quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Eduardo Campos de 2014 é o Ciro de 1998



Por Alberto Carlos Almeida

Caso Eduardo Campos venha a ser candidato a presidente em 2014, haverá muitas semelhanças entre sua candidatura e a de Ciro Gomes em 1998. A primeira delas é que tanto 1998 quanto 2014 são disputas com reeleição. Fernando Henrique completava o seu primeiro mandato com a popularidade elevada em função do aumento de consumo da população mais pobre. Ele tinha, pelas pesquisas públicas da época, em torno de 47% na soma de ótimo e bom. O Plano Real havia sido o principal cabo eleitoral de FHC em 1994 e assegurava um caminho sem sustos para uma segunda vitória.
Em 2014, Dilma disputará a reeleição. É impossível prever o cenário econômico do segundo semestre do próximo ano. O fato é que o consumo das famílias vem aumentando acima do crescimento do PIB e o desemprego vem se mantendo em patamares muito baixos, os menores níveis da história deste índice. Isso assegura a Dilma uma popularidade muito elevada: a soma de ótimo e bom está no patamar de 65%. Se Fernando Henrique foi reeleito com 47% de ótimo e bom e Lula com 56%, o que não dizer, então, do favoritismo de Dilma, caso ela venha a manter o atual nível de aprovação? Ocorrendo isto, a candidatura de Campos enfrentará em 2014 a mesma dificuldade que teve Ciro em 1998: um ocupante de cargo muito popular que disputa a reeleição. Por isso Ciro perdeu, também por isso os candidatos de oposição em 2014 tendem a perder.


