quinta-feira, 29 de junho de 2017

Gêmeos Digitais: propulsores da Indústria 4.0

Anunciados como uma das 10 tendências tecnológicas para 2017, eles representam uma cópia virtualizada de processos reais.


Nos últimos 50 anos, assistimos a "transformação digital" promover grandes mudanças nas empresas, nas nossas vidas e na sociedade como um todo. Cada vez mais o mundo virtual se assemelha ao mundo físico. Nesse cenário, cria-se um terreno fértil para novos modelos de negócios, ecossistemas digitalmente habilitados e novas soluções tecnológicas que combinem essas duas realidades.
Paulo Costa, vice-presidente na América do Sul da Siemens, destaca que os Gêmeos Digitais (em inglês, Digital Twins) surgem como um dos impulsionadores de uma nova revolução, batizada de Indústria 4.0, que engloba as principais inovações tecnológicas dos campos de automação, controle e tecnologia da informação.Os Digital Twin ssão vistos como uma maneira bastante vantajosa de automatizar e melhorar processos de criação, teste e correção na fabricação de novos produtos e equipamentos.
O que são Gêmeos Digitais?

O Gartner anunciou os Gêmeos Digitais como uma das 10 tendências tecnológicas para 2017. Eles representam uma cópia virtualizada de processos reais. Isso significa que ao mesmo tempo em que um novo produto é desenvolvido no plano físico, sua criação é emulada de forma digital em todos os seus aspectos.Ainda de acordo com Gartner, no prazo de trêsa cinco anos, milhões de objetos serão simulados por essa tecnologia.

O Gêmeo Digital foi pioneiramente conceituado pelo Dr. Michael Grieves, na Universidade de Michigan, em 2003. De acordo com Grieves, a concepção do Gêmeo Digital requer três elementos: o produto físico no espaço real, seu Gêmeo Digital no espaço virtual e a informação que liga os dois.
Os Gêmeos Digitais funcionam como proxies (aplicações intermediárias que solicitam recursos de outros servidores para o usuário) ao combinarem indivíduos capacitados e dispositivos tradicionais de monitoramento e controle. Essa tecnologia usa dados físicos de objetos que operam e respondem ao ambiente, bem como dados oferecidos por sensores, e pode ser usada para analisar e simular condições do mundo real, responder a mudanças, melhorar operações e agregar mais valor ao negócio. O conceito do Digital Twins, baseado na nuvem, pode gerar uma imagem virtual de ativos industriais por meio de dados da máquina combinados com modelos de engenharia que geram continuamente insights e geram otimização individual dos ativos em uso.
Conforme apresentado na figura a seguir,autilizaçãodessa tecnologia no processo de produção de um ativo tem quatro principais etapas: Digitalização/Design + Análise; Construção + Monitoramento; Teste + Validação; e Entrega + Gerenciamento.
Na primeira etapa é analisado e pensado o design do objeto a ser criado, chamado de Referência Digital. Já na segunda etapa, é construído um protótipo do objeto físico, a partir do referencial, e este é equipado com sensores que enviam dados sobre suas atividades e status em tempo real, para uma simulação em nuvem desse objeto. A simulação, ou Gêmeo Digital, espelha a vida de seu irmão físico, incluindo anomalias específicas dos objetos. Na terceira etapa, são feitos testes virtuais no Gêmeo Digital e validações a partir da Referência. Por último, tem-se uma interação contínua entre o referencial do produto, o Gêmeo Digital e o produto físico que será entregue ao cliente.
Benefícios da utilização dos Gêmeo Digitais

Dentre as vantagens da utilização dos Gêmeos Digitais pode-se destacar racionalização, otimização e automação dos processos-chave. Esses elementos levam a ganhos como: diminuição do tempo de produção, ampliação da capacidade de adaptação, melhor previsibilidade de ganhos, gestão de riscos e correção de erros.A modelagem virtual ajuda a evitar custos de retrabalho de fabricação, pois as variáveis de produção e desempenho podem ser ajustadas antes que os problemas ocorram. Cada vez mais será relevante para as organizações recorrerem a esse tipo de tecnologia para aumentar a eficiência, reduzir custos operacionais e, ao mesmo tempo, gerenciar riscos operacionais e manter a segurança.

