Indústria e Comércio, Rafael Gonzales. “Hoje, a vinda de grandes shoppings para a cidade esbarra nesse problema”, opina.

Ele cita como investimentos recentes empresas do ramo alimentício, dos grupos Cicopal e Odilon Santos, além da Hypermarcas, com a fábrica de cosméticos.

R$ 450 milhões em bairro planejado
(LB)07 de julho de 2013
Com previsão de R$ 450 milhões em investimentos privados em obras, Aparecida está recebendo seu primeiro bairro planejado, na região Nordeste da cidade. O Parque América terá 290 mil metros quadrados de extensão e 4,5 mil apartamentos de dois, três e quatro quartos, além de um parque de 22 mil metros quadrados. Para erguer o bairro, os investidores tiveram de se preocupar com a realização de infraestrutura de urbanismo local (asfaltamento, redes de energia, água e esgoto).

Conforme Ricardo Reis, diretor da GPL Incorporações (parceira da Terral, EBM e Tropical no empreendimento), os primeiros edifícios do Condomínio Caribe serão entregues no ano que vem. “Este empreendimento vai mudar a realidade da cidade, que ainda não tinha nada planejado, como em Goiânia. Com as facilidades e disponibilidade de crédito que existem hoje, as unidades, que custarão entre R$ 160 mil e R$ 200 mil, serão portas de entrada para a casa própria, para que a pessoa viva por muito tempo com qualidade de vida”, frisa.

Fonte: Jornal “O Popular” 

domingo, 7 de julho de 2013

Investimentos imobiliários: Goiânia e Aparecida atraem R$ 12 bilhões

Apesar da desaceleração da economia, os dois municípios conseguem concentrar investimentos


Por: Lídia Borges e Cristina Cabral  07 de julho de 2013

Maquete do complexo Órion , grande empreendimento na área médico-hospitalar programado para a cidade de Goiânia


Mapa dos Empreendimentos
x


Com posições estratégicas no País e donas dos 1º e 3º maiores Produtos Internos Brutos (PIB) de um Estado que tem crescido acima da média nacional, Goiânia e Aparecida de Goiânia conseguem concentrar grandes investimentos privados mesmo num momento em que a economia nacional está em desaceleração.

Contando os empreendimentos que estão em obras, os já lançados e aqueles em fase de elaboração e aprovação de projetos, as duas cidades terão em até cinco anos mais de R$ 12,2 bilhões em recursos aplicados (veja quadro), o que equivale, por exemplo, a quase 11% de toda a riqueza goiana gerada no ano passado.
negócios imobiliários
Os negócios imobiliários - entre casas, apartamentos e salas comerciais - perfazem o maior volume de investimentos em Goiânia e Aparecida.

Ao todo, são 189 empreendimentos que terão R$ 8,6 bilhões em recursos, segundo levantamento da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO). Oitenta por cento deles estão em fase de obras.

Nessa conta não entram os shoppings centers, cujo crescimento também funciona como indicador positivo da economia. No total, entre construções e ampliações, o setor tem programado mais de R$ 1,3 bilhão em investimentos nas duas cidades.

A movimentação no mercado hoteleiro também garantiu um grande volume de recursos para ambos os municípios, com previsão de R$ 687 milhões. Até 2016, serão, pelo menos, mais sete novos hotéis já com projetos consolidados ou em fase de obras (mas o sindicato da categoria sinaliza que haverá mais unidades).

Outros dois grandes empreendimentos na área médico-hospitalar estão programados para Goiânia, ambos no Setor Marista - o hospital Premium (na Avenida D) e o complexo Órion (nas Avenidas Portugal com Mutirão), que também terá espaço para hotel, escritório e shopping.

Para o presidente da Ademi-GO, Ilézio Inácio Ferreira, o grande volume de recursos e a aposta das incorporadoras nos setores imobiliário e de negócios funcionam como um termômetro da confiança que os empresários estão tendo na economia das duas cidades, assim como de todo o Estado, que está entre os que mais crescem no País, porcentualmente. “E o mercado imobiliário foi um dos que mais contribuíram para este aumento”, destaca o dirigente.

