terça-feira, 8 de novembro de 2011

Violência é o que mais preocupa

Violência é o que mais preocupa
Sensação de insegurança cresce fora da capital. Fatores econômicos também preocupam
Deire Assis  06 de novembro de 2011 (domingo) Jornal O Popular
O medo de ser vítima de violência é a principal preocupação admitida pelo goianiense em 2011, aponta pesquisa realizada pelo Instituto Grupom Consultoria e Pesquisa. O levantamento revela também que quem vive no interior não está imune à sensação de insegurança que toma conta dos que residem na capital. Ao contrário, é entre essa população que o medo de ser a próxima vítima cresce mais. Além da violência, fatores econômicos, como inflação, falta de dinheiro e a perda do emprego, e sociais, como a solidão e a falta de amigos, também preocupam os goianos ( veja quadro ao abaixo ).


Levantamentos realizados em anos anteriores pelo instituto de pesquisa mostram que a preocupação com a violência e a falta de segurança manteve-se praticamente inalterada entre os moradores de Goiânia, enquanto entre os residentes em outros municípios do Estado, o medo de ser vítima dela cresceu. Em 2008, por exemplo, 44,5% dos entrevistados do interior manifestaram esse tipo de sentimento, passando para 53,3% este ano.

Para a doutoranda em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília (UnB), Najla Franco Frattari, um medo generalizado marca as relações humanas nas cidades. Segundo cita, pesquisas e estudos demonstram que é a pequena criminalidade de rua que alimenta o medo dos moradores dos espaços urbanos. "Qualquer pessoa conhece um caso, relata um fato, um acontecimento. Essas narrativas alimentam o medo dos cidadãos e expõem a incapacidade de se defender", afirma a pesquisadora.

A cientista social destaca que o medo e a sensação de insegurança não mais se restringem às grandes metrópoles, mas se manifestam também entre as pessoas que vivem nas pequenas e médias cidades. Estas pessoas foram ouvidas na pesquisa realizada pelo Instituto Grupom. Além de residentes de Goiânia, o levantamento quis saber qual a principal preocupação dos moradores de outros 20 municípios goianos de pequeno, médio e grande portes, explica Mário Rodrigues Filho, da Divisão de Pesquisas e Projetos do instituto.

"As notícias dão conta de assaltos e outros crimes cometidos em pequenas cidades do interior, demonstrando, assim, que a criminalidade se dispersou, se interiorizou", frisa Najla Frattari. Em 2009, a socióloga defendeu dissertação de mestrado pela Universidade Federal de Goiás sobre o tema, abrangendo Goiânia e outras 12 cidades do Estado. "A pesquisa realizada nas cidades do interior de Goiás pela UFG revelou uma preocupação imensa com a violência e criminalidade", acentua. Segundo ela, a sensação de insegurança existente independente de a pessoa ter sido ou não vítima de violência.

O aumento das taxas de violência está diretamente ligado à sensação de insegurança manifestada pelos entrevistados, destaca a pesquisadora. Estatísticas da Polícia Civil de Goiás apontam para a ocorrência de 61,1 mil crimes, entres os tipos mais graves, em cidades de Goiás com mais de 15 mil habitantes. Destaque para as cidades do Entorno de Goiânia e do Distrito Federal, como Aparecida e Senador Canedo, Santo Antônio do Descoberto e Luziânia.

Mestre em Sociologia pela UnB e atual pesquisador do Observatório das Metrópoles da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Jean Carlos Gomes Camargo destaca que o fenômeno da verossimilidade pode levar as pessoas a tomarem como verdadeiro o aumento generalizado da violência. "A mídia universaliza acontecimentos violentos de sociedades particulares porque são verossímeis e, portanto, podem ser encarados como verdadeiros", explica. Para o pesquisador, essa é a chave para entendermos o aumento do sentimento de insegurança em alguns municípios de Goiás. "Por isso encontramos em cidades do interior indivíduos investindo significativamente em aumento de muros, em segurança privada, em cercas-elétricas ou até mesmo procurando condomínios horizontais para viver", enumera o pesquisador.
"Incivilidades"

De acordo com os estudos sobre violência realizados pela pesquisadora, atos de vandalismo, pixações, degradações do espaço urbano, precariedade dos equipamentos públicos contribuem para o aumento da insegurança no espaço das cidades. "Ela está relacionada a uma relativa saturação de incivilidades. Esses atos expressam tensões sobre a ocupação do espaço e sobre as relações entre os indivíduos, contribuindo para a disseminação do sentimento de insegurança e percepção do risco", complementa.