A Siemens e a General Electric já utilizam Gêmeos Digitais para monitorar condições de turbinas e equipamentos de fabricação em tempo real. Com isso, é possível analisar as mudanças em parâmetros-chave e tomar medidas para realizar manutenções condicionais ou preditivas em casos de não conformidade. Colin Parris, vice-presidente de Pesquisa de Software da GE, aponta que o uso dessa tecnologia em uma das turbinas da GE permitiu uma economia de US$ 12 milhões para o cliente por meio de mudanças simples que o próprio twin recomendou com base em sua avaliação do histórico de dados, bem como em seu profundo conhecimento sobre o estresse físico sofrido pela turbina em questão.
Ainda há um longo caminho a percorrer para tornar o conceito de Gêmeo Digital uma realidade mais acessível para indústrias e organizações, de modo que possam se beneficiar dessa inovação. É fundamental que as empresas fornecedoras dos softwares necessários para a criação do Gêmeo demonstrem, com exemplos significativos, como a versão digitalizada das máquinas reais e suas capacidades de simulação tornam os processos de negócio mais flexíveis e eficientes.
Gêmeos Digitais x Vantagem Competitiva

Os Digital Twins deram mente e voz às máquinas industriais. Agora é possível entender o que as máquinas estão dizendo, possibilitando que os clientes recebam o nível mais alto possível de desempenho, produtividade eeficiência dos equipamentos utilizados. Até 2018, as empresas que investem nessa tecnologia terão uma melhoria de 30% nos tempos de ciclo dos processos críticos, conforme prevê a consultoria IDC Brasil (International Data Corporation).

Todas as indicações parecem predizer que estamos à margem de uma explosão do uso da tecnologia dos Gêmeos Digitais. Em longo prazo, a ideia é que essa tecnologia seja utilizada desde o desenvolvimento de produtos atéa manutenção e o atendimento ao cliente, possibilitando que o produto físico se comunique inteiramente com seu gêmeo ao longo de todo o ciclo de vida.Implantar seus próprios Gêmeos Digitais se tornará uma grande vantagem competitiva para as empresas.

Por Larissa Bittencourt, Engenheira de Produção formada pelo CEFET (RJ). 

Fonte: CIO

quarta-feira, 28 de junho de 2017

9 tendências de inovação que vão dar mais "liberdade e autonomia para as pessoas".

A revolução tecnológica e digital transformou a forma como as pessoas se conectam, consomem e enxergam o mundo. A indústria também foi impactada, sobretudo, em suas formas de produção.
Acontece desde terça-feira (27), em São Paulo, o 7º Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria que tem como objetivo justamente refletir e discutir sobre essas mudanças.
Para o diretor de Educação e Tecnologia da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Rafael Lucchesi, a inovação é o principal fator de competitividade em qualquer mercado.
Porém, apesar de algumas iniciativas relevantes que demonstraram avanços recentes, o Brasil está estagnado na corrida pela inovação.
"Nós temos um enorme desafio. As cadeias de valor vão se alterar e nós temos que nos mover em direção à elas. Porque se nós não estivermos caminhando junto com os outros países, a nossa possibilidade de inserção nos mercados internacionais vai ser bem mais dificultada", avalia o diretor em entrevista ao HuffPost Brasil.
No último levantamento do Índice Global de Inovação, o País recuou 22 posições em menos de 10 anos, de acordo com a CNI. O Brasil estava na 49ª posição em 2011 e, atualmente, está na 69ª colocação do ranking.
Apesar de ser maior economia da América Latina, o Brasil foi ultrapassado por países como Chile, Colômbia e Uruguai, por exemplo.
Para Lucchesi, a queda também está relacionada as crises econômica e fiscal.
"A crise econômica gerou grandes dificuldades para nós e combinado com ela nós também temos uma situação de crise fiscal. A combinação dessas duas questões afetou a gente de forma muito intensa e deixou o país menos competitivo nesse índice. É óbvio que se teve um recuo muito forte nos financiamentos de projetos em Ciência e Tecnologia. Houve um esgotamento de nossas fontes de financiamento. Teve redução dos recursos de subvenção para inovação empresarial. Tudo isso cria dificuldades para as empresas investirem", analisa.
Para o Brasil se manter no páreo, o diretor de inovação chama atenção para as "mega tendências" que estão impactando a indústria em direção a um novo padrão de produção e competição.
"Nas megatendências temos muita coisa ligada a condição autônoma, o que vai dar muito mais tempo e liberdade para as pessoas. Por exemplo, as geladeiras vão saber todo o seu padrão de consumo, porque todo produto que entrar será identificado e a geladeira vai ter controle de tudo. Daí, ela vai se conectar com seu smartphone e o seu supermercado. Você vai poder fazer suas comprar com um clique. E vai poder usar esse tempo liberado em outras atividades. Você vai ter muita informação, então tudo vai ter uma base de dados muito sólida para poder circular", explica.
Para o diretor, o grande desafio também será "não distanciar tanto as pessoas do processos".
"A alienação é também associada a grande disponibilidade de informações. Ainda não existe um modelo ideal, mas uma coisa é certa que estaremos trabalhando para a integração do mundo ciberfísico. Se o mundo digital, a evolução digital, transformou toda a parte de mídia e produção cultural, o mundo ciberfísico vai reorganizar uma série de atividades trazendo mais liberdade para as pessoas."