Com a forte vocação para o agronegócio, Goiás se beneficiou da alta demanda por commodities agrícolas e alimentos no mercado nacional e internacional, o que permitiu uma posição de destaque no País nos últimos anos, característica que saltou aos olhos dos investidores, explica o consultor empresarial e membro do Conselho Regional de Economia de Goiás (Corecon), José Luiz Miranda.

Aliado a isso, está a posição estratégica de Goiânia e Aparecida (que estão próximas do Porto Seco de Anápolis), fator importante para a logística das empresas, na distribuição de produtos e matérias-primas, acrescenta José Luiz.
Fatores
Todos esses fatores acabam compondo uma cadeia: boa situação econômica e localização atraem novas empresas e investimentos, que geram novos empregos e, consequentemente, mais dinheiro a economia local.

O resultado dessa sequência de fatores impacta diretamente o setor de habitação e o comércio e, por isso, tantos novos empreendimentos habitacionais (voltados principalmente para uma classe média com demanda reprimida por moradia) e centros de compras (para uma população que aumentou o poder de consumo), analisa José Luiz, que também é professor de graduação.

Segundo o economista, entre todos os Estados nacionais, o único que tem uma situação de expansão de investimentos comparada a de Goiás é o Rio de Janeiro, mas por motivos diferentes.

“Lá, o grande motor de expansão são as obras da Copa do Mundo, das Olimpíadas e os investimentos da Petrobras na exploração do pré-sal. E estes se propagam por várias outras áreas”, esclarece o economista.

Economista vê risco de “superprodução”
(LB) 07 de julho de 2013
Embora o grande crescimento nacional tenha se dado em 2010, com recordes em vários setores da economia, o economista José Luiz Miranda afirma que, naquela ocasião, a expansão estava centrada no estímulo e facilitação ao crédito, que levou a um alto comprometimento da renda das famílias e aumento da inadimplência até os dias atuais. Hoje, com a maior seletividade na concessão ao crédito, a renda para o consumo é fruto principalmente do trabalho, frisa José Luiz.

Mas apesar do cenário positivo, existe um risco de “superprodução”, informa o economista. O cenário internacional (que era de crise) tende a melhorar e afastar os investimentos do Brasil, já que haverá mais opções. Além disso, pode ser que haja uma “superprodução” nas áreas que estão sendo fortemente impulsionadas, como habitação, por exemplo. “Os riscos sempre existem. Mas não quer dizer que vão acontecer. Por isso, não bastam apenas incentivos fiscais; é preciso uma política de Estado consistente, investimento em infraestrutura e uma ação parlamentar mais efetiva”, defende.

Fonte: Jornal "O Popular"

Depois da mão, será a vez do braço

Por Alberto Carlos Almeida 28/06/2013

O Brasil é um país extremamente sujeito ao pensamento mágico. Essa forma de pensar ocorre quando as pessoas acreditam na relação entre a realização de certos rituais e a obtenção de determinadas recompensas. A mais evidente em nossa vida privada é a crença de que rezas, orações e bênçãos sobre o doente acabarão por trazer a cura. Trata-se de um pensamento mágico muito evidente, claro e direto. Há, contudo, formas mitigadas de pensamento mágico. Estamos diante delas em inúmeras análises sobre os protestos dos últimos dias e seus resultados. Há quem já tenha afirmado que o Brasil mudou apenas em virtude de uma ou duas semanas de manifestações.
Um segmento importante da mídia anunciou, logo após os atentados do 11 de Setembro, que dali em diante o mundo mudaria, não seria mais o mesmo. Aliás, a mudança mais evidente na vida das pessoas depois daquele episódio foi o aumento do rigor nos check-ins e embarques de voos internacionais e voos domésticos nos Estados Unidos. O mundo não mudou. Aquelas análises não passavam de uma versão do pensamento mágico.

