segunda-feira, 6 de maio de 2013

Os ventos sopram para Dilma



Por Alberto Carlos Almeida

Os dados deste artigo comparam os dois governos Fernando Henrique, os dois governos Lula e o governo Dilma quanto à popularidade, por trimestres. Fica claro que a aprovação do governo Dilma quando medida pela soma de "ótimo" e "bom" só tem paralelo na história recente do Brasil no segundo mandato do governo Lula. Desde o início de seu mandato, Dilma conheceu avaliações, quase todas, acima de 50%. Fernando Henrique, em seu primeiro mandato, teve a aprovação "ótimo" e "bom" gravitando, a maior parte do tempo, em torno de 40%. A melhor avaliação alcançada nesse período ocorreu entre o final do segundo ano de seu mandato e o início do terceiro ano. Fernando Henrique disputou a reeleição com pouco mais de 40% de "ótimo" e "bom", e venceu.
O segundo mandato de Fernando Henrique começou com avaliação positiva decrescente. A popularidade do presidente foi vitimada pela desvalorização cambial de janeiro de 1999, com a qual vieram mais inflação e menos crescimento. A avaliação positiva do governo Fernando Henrique em seu segundo mandato ficou sempre abaixo de 30%. Seria impossível eleger o sucessor. Em popularidade, a Dilma de hoje está se saindo bem melhor do que os dois governos Fernando Henrique e o primeiro governo Lula.