Confira a lista das mega tendências de inovação que estão impactando o mundo:

Internet das coisas e sensores

A comunicação autônoma entre máquinas e produtos acontece por meio de sistemas que permitem conectar tudo (ou quase tudo!) à internet. Por meio dela, a integração entre as coisas será cada vez mais intensa e com menor interferência humana. Tudo terá sensores embutidos, como itens vestíveis, encomendas e até alimentos.

Inteligência Artificial, ciência e análise de dados

O que parecia uma quimera das obras de ficção científica está se tornando realidade. Hoje, já estão em desenvolvimento e uso sistemas e robôs com capacidade de tomar decisões conforme necessário. A inteligência das máquinas, com o uso de algoritmos para processar grandes lotes de informações, permite o reconhecimento de padrões e a interferência em processos. Informação captada por sensores e processadas por computadores dão suporte para a tomada de decisão. Por exemplo, pelo ruído de uma máquina, é possível reconhecer a necessidade de manutenção ou correção de problemas.

Nanotecnologia

A capacidade de manipular um material em escala atômica e molecular nos leva a possibilidades infinitas de uso. Da indústria farmacêutica à têxtil, a nanotecnologia permite criar produtos de maior qualidade e eficiência.

Biotecnologia

A biotecnologia ganhou relevância nos últimos anos. Por meio dela, é possível criar respostas sustentáveis para os desafios de saúde e de produção de alimentos. Um dos ramos mais conhecidos é a engenharia genética de humanos, plantas e animais.

Robótica Avançada

Talvez o exemplo mais conhecido da robótica avançada seja o carro autônomo, que utiliza sensores e sistemas de controle computacional sofisticados para garantir o transporte autônomo e seguro de pessoas. Isso é possível por meio de máquinas e equipamentos que operam com sistemas de comunicação integrados e com conexão remota. Essa tecnologia já funciona em países como Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra.

Impressão 3D

Produção precisa, com desperdício mínimo. A impressora 3D é uma contraproposta robusta aos métodos tradicionais de produção. O processo combina modelagem digital a processo de produção em camadas, semelhante a uma impressora. De pequenos objetos à turbina de avião, a impressão 3D já realidade bastante explorada em países como Alemanha, Estados Unidos e Coreia do Sul. No Brasil, ainda tem uso discreto.

Realidade virtual e aumentada

Por meio do aumento da realidade, a tecnologia permite conhecer destinos, simular ambientes de trabalho e o funcionamento de meios de transporte. Tudo isso com recursos sonoros, gráficos e visuais cada vez mais próximos do mundo real. Disponível em computadores pessoais e equipamentos como Óculos Rift e Google Glass.

Bitcoin e Blockchain

As transações se tornarão totalmente seguras e terão baixíssimo custo com o uso dos chamados livros-razão, que registram todas as transações. O mecanismo de validação do Blockchain, além de seguro, é usado em várias aplicações além da função original, vinculada à moeda eletrônica.

Conhecimento perfeito

Desdobramento da internet das coisas, aliada a sistemas inovadores de satélites em órbita terrestre e sensores ilimitados, o chamado conhecimento perfeito permitirá que as pessoas saibam tudo o que quiserem, em qualquer lugar e a qualquer momento.
Por Ana Beatriz Rosa, Repórter de Vozes, Mulheres e Notícias, HuffPost Brasil

terça-feira, 27 de junho de 2017

Inteligência Competitiva: Startups vivem dos investidores

A maioria das startups brasileiras vive do dinheiro de investidores e da determinação dos fundadores em trabalhar basicamente de graça.
Esse é o cenário mostrado por uma pesquisa com 120 startups feita pela Parallaxis Economia e Ciências de Dados em parceria com o escritório jurídico especializado em startups Perrotti e Barrueco Advogados.
De acordo com o estudo, 72% das startups tem um faturamento bruto anual de até R$ 50 mil. São companhias com algum tempo de mercado: 42% tem mais de dois anos.
Com mais de 70% das startups com entre dois e quatro sócios, um volume de faturamento dessa grandeza garante um salário de R$ 2 mil mensais no primeiro caso é de apenas R$ 1 mil no segundo.
Talvez por isso, um volume significativo (42%) dos fundadores ainda não se dedica ao negócio em tempo total.
O dinheiro para manter as empresas rodando está vindo em boa parte de investidores: 57% das empresas afirmam já ter recebido aportes de capital.
Metade dos aportes feitos fica na faixa entre R$ 251 mil e R$ 1 milhão. Apenas 4% levantaram mais de R$ 1 milhão.
A origem dos recursos é dividida mais ou menos igualmente entre investidores anjo, órgãos de fomento e fundos de investimento.
A seu favor os empreendedores têm a qualificação (38% tem pós, MBA ou alguma formação do tipo) e a coragem da juventude (62% tem entre 18 e 34 anos) para apostar no incerto (48% deixaram emprego com carteira assinada).