Agora, mais uma vez, o pensamento mágico se manifesta em análises sobre um fenômeno social e político. Afirmam os crentes no não observável que o Brasil pós-protestos será diferente do Brasil pré-protestos. Protestos são rituais que, como muitos acreditam, uma vez realizados, resultam na obtenção de alguma graça. No caso, a graça não será a cura de uma doença de uma pessoa específica, mas de uma nação inteira, a doença do mau uso dos recursos públicos, da exploração da população pelos políticos e coisas semelhantes. Ora, quem acredita que as coisas vão ocorrer assim fará melhor se diminuir logo suas expectativas, porque a frustração tenderá a ser grande.
O Brasil já teve inúmeras manifestações que mobilizaram um imenso contingente de pessoas. Nenhuma resultou em mudança imediata, em algo que se assemelhe a uma graça divina. Todas, porém, foram episódios de um grande processo estrutural de transformação. Muitas mudanças desejadas só vieram a ocorrer depois de meia, uma ou mais décadas. As greves do ABC, no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, foram resultado da lenta transformação pela qual o Brasil passara nas duas décadas anteriores: formara-se nesse período uma grande massa crítica de trabalhadores do setor privado, que se organizaram em sindicatos. Pela primeira vez, o Brasil tinha sindicalismo do setor privado industrial.
O sindicalismo que agitou as massas nos anos 1960 era do setor público. Tutelado, portanto, pelo governo. As reformas de base de João Goulart foram defendidas por sindicatos que ou representavam diretamente funcionários públicos, ou representavam categorias que dependiam de recursos do governo para obter aumentos salariais. Não foi isso que ocorreu em São Bernardo do Campo e em municípios vizinhos quando Lula se tornou o principal líder sindical daquele período.
As greves tampouco resultaram em mudanças imediatas, mas permitiram que o PT fosse fundado e iniciasse sua trajetória eleitoral rumo à conquista da Presidência. Foi criado um partido de esquerda que deslocou da cena política antigos partidos assim também caracterizados, com destaque para o PCB, que tinham conexões com o sindicalismo do setor público dos anos 1960. Isso significou uma grande mudança na política brasileira, mas levou décadas para ocorrer. Não houve mágica.
A campanha das Diretas Já foi iniciada em 1983 e adentrou o ano de 1984. Mobilizou milhões de pessoas. Diferentemente do que ocorre agora, a campanha das Diretas Já teve um (e somente um) objetivo, teve líderes e teve conexão institucional com vários partidos políticos. A emenda Dante de Oliveira, que, depois de 29 anos, restabelecia as eleições diretas para presidente, não foi aprovada em uma votação histórica, no dia 25 de abril de 1984. Os brasileiros só foram votar para presidente em 1989. Tiveram que esperar mais de cinco anos e, mesmo assim, foi uma eleição solteira, na qual não se votou nem para governos estaduais nem para os cargos legislativos. Apenas em 1994 o Brasil teve a primeira eleição para presidente na qual as instituições funcionaram de maneira razoavelmente adequada, ou seja, mais de dez anos depois do primeiro comício das Diretas Já.
A campanha pelo impeachment de Fernando Collor também teve objetivo específico, líderes e conexão institucional. O objetivo era extremamente pontual: retirar um presidente do cargo. Foi atingido com rapidez. Tratava-se de uma única votação no Congresso Nacional. Ainda assim, o que aquele movimento revelou foi que o Brasil era capaz de se mobilizar para, por meios pacíficos, pressionar pela retirada do governante máximo do poder. Foi um sinal claro de quão democrático o país tinha se tornado. Não custa lembrar que isso aconteceu nos idos de 1992.
Na última eleição nacional geral, o PT elegeu o presidente pela terceira vez consecutiva, o PSDB manteve seu longo domínio no Estado de São Paulo, Aécio Neves elegeu seu sucessor em Minas, Sérgio Cabral foi reeleito governador no Rio de Janeiro e o mesmo ocorreu com os governadores dos três maiores Estados do Nordeste - Jacques Wagner na Bahia, Eduardo Campos em Pernambuco e Cid Gomes no Ceará. Reeleger governadores e manter no poder o mesmo partido é sinal de que os eleitores aprovam seus governantes.
