segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Medo de Que?

Medo de quê?

Edemundo Dias de Oliveira Filho 
12 de novembro de 2011 (sábado) Jornal O Popular

"No amor não há medo; antes, o perfeito amor lança fora todo o medo" (1º João 4: 18).

"Você tem medo de quê?" Esta foi a instigante manchete do POPULAR do dia 6 de novembro, expondo os resultados de uma pesquisa do Instituto GRUPOM para saber quais são os maiores medos dos goianos. Violência, inflação e ficar doente foram as respostas mais apontadas. Acontece que, seja a propósito ou por acaso, a matéria nos remete a uma das mais interessantes questões da história da humanidade, que assume proporção crucial na chamada pós-modernidade.


Com efeito, Zygmunt Bauman, um dos grandes estudiosos desse tema, conclui sobre a dinâmica e os usos do medo, assim: "As origens de nossos medos são de ordem ética e política". Ora, ao assumirmos isso, as ameaças se encontrarão continuamente próximas e tudo parecerá exacerbado, iminentemente ameaçador e aterrorizante. Como solução para enfrentar tal fantasma, ele propõe, além de esperança, que o enfrentamento não parta apenas do indivíduo, de um local, mas da esfera global, invertendo o que há de negativo na proposta da globalização.

A conjectura, aqui, não é de desacreditar as estatísticas. É, acrescendo à conclusão do autor de Medo Líquido (Bauman, 2006), desmitificar uma potestade criada pela difusão irrestrita e massificada de assertivas que deveriam exigir de nossos meios de comunicação cautela mais apurada. E, sobretudo, zelar para que uma epidemia contingente não se torne uma pandemia intratável, considerando o amor e não o medo, como a moda que ditou, dita e ditará a grande tendência universal de hoje e que está porvir.

Propagados com a velocidade do vento e com a intensidade dos tufões, os sentimentos de medo e insegurança, que assolam a cada dia mais nossa terra, têm assumido assoberbada proporção. Das reflexões e análises diárias sobre o tema, ou mesmo sobre questões que o cercam mais indiretamente, pode-se extrair a sensação de que o medo é, indubitavelmente, o principal sentimento personificado pela contemporaneidade.

O amor, ressaltado, cultivado e ainda inculcado no coração do homem, foi degradado e, consequentemente, reduzido à utopia, ingenuidade ou pieguice, dando ao medo o status de sentimento-mor do presente século - o que nos tem levado à aferição de que o medo está mais do que sacralizado, mercadologizado, como uma necessidade insaciável de todos os homens.

O descrédito dos indivíduos no poder de proteção do Estado - único ente com aptidão legítima de coerção da violência -, que gera o instinto de autoproteção, potencializa, simultaneamente, o medo. A tarefa de tornar o mundo mais seguro - dever inarredável desse Estado e responsabilidade de todos - tem sido fragilizada diante das inúmeras patologias que "adoecem" o mundo moderno, no interesse daqueles que utilizam o medo como o mais eficiente instrumento de controle econômico e político.
Adoecido pela cultura do medo, o homem já não parece ficar estarrecido tão-somente pelas violências sofridas direta e constantemente, mas muito mais pela vultosa propulsão que funda e impulsiona essa cultura no seu cotidiano. Nesse diapasão, o homem contemporâneo encontra-se, irresistivelmente, enredado pela virulência de um conceito, ampliado e difundido de forma avassaladora, que tem adquirido dimensões ainda mais virtuais que reais.



Edemundo Dias de Oliveira Filho 
é delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, 
presidente do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia

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