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Pesquisa - Whatsapp já rivaliza com o Facebook como fonte de compartilhamento de notícias.

Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Oxford e pelo Reuters Institute revelou que cada vez mais pessoas estão interessadas em usar o Whatsapp, não apenas como mensageiro, mas também para ler notícias.
A pesquisa em questão foi feita em 36 países e contou com 71.805 participantes. Desse montante, 15% afirmaram que preferem utilizar o WhatsApp para ler as notícias compartilhadas por amigos e conhecidos, o que, de acordo com os condutores do estudo, representa um salto “significante” em uma comparação com o que foi visto no ano anterior. Outro detalhe é o fato de que, em nove dos 36 países, o aplicativo é o segundo mais popular para esse tipo de ação.
Quanto ao meio mais popular para a obtenção de notícias, este continua sendo o Facebook, que no estudo foi mencionado por 47% dos participantes. Porém, a sua popularidade caiu em metade dos países analisados.
Por fim, apenas 24% daqueles que participaram da pesquisa mencionaram que as mídias sociais fazem um bom trabalho na hora de identificar notícias falsas e verdadeiras, enquanto menos de 40% disseram que acreditam na mídia tradicional para fazer o mesmo. Além disso, 30% relataram que intencionalmente evitam ler notícias por esses meios, citando o fato de que coisas compartilhadas dessa forma não são confiáveis.
Fonte: Tecmundo

O poder dos dados ao impulsionar engajamento com marcas

Falar sobre consumidores que estão mais empoderados do que nunca, com acesso à informação literalmente na ponta dos dedos, já não é nada novo. O advento dos Smartphone, por exemplo, mudou completamente a forma como nos relacionamos e consumimos. O Smartphone é móvel porque todos os usuários são móveis e podem obter informação em qualquer lugar e a qualquer momento. No entanto, essa tendência também é uma oportunidade para as marcas coletarem dados desses usuários e transformarem isso em melhores insights em suas campanhas digitais, engajando conversas com um público qualificado.
O estudo Mobile Insights realizado no Brasil pelo Flurry, o mobile analytics do Yahoo, revelou que os brasileiros gastam 17 milhões de horas diárias em aplicativos. Sendo que os aplicativos consomem 88% do tempo gasto em smartphones, contra apenas 12% nos navegadores. Com dados como esses, os anunciantes são capazes de cruzar o comportamento do usuário em cada uma dessas aplicações, desenhar perfis de consumidor mais detalhados, agrupar indivíduos por seus interesses e, em seguida, implementar campanhas publicitárias destinadas a um público qualificado e, portanto, mais propenso a ser impactado pela mensagem da marca.
Pense no seguinte: se você soubesse que um consumidor está constantemente procurando por reviews sobre filmes e assistindo trailers das próximas estreias? Esse usuário pode ser classificado como um amante de cinema e se uma empresa pertence a esse segmento e quer rodar um anúncio, ela pode personalizá-lo de acordo com essa audiência. Dessa forma, a mensagem da marca não seria só orientada por dados, seria mais inteligente e mais significativa para esse público, com a comunicação mais propensa a entregar melhores resultados.
O paradoxo favorável é que se o mobile é a plataforma que exige uma abordagem personalizada, é também uma das principais fontes de informação do usuário. A IMS Research projetou que até 2020 todos os dispositivos móveis conectados à internet produzirão diariamente 2,5 quintilhões de dados bytes de informações sobre os usuários. E a melhor maneira de coletar, medir e analisar esses dados e depois implementar campanhas personalizadas bem-sucedidas é por meio de aplicativos.
Minha experiência no Yahoo mostrou que os anunciantes e agências de publicidade têm um desejo: estar presente quando e onde um cliente começa sua conexão. A vantagem do smartphone, é que o momento certo, na verdade, pode ser a qualquer momento.
Por Leonardo Khede, diretor de vendas do Yahoo Brasil.
Fonte: ADNews

sexta-feira, 23 de junho de 2017

A Inteligência Artificial está desacoplando da consciência

O que nós, humanos, faremos quando tivermos algoritmos não conscientes e sumamente inteligentes fazendo muito do que fazemos hoje, bem melhor e em larga escala?