Hoje, ninguém afirma que o Brasil está em decadência econômica. Na época em que José Sarney e Collor eram presidentes, nada se esperava do futuro do país. Agora, nada se teme. A situação econômica da população vem melhorando sensivelmente já há vários anos. Houve uma explosão de consumo entre aqueles que nunca tinham entrado em um avião, adquirido um carro ou frequentado uma academia de ginástica. O crescimento econômico pode ser maior ou menor nesse ou naquele ano, mas já faz tempo que o Brasil não entra em um ciclo de recessão. O desemprego atingiu os níveis mais baixos desde que o IBGE iniciou a série de dados. Diante disso, como compreender os atuais protestos? De um lado, governantes eleitos há menos de três anos; de outro, um longo período de prosperidade econômica.
É justamente por isso que os protestos estão ocorrendo. Há um ditado que reflete bem o que estamos passando: "Dá a mão, quer o braço". A situação da população melhorou em vários aspectos. A vida dentro de casa ficou melhor com a compra de vários bens duráveis e semiduráveis, o acesso a novos serviços foi ampliado, as oportunidades de emprego melhoraram, os governantes atenderam às expectativas dos eleitores e foram reeleitos. Isso é a mão.
A população agora quer o braço. Aquele que comprou seu primeiro carro não tem recursos suficientes para abastecê-lo a ponto de utilizá-lo diariamente. Por isso, tem que andar em ônibus lotados durante a semana. Quem hoje é capaz de colocar um filho na universidade, algo impensável alguns anos atrás, quer que o jovem não tenha somente emprego ao se formar, mas oportunidades crescentes de melhoria. A expectativa de vida aumentou muito por causa da enorme redução das doenças infecto-contagiosas, mas é preciso mais, é preciso ter acesso rápido a oftalmologistas, cardiologistas e outros especialistas, não apenas para viver mais, mas também para viver melhor.
À medida que cresce a prosperidade e aumenta a escolaridade, as pessoas se tornam mais insatisfeitas e inquietas, e o descontentamento público aumenta. Aguentava-se com paciência a pobreza, como se fosse inevitável. Quando as pessoas notam que não se trata de uma situação inevitável, logo surge a ideia de se livrar dela imediatamente. O que se aguentava com paciência torna-se insuportável assim que a situação melhora. Quando o mal diminui, aumenta a sensibilidade a ele. Quem primeiro detectou esse fenômeno foi o grande pensador conservador Alexis de Tocqueville em seu clássico "O Antigo Regime e a Revolução".
A população quer mais igualdade, não apenas de renda, algo que já vem ocorrendo, mas no tratamento perante as leis. Os símbolos são parte central da política. A população sente-se explorada pelos políticos, não apenas por causa da má qualidade da saúde, da educação e dos transportes, mas porque a simbologia do mundo político não é frugal. Nossos políticos habitam ou trabalham em palácios: Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada, Palácio dos Bandeirantes, Palácio Guanabara. É muito palácio. Nos Estados Unidos, o presidente trabalha e mora em uma casa que é branca. Nossas autoridades, quando vão a estádios de futebol, ficam em camarotes climatizados, são servidas por garçons que lhes oferecem comidas e bebidas a que dificilmente o eleitor médio tem ou terá acesso no curto prazo. Todos aqui estranham quando Obama é fotografado comendo hambúrguer em uma lanchonete de fast food. Consideram isso demagogia. Isso é simbologia da igualdade.
Essa simbologia precisa ser utilizada para que os políticos mostrem que os recursos públicos estão sendo aplicados com maior eficiência (se não são, precisam ser). Isso significa combater a corrupção, melhorar a gestão, reduzir o desperdício e muitas outras medidas dessa natureza. Estudos acadêmicos de boa qualidade mostram que isso está sendo feito, não no ritmo que os manifestantes esperam, mas no ritmo que o sistema político permite. O pensamento mágico não funciona aqui. Ninguém gera eficiência ou combate corrupção da noite para o dia. Lamentavelmente, isso é frustrante, mas é como o mundo realmente é.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de "A Cabeça do Brasileiro". E-mail: alberto.almeida@institutoanalise.comwww.twitter.com/albertocalmeida