quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Grandes empresas estão sendo sinceras sobre o rastreamento dos clientes?


Há boas e más razões para rastrear os movimentos das pessoas, mas a melhor maneira de gritar para os usuários que você os está espionando é mentir ou não revelar o que vem sendo feito. Desenvolvedores corporativos, se você não é culpado de má conduta, por que vem tentando tanto esconder isso?
A questão vem à mente depois que duas notícias, não relacionadas,  despertaram a atenção para um descolamento do discurso e da prática das empresas de tecnologia.
A Associated Press informou que o Google continua rastreando consumidores mesmo depois desses consumidores ativarem a opção de privacidade que supostamente bloqueia o rastreamento. Apenas alguns dias depois, o Google mudou discretamente a página de ajuda, trocando os dizeres "com o Histórico de Localização desativado, os lugares que você está não são mais armazenados" por "esta configuração não afeta outros serviços de localização no seu dispositivo" e "alguns dados de localização podem ser salvo como parte de sua atividade em outros serviços, como Pesquisa e Mapas. ”
Pouco depois, o jornal The New York Times  revelou que alguns grandes bancos estão usando análises comportamentais para identificar clientes. Nesse caso, a acusação não é a de estarem dizendo uma coisa e fazendo outras, mas a de estarem deliberadamente deixando de informar algo que muitos clientes não aconcordariam. A melhor abordagem teria sido declarar antecipadamente que a análise comportamental está sendo feita, ainda que apenas para autenticação, e prometer nunca usá-la para outra coisa que não seja a finalidade declarada. O problema aqui é que os bancos não querem restringir a forma como usam esses dados, e é por isso que optam por permanecer em silêncio.
Do artigo do Times : "Quando você está navegando em um site e o cursor do mouse desaparece, pode ser uma falha de computador - ou pode ser um teste deliberado para descobrir quem você é. A maneira como você pressiona, rola e digita algo na tela do telefone ou no teclado podem ser tão exclusivos quanto suas impressões digitais ou características faciais. Alguns sistemas de segurança avançados já usam a análise desses quesitos para evitar ataques automatizados e transações suspeitas, mas outros estão indo ainda mais longe. "
Vamos começar com o incidente do Google. As principais perguntas são: Quem aprovou essa página de ajuda inicial e o que eles sabiam na ocasião? Na pior das hipóteses, alguém escreveu  e alguém aprovou os dizeres "os lugares que você vai não estão mais armazenados" sabendo muito bem que isso não era verdade - algo conhecido nos círculos de marketing como "mentir".  Na melhor, a página foi escrita e aprovada por pessoas que não entendiam como os sistemas do Google funcionam.
O Google não explicou sua conduta. Simplesmente mudou a página de ajuda,  sem maiores comentários. Embora ambos os cenários sejam plausíveis, estou mais inclinado a acreditar que qualquer pessoa envolvida na elaboração de uma página de ajuda do Google entende bem os sistemas e, portanto, sabia que o que estava escrevendo era falso.
A situação do banco é menos explícita. Pelo menos os bancos, até onde posso dizer, não disseram que não estavam rastreando pessoas. Eles simplesmente não disseram nada a respeito. Mas os desenvolvedores de aplicativos bancários precisam lembrar que os bancos estão em uma posição muito mais precária do que o Google e precisam, pelo menos, fingir ser confiáveis ​​de uma forma muito mais pública.
Por quê? O Google ainda é o mecanismo de pesquisa mais eficaz e abrangente do planeta. Eu adoraria poder dizer que o DuckDuckGo ou outros mecanismos orientados para a privacidade são tão bons ou melhores, mas com base em testes diários, o Google ainda está muito à frente. Bing, Yahoo e outros há muito tempo perderam a batalha de busca para o Google.
Isso significa que um usuário irritado do Google não pode sair do Google sem perder alguma funcionalidade de pesquisa séria. E em um telefone Android, a confiança é ainda mais profunda e integrada. Mas bancos? No cado deles, clientes insatisfeitos podem facilmente pegar seu dinheiro e seus dados e mudar para o banco rival do outro lado da rua, e provavelmente não sofrerão interrupções ou degradação de serviços.
Em segundo lugar, a confiança é um fator muito maior para um consumidor que escolhe um banco do que o mesmo consumidor que escolhe um serviço de busca ou um serviço de mapa móvel. Os consumidores estão literalmente entregando uma grande parte de seu dinheiro para esse banco. Isso envolve muita confiança. Por que arriscar tudo isso apenas para que o banco tenha a opção de usar posteriormente identidades de clientes para vários esquemas de marketing? Se esse esforço é tão benigno, por que não compartilhá-lo com os clientes e deixar que os consumidores considerem isso em suas decisões sobre quais bancos usar?
Até agora, esta coluna se concentrou na necessidade das grandes empresas serem honestas para conquistarem a confiança dos usuários e clientes. Há outros motivos também. Em especial, a observância às regras das novas legislações sobre proteção de dados pessoais.  A hora de corrigir as coisas é agora!

Fonte: CIO

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