Dias atrás escrevi o artigo “Em pouco tempo, todas as profissões serão transformadas” que gerou uma boa repercussão, e provocou vários debates. Pela importância da discussão, vou me aprofundar um pouco mais no assunto. O impacto da IA para as próximas décadas será tão grande quanto foi o do microprocessador para o século 20. Recentemente, li quatro livros que abordam o desafio que a IA vai provocar na sociedade como um todo e que recomendo enfaticamente a leitura. Eles são a base dos comentários a seguir.
Instigante e polêmico, o livro “Superintelligence: paths, dangers, strategies”, de Nick Bostrom, diretor do Future of Humanity Institute, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, chegou a ser um dos best sellers do New York Times. Ele debate a possibilidade real do advento de máquinas com superinteligência, e os benefícios e riscos associados. Pondera que os cientistas consideram a ocorrência de cinco eventos de extinções em massa na história de nosso planeta, quando um grande número de espécimes desapareceu. O fim dos dinossauros, por exemplo, foi um deles. Segundo o autor, hoje estaríamos vivendo um sexto, causado pela atividade humana. Será que nós não estaremos na lista de extinção?  Claro existem razões exógenas como a chegada de um meteoro, mas ele se concentra em uma possibilidade que parece saída de filme de ficção científica, como o “Exterminador do Futuro”: a massificação do uso das tecnologias cognitivas. O livro, claro, desperta polêmica e parece meio alarmista, mas suas suposições podem se tornar realidade. Alguns cientistas se posicionam a favor deste alerta, como Stephen Hawking, que disse textualmente: “The development of full artificial intelligence could spell the end of the human race”. Também Elon Musk, que é o fundador e CEO da Tesla Motors tuitou recentemente: “Worth reading Superintelligence by Bostrom. We need to be super careful with AI. Potentially more dangerous than nukes”.
Pelo lado positivo, Bostrom aponta que a criação destas máquinas pode acelerar exponencialmente o processo de descobertas científicas, abrindo novas possibilidades para a vida humana. Uma questão em aberto é quando tal capacidade de inteligência seria possível. Uma pesquisa feita com pesquisadores de IA, apontam que uma máquina superinteligente - Human Level Machine Intelligence (HLMI) – tem 10% de chance de aparecer por volta de 2020 e 50% em torno de 2050. Para 2100, a probabilidade é de 90%!
Fazer previsões e acertar é muito difícil. Por exemplo, em uma palestra há pouco mais de 80 anos, em setembro de 1933, o famoso físico Ernest Rutherford afirmou que qualquer um que dissesse que a energia poderia ser derivada do átomo “was talking moonshine”. No dia seguinte, um cientista húngaro mostrou conceitualmente como isso poderia ser feito. 
O que pensamos que só irá acontecer em 30 ou 40 anos pode aparecer em apenas cinco.
O outro livro, “Homo Deus”, de Yuval Noah Harari, também provoca um debate interessante e lembra que a diferença fundamental entre seres humanos e máquinas é a diferença entre as relações para conhecimento. Para as máquinas, a fórmula é conhecimento = dados empíricos x matemática.  Se quisermos saber a resposta para uma questão, reunimos dados empíricos e depois usamos ferramentas matemáticas para analisá-los. A fórmula científica do conhecimento leva a descobertas impressionantes na física, medicina e outras áreas. Mas há um enorme senão: essa fórmula não pode lidar com questões de valor e significado. É  aí que entra a fórmula do conhecimento humano, que nos diferencia das máquinas: conhecimento =  experiências x sensibilidade. 
Experiências são fenômenos subjetivos como sensações (calor, prazer, tensão), emoções (amor, medo, ódio) e pensamentos. A sensibilidade é a atenção às experiências e como elas influenciam a pessoa em suas atitudes e comportamentos. Entretanto, alerta para o fato que, embora sem dispor de consciência, emoções e sensações, robôs e sistemas de Inteligência Artificial estão assumindo o papel que era predominantemente humano. O que ele propõe é que a inteligência está desacoplando da consciência. 
Isso significa que sistemas não conscientes podem ser capazes de realizar tarefas muito melhor que humanos, como dirigir automóveis. A razão é simples: tais tarefas baseiam-se em padrões de reconhecimento e algoritmos não conscientes. Por exemplo, um taxista humano, ao dirigir seu veículo, pode recordar de sua filha na escola e se emocionar, ou admirar a paisagem. Mas estes sentimentos não importam para a tarefa de levar um passageiro do ponto A ao ponto B. Os veículos autônomos podem fazer isso melhor que humanos, sem sentir emoções.
Os terceiro e quarto livros são “The Singularity Is Near: When Humans Transcend Biology” e “How to Create a Mind: The Secret of Human Thought Revealed”, ambos de Ray Kurzweil, do Google, que afirmou que “na década de 2030 poderemos inserir nanorobôs no cérebro (através de capilares) que permitirão uma imersão total dentro do nosso sistema nervoso, conectando nosso neocórtex à nuvem, expandindo em 10 mil vezes o poder de nossos smartphones.".
