O mundo passa por uma revolução: a de negócios baseados em dados. Países como Alemanha, Reino Unido, Índia e, mais próximo de nós, Chile, Colômbia, México e Peru, já embarcaram nessa realidade por meio de propostas de políticas públicas para uma Agenda Digital, ou seja, a transformação digital de suas economias.
O alicerce dessa revolução está na adoção de novas formas de tecnologias, as famosas TICs (Tecnologia da Informação e Comunicações). Os resultados são impactantes. Estamos falando em ganhos de produtividade, de competitividade e aumento nos níveis de renda e geração de empregos, além de novos serviços digitais que beneficiam a sociedade e oferecem transparência nos uso e destino dos recursos públicos.
No início de agosto, o Governo Federal abriu a consulta pública sobre o plano “Estratégia Brasileira para a Transformação Digital”. É um programa que identifica um conjunto de diagnósticos, diretrizes e metas para os próximos cinco anos, visando criar um ambiente que dê condições para uma transformação digital em diferentes áreas. De modo geral, as ações buscam ampliar o uso e o acesso às TICs, como, por exemplo, investimentos para que a cobertura de internet que chegue a todos os municípios do Brasil, expansão da rede de transporte de dados em fibra ótica, digitalização de processos produtivos e valorização de profissionais especializados em engenharia elétrica e de telecomunicações.
Até hoje, as políticas públicas voltadas de alguma forma ao desenvolvimento digital sempre priorizaram a fabricação local de equipamentos, com padrões específicos para o Brasil, de uma forma que estimulasse a oferta de produtos de tecnologia – o que teve méritos dentro de uma realidade existente na época. Mas o mundo hoje é outro. Não se trata de uma demanda apenas de indústrias e setores específicos; é necessário estimular a demanda e a adoção de tecnologia em todas as esferas da economia e por toda a sociedade, incluindo o próprio setor público.
Uma política digital deve focar em promover e estimular a adoção de tecnologia e não controlar ou prevenir a inovação. Há que se entender que a internet não é um atalho para o desenvolvimento, mas um acelerador e facilitador que permite esta revolução. E, como em qualquer construção, é fundamental iniciar pela base, com investimento em uma infraestrutura tecnológica de última geração: data centers, dispositivos de acesso à informação e conectividade – já trabalhando com o futuro dos dados na tecnologia 5G.
Destaco, por exemplo, o volume de dados em grande escala. Estima-se que até 2020 haverá mais de 16 zetabytes – o que corresponde a 16 trilhões de gigabytes – de dados úteis circulando diariamente pelo mundo, um crescimento estimado de 236% por ano a partir de 2013. Considerando que dados são o novo petróleo, e que o uso de data analytics é um dos motores da inovação empresarial, precisamos pensar políticas públicas que incentivem o aumento da capacidade de processamento de dados no país.
Novas formas de alavancar a competitividade nacional também estão no incentivo ao desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial, em aplicações de condução autônoma e na Internet das Coisas (IoT). Dados levantados pela União Europeia mostram que o mundo alcançará a marca de mais de 30 bilhões de dispositivos conectados à Internet em 2020 e que o IoT, nos diversos setores econômicos, pode chegar a US$ 11,1 trilhões em 2025, o que corresponderia a 11% da economia global, de acordo com a consultoria McKinsey.
A Estratégia Brasileira para a Transformação Digital deve estipular claramente um modelo de governança que dê sustentabilidade, credibilidade e longevidade para esta Agenda. Também precisa deixar muito claro qual o objetivo central e o propósito destas ações, além, é claro, de estabelecer os indicadores de sucesso para cada ação específica de forma que a sociedade possa reconhecer e entender os impactos e benefícios de cada uma delas.
Recolocar o Brasil como um protagonista na economia mundial passa por estratégias claras e efetivas. O País não pode perder esse bonde. Quem não entender esta nova dinâmica e não planejar essa conversão para a economia baseada em dados, de forma objetiva e célere, certamente entrará numa defasagem digital, que pode, inclusive, trazer um impacto negativo para a vida de seus cidadãos. Não temos muito tempo. Devemos enviar uma mensagem clara para a comunidade internacional: O Brasil é um País Digital. E estamos abertos ao mundo.
Por Fernando Loureiro, Diretor de Políticas Públicas da Intel para a América Latina para a Convergência Digital.
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