A avaliação de governo publicada periodicamente pelos institutos de pesquisa está baseada em uma pergunta muito simples: "Como você avalia o governo Dilma? Ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo?" A mesma pergunta é utilizada para governos municipais e estaduais. Os elitistas de plantão, que de tempos em tempos afirmam que o eleitorado não sabe votar, devem também passar a afirmar que os eleitores não sabem avaliar seus governos. Voto e avaliação estão intimamente conectados.
Caberia perguntar o que é saber votar e o que é saber avaliar. Cada eleitor avalia um governo em função de seus interesses e de sua ideologia, em função de como liga a ação do governo com a satisfação de seus objetivos de vida. Em que pese a enorme confusão de divisões administrativas - no Brasil, a educação é fornecida pelos governos federal, estadual e municipal e a saúde, pelos governos estadual e municipal -, essas e várias outras superposições de atribuições não impedem que o eleitor saiba minimamente qual esfera de governo cuida de qual serviço.
Os eleitores sabem que os governos estaduais e municipais não têm controle sobre o desemprego, a inflação e o crescimento econômico. Em 2002, no último ano do governo Fernando Henrique, o desemprego atingiu 12,6%, a inflação foi de 12,5 e o crescimento do PIB ficou em 2,7%. A avaliação do governo terminou o ano em 26% e seu candidato foi derrotado nas urnas. Em 2010, no último ano do governo Lula, o desemprego ficou em 5,3%, a inflação foi de 5,9% e o crescimento do PIB foi de 7,5%. A avaliação de Lula terminou o ano em 80% e ele foi capaz de eleger Dilma.
Igualmente, os eleitores sabem que os governos municipais cuidam de saúde, educação primária e pavimentação. São os municípios que controlam os postos de saúde, os programas de saúde da família (PSF), unidades de pronto atendimento (UPA) e, com muita frequência, hospitais. No final de 2012, passamos por mais uma eleição municipal. Foi farto o noticiário que associava as péssimas condições de atendimento da saúde pública a prefeitos que não foram reeleitos. Os candidatos, por sua vez, fazem a campanha considerando o que os eleitores percebem e o que está sob seu controle. Não se veem candidatos em eleições municipais falando de desemprego, inflação e crescimento econômico. O mais próximo que chegam desses temas diz respeito à promessa de atrair empresas para o município, com a finalidade de gerar mais empregos.
Fernando Henrique foi eleito, pela primeira vez, em função de um tema econômico, a redução da inflação, graças ao Plano Real. A estabilidade da moeda permitiu que a grande maioria dos eleitores aumentasse de forma abrupta seu poder de compra. Eis a questão-chave quando se trata de avaliação presidencial, de avaliação do governo federal: poder de compra. Quando o poder de compra da população aumenta, melhora a avaliação do governo federal e de seu principal líder; quando o poder de compra cai, piora a avaliação do ocupante do Palácio do Planalto. Em 2002, o poder de compra da população diminuiu muito, em função do aumento do desemprego. Resultado: a oposição venceu a eleição presidencial.
Lula também foi avaliado em função do poder de compra da população. Dilma está sendo avaliada principalmente por essa mesma razão. Veja-se a posição de um eleitor mediano: sua renda real aumenta e, no decorrer do ano, ele passa a poder comprar coisas ou pagar por serviços aos quais antes não tinha acesso. Por exemplo, há um grande contingente de eleitores que entrou em um avião pela primeira vez durante o governo Dilma. Trata-se de uma melhoria efetiva das condições de vida e, para muitos que estão passando por isso, essa melhoria está associada à atuação da presidente Dilma. Bingo: é elevadíssima a probabilidade de que essas pessoas avaliem o governo Dilma como sendo "ótimo" ou "bom". Da mesma forma, é elevadíssima a probabilidade de que votem em Dilma em 2014 se o aumento de poder de compra tiver continuidade.
O mais interessante do atual cenário é que a aprovação de Dilma é tão elevada quanto era a avaliação de Lula em seu segundo mandato, em que pese o fato de o crescimento econômico, em 2012, ter sido bem inferior aos índices de crescimento do segundo mandato de Lula. O crescimento de 2012 ficará em torno de 1% e a aprovação de Dilma está acima de 60%. Lula teve pouco mais de 60% de aprovação em 2010, ano em que se registrou um crescimento de 7,5%. O recado é claro: considerando-se as atuais condições, Dilma não precisa de um crescimento econômico tão elevado para ter a mesma popularidade de Lula. Mais do que isso, se o alvo for a popularidade presidencial, pode-se afirmar que Dilma não precisa de elevadas taxas de crescimento econômico. Ela tem a seu favor a mais baixa taxa de desemprego desde que o IBGE iniciou a medição da desocupação. Em função das mudanças demográficas, há menos jovens entrando no mercado. A pressão para gerar novos postos de trabalho diminuiu muito.
Tudo indica que em 2013 o crescimento do PIB será maior do que em 2012, e o desemprego continuará caindo. As previsões mais pessimistas são de que a economia crescerá 3% neste ano. Há quem preveja 4%. O fato é que, dentro do horizonte previsível, o crescimento, em 2013, será bem maior do que o do ano que passou. Resultado: a avaliação de Dilma vai melhorar ainda mais. Combinando-se desemprego em queda e crescimento em alta, pode-se esperar que Dilma atingirá a marca de 70% de aprovação, na soma de "ótimo" e "bom", no decorrer do ano.
Nosso sistema político, o presidencialismo de coalizão, é bastante dependente, para seu bom funcionamento, de um presidente popular. Deputados e senadores sabem que não se vota contra um chefe de governo bem avaliado. Quando os deputados voltam para suas bases políticas, no fim da semana, conversam com aliados políticos, vereadores e prefeitos que os apoiam e toda sorte de cabos eleitorais. Ouvem desses aliados, que têm contato permanente com os eleitores, que a presidente está bem avaliada. Não é uma pesquisa científica, mas é a maneira de pesquisar dos políticos. Quando voltam a Brasília, não ousam votar contra o governo.
Dilma tem hoje o maior capital político que qualquer presidente pode ter: a elevada aprovação popular. Não apenas entra o ano com esse capital, mas tudo indica que ele crescerá. A popularidade pode cair, mas, para que isso aconteça, serão necessários fatos novos. Por ora, os fatores de risco são dois. O externo, totalmente fora de controle, que tem a ver com as crises da Europa e dos Estados Unidos, e o fator interno, relacionado com a possibilidade de racionamento de energia.
Afirma o ditado que gato escaldado tem medo de água fria. A história recente do país mostra que os efeitos recessivos de um racionamento de energia podem ferir de morte o aumento do poder de compra da população e, consequentemente, a popularidade do presidente. Isso reforça o que sempre soubemos: na democracia, sempre estaremos diante da incerteza.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" e "O Dedo na Ferida: Menos Imposto, Mais Consumo". E-mail: Alberto.almeida@institutoanalise.comwww.twitter.com/albertocalmeida

Autorizado pelo autor

Nenhum comentário:

Postar um comentário