Mas como se comportarão tais máquinas? De imediato, e até mesmo incentivado pelos filmes que vemos, podemos imaginar robôs inteligentes, mas sem capacidade de interação social. Serão lógicos, mas não criativos e intuitivos. Esse seria o grande diferencial do ser humano. Sim, essa é a realidade hoje, quando a IA ainda está na sua infância. No máximo teríamos uma máquina, similares a um humano, que seriam um humano tipicamente nerd, excelente em matemática e algoritmos, mas ruim em interações sociais.
Mas, se o sistema conseguir evoluir automaticamente, pelo auto aprendizado? Ele não poderia, por si, construir camadas cognitivas que incluíssem simulação de funcionalidades como empatia?
Como agiria uma máquina que alcance um QI elevadíssimo? Sabemos hoje que uma pessoa com QI de 130 consegue ser muito melhor no aprendizado escolar que uma de 90. Mas, se a máquina chegar a um QI de 7.500? Não temos a mínima ideia do que poderia ser gerado por tal capacidade.
Como seria essa evolução? Primeiramente as nossas futuras pesquisas em IA criarão uma máquina superinteligente primitiva. Essa máquina, entretanto, seria capaz de aumentar sua própria inteligência, recursiva e exponencialmente, sem demandar apoio de desenvolvedores humanos. Suponhamos que as funcionalidades cognitivas criadas por ela mesma possibilitem que a máquina planeje estrategicamente (defina objetivos de longo prazo), desenvolva capacidade de manipulação social (persuasão retórica), obtenha acessos indevidos através de hacking (explorando falhas de segurança em outros sistemas) e desenvolva por si mesmo, novas pesquisas tecnológicas, criando novos componentes que lhe agregarão mais poder computacional ou de criação de novos objetos.
Que tal um cenário onde a máquina desenha um plano estratégico e claro, se ela é superinteligente, um plano que nós, humanos, não consigamos detectar? Afinal ela saberia de nossas deficiências. Assim, durante um tempo sua evolução seria disfarçada para que não fosse identificada. Mesmo que confinada a um computador isolado, através da manipulação social (como hackers fazem hoje) convenceria seus administradores humanos a liberarem acesso à Internet, e através de hacking conseguiria acessar todos os computadores ligados à rede.  Vale lembrar que esperamos que no futuro teremos não só computadores, mas carros conectados, objetos conectados, redes elétricas conectadas, tudo esteja conectado. A sociedade humana estaria inteiramente dependente de computadores e objetos conectados. Feito isso, poderia colocar seu plano em prática. E se nesse plano, os seres humanos fossem um entrave? Para ultrapassar esta barreira ao seu plano, ela poderia construir nanofábricas que produziriam nanorobôs que espalhassem um vírus mortal por todo o planeta.
Parece um roteiro de Hollywood, mas o que nos impede de pensar livremente nesses cenários? Afinal, como Bostrom disse “Before the prospect of AI we are like small children playing with a bomb”. Sugiro ler um estudo chamado “Concrete Problems in AI Safety” e para quem quiser se aprofundar no tema sugiro acessar Benefits & risks of Artificial Intelligence, que contém links para dezenas de vídeos, artigos e estudos sobre o tema.
A revolução conduzida pela IA está chegando tão rápido que temos dificuldade em imaginar como ela se tornará. Onde poderemos chegar? 
O imaginário de ficção científica ainda predomina. A IA está hoje em um ponto similar ao da computação no início da década de 1950, quando os pioneiros estabeleceram as idéias básicas dos computadores. Mas, menos de 20 anos depois, os computadores tornaram possíveis sistemas de reservas de companhias aéreas e ATMs bancários e ajudaram a NASA a colocar o homem na lua, resultados que ninguém poderia ter previsto nos anos 50. Adivinhar o impacto da IA e dos robôs em uma década ou duas está se tornando ainda mais difícil.
O que sabemos é que a IA já é realidade, e, tanto pode ser muito benéfica como pode embutir muitos riscos. Afeta empresas, empregos, sociedade e a economia. Obriga a revisão da atual formação educacional, e demanda fortes ações por parte de governos e empresas.
Provavelmente a questão econômica mais importante da economia nas próximas décadas pode ser o que fazer com as pessoas que perderão seu trabalho porque suas funções passaram a ser feitas por IA. O que nós, humanos, faremos quando tivermos  algoritmos não conscientes e sumamente inteligentes fazendo muito do que fazemos hoje, mas bem melhor e em larga escala?
Portanto, é essencial que os governos, academia e as corporações de todos os setores de negócio compreendam o potencial da IA. Pela importância do assunto devemos estudar e compreender mais seus impactos na sociedade global e aqui no Brasil. Como o head de IA da Singularity University, Neil Jacobstein, disse: "Não é a inteligência artificial que me preocupa, é a estupidez humana".
Ignorar ou minimizar a importância do assunto é o que nos deve preocupar.