Najla Frattari acentua que o crescimento acelerado das cidades, "impulsionado em grande parte pelas migrações em busca de oportunidades e o rápido processo de modernização representam o fim dos laços sociais tradicionais, afetando consideravelmente o universo de valores." Essa condição, afirma a cientista social, tornam rotineiras as práticas de violência e
generalizam a sensação de insegurança.

Mudanças no comportamento social
A sensação crescente de insegurança faz com que a vida nas cidades e as relações entre seus habitantes se transformem. O medo aparece como justificativa para mudanças no comportamento e no modo de viver das pessoas. "Viver nas cidades passa a requerer uma série de cuidados, estratégias, esquemas de segurança mínimos. A segurança privada aparece como uma forma de escape para o indivíduo atemorizado, ameaçado pelo medo", frisa a cientista social Najla Franco Frattari.

Na pesquisa sobre medo e segurança realizada pela pesquisadora em 2009, a necessidade de segurança pessoal apareceu amplamente entre os entrevistados na pesquisa, lembra Najla Frattari. "As ações agora devem partir dos indivíduos. A segurança da casa, a segurança pessoal são funções que tocam a cada um dos cidadãos", afirma, ao ressaltar o que disseram os entrevistados por ela na pesquisa realizada no âmbito da Universidade Federal de Goiás.

Descrédito

"A crença de que cada um é responsável por promover a própria segurança evidencia o descrédito das pessoas com relação às ações dos responsáveis pela segurança pública, ao mesmo tempo em que legitima as práticas individuais cujo intuito é mitigar a insegurança crescente, mesmo quando elas ferem preceitos legais e garantias constitucionais", destaca.

"O medo contribui não somente para a disseminação dos muros que cercam a cidades. Eles alteram profundamente a vida social e o modo como os indivíduos se relacionam e vivenciam o urbano, seus valores morais, preceitos e crenças", pondera a cientista social. (D.A)

Metade das pessoas tem medo de doenças

Além da falta de segurança e do medo e das questões relacionadas com o bem estar econômico dos entrevistados, o medo de ficar doente representa a principal preocupação para metade dos goianos entrevistados pelo Instituto Grupom em 2011 ( veja dados no quadro ). A preocupação, nesse caso, é bem mais significativa entre aqueles que moram na capital: 50,8%. Entre os moradores do interior, este tipo de preocupação atinge 40,4% dos entrevistados.


As dificuldades de acesso aos equipamentos de saúde pública, para a pesquisadora Najla Franco Frattari, pode estar por traz dessa sensação de medo provocada pelas doenças, embora se testemunhe avanço considerável das práticas médicas nos últimos anos. A população, por outro lado, enfrenta cada vez mais dificuldades de acesso, sobretudo na rede pública. "Acabamos de vivenciar uma greve dos médicos na rede pública de saúde. E muitas pessoas têm seus problemas de saúde agravados ou mesmo morrem em função da demora no atendimento", frisa a socióloga. (D.A)

Vítimas relatam alteração na rotina e pressão psicológica

Em 11 anos como atendente de uma drogaria em Senador Canedo, Meire Macedo Noleto, de 39 anos, perdeu as contas de quantos assaltos testemunhou. Contou os ocorridos este ano: oito, desde o começo do ano, alguns deles com extrema violência. "Nos ameaçam com arma na cabeça, fazem pressão psicológica. Nos deixam com medo de vir trabalhar. É preciso confiar em Deus para sair de casa todos os dias", diz ela.

Assim como Meire, dezenas de outras pessoas que trabalham na Avenida das Macaúbas, no município da Região Metropolitana de Goiânia, também já foram vítimas desse tipo de violência. É o caso do gerente de um posto de combustíveis localizado na avenida, João Lima de Almeida, 57. Até junho desse ano, o posto foi assaltado nove vezes. Foram tantas as ocorrências que o proprietário teve de mudar a rotina de trabalho. Contratou um segurança particular e agora fecha o posto duas horas mais cedo.

"Ficamos reféns dos marginais. Se quisermos continuar trabalhando, temos de mudar a forma, buscar segurança", afirma. Segundo conta, em todos os assaltos registrados no local, os bandidos usavam armas de fogo. Algumas vezes, usaram de violência física. "Alguns frentistas ficaram feridos", lembra. "Trabalhamos inseguros aqui. No ano passado, um dos assaltantes disparou a arma ao lado do meu ouvido. Foi horrível", descreve.

Há pelo menos uma década o Instituto Grupom realiza este tipo de levantamento na capital e, em anos mais recentes, também em cidades do interior do Estado. Na maioria dos anos, as preocupações com a segurança, a saúde e a falta de dinheiro estiveram entre as mais citadas pelos entrevistados. (D.A)

Um comentário:

  1. Parabéns para toda equipe Grupom envolvida na pesquisa! Excelente trabalho!

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