A segunda semelhança diz respeito à região do candidato: Ciro Gomes e Eduardo Campos são políticos que fizeram toda sua carreira no Nordeste. Ciro foi eleito governador em 1990 e exerceu seu mandato até setembro de 1994, quando deixou o cargo para assumir o posto de ministro da Fazenda de Itamar Franco. Eduardo Campos já foi governador de Pernambuco por quatro anos e agora está em seu segundo mandato. Caso seja candidato, ele deixará o cargo no primeiro semestre do ano que vem.
Como ex-governador de um Estado nordestino, Ciro acabou sendo mais votado no Nordeste do que nas demais regiões do Brasil. O mesmo tende a acontecer com Eduardo Campos.
É interessante recordar que, na eleição de 1998, Fernando Henrique venceu em quase todos os Estados. Ele perdeu para Lula no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro e perdeu para Ciro no Ceará.
Ciro conquistou pouco mais de 34% dos votos válidos em seu Estado. Igualmente importante foi a sua votação em vários Estados do Nordeste: 20,3% em Alagoas; 18,6% no Rio Grande do Norte; 18,5% no Piauí; 16,3% no Maranhão; 16% na Paraíba; e 11,3% em Sergipe. Nesses Estados, Ciro ficou acima de sua média nacional, que foi 10,9%. Na Bahia e em Pernambuco, ele ficou abaixo. Vale mencionar que os três principais estados do Nordeste, que cultivam uma certa rivalidade entre eles, são, além de Bahia e Pernambuco, o próprio Ceará de Ciro.
O desempenho de Ciro no Nordeste disputando uma eleição contra um presidente bem avaliado, tendo Lula como principal oposicionista a Fernando Henrique, sugere que a eventual candidatura de Campos terá no Nordeste uma votação acima de sua média nacional, com destaque para o seu Estado, Pernambuco.
Além disso, Campos corre o risco de ter uma votação menor do que a média nacional no Ceará e na Bahia. Além da rivalidade regional, o atual governador da Bahia é do PT e a família Gomes, Cid e Ciro - que, hoje, lideram politicamente o Ceará - tende a não apoiar Eduardo Campos.
Ciro ficou acima da média no Nordeste e abaixo em São Paulo, onde conquistou somente 7,4% dos votos. Esse é um destino provável de uma eventual candidatura de Campos: o Nordeste puxando sua votação para cima e São Paulo fazendo o inverso.
Outra semelhança entre o Ciro de 1998 e a eventual candidatura de Eduardo em 2014 é que ambos terão colocado seu nome em uma disputa nacional pela primeira vez. Isso é de suma importância. O desconhecimento é uma grande barreira ao favoritismo em uma eleição presidencial.
Collor, quando foi candidato, beneficiado por uma legislação eleitoral então permissiva, ocupou o tempo de TV pré-eleitoral de vários partidos para se tornar nacionalmente conhecido. Além disso, ele ocupou a mídia nacional com o agressivo marketing do "caçador de marajás", aquele que, em Alagoas, supostamente combatia os privilégios dos funcionários públicos.
Serra construiu seu recall nacional a partir do Ministério da Saúde. De janeiro a novembro de 2001, ele foi a autoridade que mais utilizou a rede nacional de rádio e TV, sempre com a justificativa de lançar e dinamizar programas de seu ministério.
Os temas de Serra diziam respeito diretamente à vida de todos os brasileiros: campanhas de vacinação, remédios mais baratos por meio dos genéricos etc. Foram dez aparições de Serra, contra sete de Fernando Henrique e quatro de Paulo Renato, o ministro da Educação. Entre agosto e novembro, Serra ocupou a cadeia nacional por 13,3 minutos, ao passo que Fernando Henrique a ocupara por 11 minutos. Em dezembro de 2001, Serra foi ao "Domingo Legal" de Gugu Liberato e ao "Programa do Ratinho".
Serra se tornou nacionalmente conhecido antes do ano eleitoral, mas foi derrotado mesmo assim. Em 2009, Lula sabia por experiência própria das dificuldades envolvidas em entrar numa disputa com um candidato pouco conhecido. Exatamente por isso o então presidente iniciou um périplo pelo Brasil com Dilma. Ele desejava associar o nome de Dilma a seu governo, mas, principalmente, desejava torná-la nacionalmente conhecida.
Ciro não teve essa chance antes de 1998. Aliás, teve como ministro da Fazenda, no fim do mandato de Itamar. Mas foi um período muito curto e, por isso, insuficiente para projetá-lo nacionalmente. Não está claro se Eduardo Campos terá esta oportunidade, caso venha a ser candidato. O fato é que ele, hoje, não tem mais de 4% nas intenções de voto nacionais. O principal motivo é que ele não é nacionalmente conhecido. Falta-lhe "recall".
Ciro foi candidato em 1998, tornou-se nacionalmente conhecido, sobreviveu politicamente sem mandato até 2002, quando se candidatou novamente. No fim de junho de 2002, ele chegou a estar tecnicamente empatado com o líder das pesquisas, Lula, na casa dos 30% de intenção de voto. O que a trajetória de Ciro ensina é que, para se tornar o favorito em uma eleição, é preciso primeiro ser candidato, sem chances de ganhar, fazendo uma boa campanha, para atingir um percentual de pelo menos 10% de votos nacionais. Em particular se essa primeira eleição for disputada contra um ou uma presidente muito popular, que disputa a reeleição.
Quando Ciro disputou em 2002, não havia ninguém concorrendo à reeleição e ele já tinha construído "recall" nacional. Foi por isso que ele bateu na casa dos 30% de intenção de voto. A sua queda se deveu a várias declarações que ele deu em público e que foram utilizadas por seus adversários, mas também por ele não ter sido considerado pelo eleitor nem de governo nem de oposição. O candidato de governo era, na cabeça do eleitor, Serra. E o oposicionista era, sem sombra de dúvida, Lula.
Isso indica que o grande obstáculo para as pretensões de Campos em 2018, caso ele seja candidato em 2014, é o eventual desempenho eleitoral de Aécio pelo PSDB. Considerando-se o cenário mais provável de vitória de Dilma, caso Aécio seja o segundo mais votado em 2014 e se a diferença entre Aécio e Campos for expressiva, a situação do governador de Pernambuco se complica para 2018. Aécio conta com uma máquina política formidável, desde que atuante: os governos de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Goiás e Pará.
Além disso, o histórico das últimas cinco eleições favorece o PSDB: em todas elas, a disputa ocorreu entre os petistas e os tucanos. Eduardo Campos precisa fazer um esforço hercúleo para deslocar Aécio e seu partido do terreno da oposição. A inércia é favorável ao PT e ao PSDB: ela tende a mantê-los como os principais contendores presidenciais.
Aí está o principal incentivo para Campos ser candidato: se ele não se candidatar, a eleição de 2014 e, provavelmente a de 2018 também, tenderá a ser uma disputa semelhante a todas as ocorridas após a redemocratização do Brasil, com exceção da eleição de 1989. A inércia do cenário político e eleitoral está contra as pretensões de Campos e justamente por isso ele é o principal interessado em modificar esta situação. Para Eduardo Campos, ser candidato seria um ato de ousadia, iria contra o tradicional conservadorismo dos políticos. Porém, é a única decisão que confere a ele alguma chance de se tornar um candidato a presidente competitivo em 2018.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" e "O Dedo na Ferida: Menos Imposto. Mais Consumo". E-mail: alberto.almeida@institutoanalise.com
www.twitter.com/albertocalmeida

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