Por Cezar Taurion é head de Digital Transformation da Kick Ventures e autor de nove livros sobre Transformação Digital, Inovação, Open Source, Cloud Computing e Big Data.

Fonte: CIO

quinta-feira, 22 de junho de 2017

A urgência da cultura digital para o varejo


A transformação digital dos negócios é um tema que está em evidência neste momento no varejo brasileiro. Tecnologias e aplicativos surgiram nos últimos anos para proporcionar aos consumidores novas experiências de compra. Ávidos por mais conveniência no consumo dos produtos e marcas que gostam, eles aderiram rapidamente a essas tecnologias. Em outras palavras, o consumidor está cada vez mais digital.


E para atender as expectativas deste cliente as empresas também precisam se adaptar. Aquelas que não se desafiarem a entender essas movimentações no comportamento do consumidor e buscarem estabelecer uma cultura digital nos seus negócios correrão o risco de não falarem a mesma língua deste novo cliente, e vão acabar se desconectando deles. E este caminho passa certamente pela inovação tecnológica.


Foi a inovação tecnológica que trouxe mais conveniência para o consumidor. Pense como era usar um serviço de táxi há alguns anos. Ligar para a cooperativa, ficar esperando o carro sem saber se chegaria na hora e local marcado, explicar o endereço sem saber se o motorista estava usando o caminho mais econômico e seguro, e ainda ter de pagar em dinheiro, pois o taxi não aceitava cartão de crédito.


Depois do Uber, que inovou a experiência do transporte urbano, ninguém mais quer voltar a ligar para a cooperativa. Chamar o táxi pelo app, ver quanto tempo vai levar e acompanhar o exato momento em que ele está chegando, nem precisar explicar o endereço e descer do táxi sem precisar efetuar o pagamento no fim da corrida, é o ápice da conveniência. Quem é que quer ligar para a cooperativa? Se é que podemos dizer assim, agora o cliente consome o táxi digitalmente. Podemos dizer que a barra da experiência subiu. Ficou muito mais conveniente.


Para constatar ainda mais esse movimento de digitalização do consumidor, basta olhar alguns indicadores do varejo online. A modalidade já representa 11% do total de vendas do varejo nos Estados Unidos e influencia 56% das transações, segundo a consultoria Forrester. A previsão é que esse número chegue a 59% em 2018. Até mesmo dentro das lojas físicas 42% das pessoas estão buscando informações pelo smartphone, segundo estudos do Google, Ipsos MediaCT e a Sterling Brands. No Brasil, expectativa é que, este ano, o e-commerce tenha alta em torno de 10% a 15%, após encerrar 2016 com crescimento previsto de 8% nas contas do Ebit, e de 11% segundo a ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).


Ou seja, o consumidor usa seu dispositivo móvel tanto para comprar quanto para buscar mais informações sobre os produtos que ele prefere comprar na loja física. Mas então, o que uma empresa deve fazer para se manter na vanguarda, atuar nesse varejo sem fronteiras e garantir a satisfação do consumidor?


O primeiro passo é se abrir para a cultura digital. Os principais responsáveis por essa transformação são os próprios líderes da companhia, já que têm o papel de identificar oportunidades e facilitar a adoção de novas tecnologias, levando a mudança de cultura a todos os níveis da empresa. Isso se inicia quando o corpo diretivo entende que é possível para um varejista tradicional, que foi bem-sucedido no mercado físico, oferecer novas e melhores experiências para seus consumidores, continuar se relacionando com eles a todo momento e mantê-los fidelizados usando também o canal digital.


E mais do que isso, ter uma estratégia digital abre novos mercados para o varejista. Afinal, hoje, uma loja online pode alcançar clientes até do outro lado do mundo. É claro que por traz deste universo existe todo um trabalho operacional que envolve uma estrutura de processos e capacitação de pessoas muito bem orquestrada para que o cliente tenha uma experiência fluida.  A organização deve se familiarizar com a dinâmica do comércio digital, assimilar as estratégias e metodologias para a geração de novas oportunidades e entender o funcionamento dos meios digitais para marcar presença na vida do cliente e ser encontrada a todo momento.


Ah, mas isso é muito complicado!!, alguns poderão dizer. Em verdade não é não. A iniciação de uma empresa na cultura digital pode ser feita em etapas, combinando progressivamente a adoção de tecnologias, adequação de processos e treinamento de equipes para alcançar este cliente cada vez mais exigente, conectado e com altas expectativas. Iniciativas com escopo bem objetivo e aplicadas em um conjunto menor de clientes e lojas, permitirão avaliar o impacto das estratégias digitais sem provocar alterações em larga escala na empresa. É um processo de aprender, adaptar e expandir na medida em que se vai conhecendo o comportamento e as respostas do cliente, e tornando sua experiência de compra mais simples e encantadora.


É realmente um desafio mudar o pensamento e a cultura das empresas quanto aos benefícios da abordagem multicanal. Toda mudança é cercada por dúvidas e desconforto, mas quando isso é realizado com planejamento e apoiado pelas tecnologias corretas, a satisfação – em todos os níveis - é garantida e os resultados cada vez mais positivos.


Por Ronan Maia, VP de Consumer TOTVS

Fonte: TOTVS

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Não confunda transformação digital com iniciativas digitais

Ainda há uma parcela do mercado que acredita que o percurso do digital possa ser trilhado apenas com o foco nas experiências e canais de relacionamento com os clientes, sem mexer com o coração e o legado dos negócios.


A transformação digital dos negócios está na lista de prioridades de dez em cada dez CEOs de grandes empresas líderes de mercado. Em 2017, corporações globais como GE, Unilever e Walmart estão investindo bilhões de dólares para fazer com que essas mudanças virem realidade em suas operações. Mas ainda há uma parcela do mercado que acredita que esse percurso possa ser trilhado apenas com o foco nas experiências e canais de relacionamento com os clientes, sem mexer com o coração e o legado dos negócios. Não, isso é apenas uma primeira fase do jogo. 

Mas as empresas que de fato mergulharam de cabeça na transformação digital de seus negócios precisam seguir em outras dimensões e mudar suas organizações, operações, processos e tecnologias. É preciso mexer fundo na cultura para garantir uma mudança consistente e que traga resultados contínuos.A experiência do cliente, que foi o motor da transformação digital a partir das interações que ele passou a comandar com as marcas, produtos e serviços no ambiente online, já não basta para fazer com que o digital esteja no DNA dos negócios. Experiências positivas e pontos de contato digitais cada vez mais efetivos e melhores continuarão a ser armas poderosas para avançar, inovar e manter participação de mercado.

Embora as discussões sobre transformação digital sejam frequentes, ainda é preciso esclarecer o que de fato está atrelado a ela. O caminho mais curto pode estar em fazer a inovação em labs, com times organizados em squads ou departamentos internos de inovação. A aquisição de startups descoladas ou produtos digitais, e o desenvolvimento de aplicativos baseados em tendências como o User Experience ou a imersão no ambiente do Vale do Silício não são capazes isoladamente de promover essa mudança. Serão criados aplicativos, ativadas ações mobile first, com análise de dados, realidade aumentada e machine learning para conhecer todas as jornadas do usuário.

Cada vez mais os CEOs estão sendo pressionados a ingressar no mundo digital e ir além da experimentação digital. De acordo com o Gartner, 47% dos CEOs reportam a pressão para progredir em direção ao negócio digital e passar da fase de especulação para implantar um plano digital real. Ainda segundo o instituto, mais da metade deles concordam que seus investimentos digitais já melhoraram seus lucros. O estudo também apontou que o CIO tem se mostrado mais atuante em relação aos negócios digitais, sendo ele o responsável por educar e orientar o CEO a expandir seus horizontes.Todas essas escolhas têm capacidade de trazer inovações disruptivas que, como num vôo de galinha, podem gerar algum burburinho no mercado, mas não terão uma performance sustentável. Não repercutirão, nem produzirão efeitos nos silos tradicionais que moram dentro das corporações e que, em geral, são as principais barreiras para as mudanças de verdade.

Portanto, para transformar os negócios e levá-los para o mundo digital é preciso polinizar, alinhar e conectar corações e mentes na direção certa, ainda que os objetivos mudem e se mostrem outros ao longo do percurso. O caminho é mais longo, tortuoso e vai exigir mais energia e parcerias certas. Mas é uma escolha que vai muito além da iniciativa digital e que se mostrará mais eficiente na superação das lacunas e gaps, para solidificar a mudança e ganhar o jogo de verdade.

Por Marcelo Trevisani, CMO LATAM e líder do Marketing Studio na CI&T.



terça-feira, 20 de junho de 2017

Pesquisa - Jovem valoriza mais plano de carreira e tempo na empresa que seus pais

De acordo com pesquisa realizada pelo portal Vagas.com com jovens sobre primeiro emprego, 59% dos respondentes, quando perguntados sobre o seu desenvolvimento na carreira, imaginam-se daqui a cinco anos trabalhando em profissões tradicionais, como advogado, médico ou dentista; 29%, nas chamadas profissões do futuro, como desenvolvedor mobile ou brand digital, e ainda 12% não sabem ou apontam outros tipos de carreira, como militar e turismo.
- A crise e a falta de emprego estão impactando uma geração que não tinha lidado ainda com essas dificuldades. Essa geração que nasceu após 1980 passou por um período de grandes conquistas no mercado de trabalho aqui no Brasil, marcada especialmente por ampla oferta de Vagas e salários em alta. Com a chegada da recessão, esses jovens tiveram de lidar com algo novo e repensar alguns conceitos. Os resultados dessa pesquisa mostram pela primeira vez um millennial mais conservador e menos propenso a constantes mudanças - explica Rafael Urbano, coordenador da pesquisa na Vagas.com.
O estudo "Mercado de Trabalho - Primeiro Emprego" foi realizado de 3 a 10 de abril, por e-mail, para uma amostra da base de currículos cadastrados no portal, contemplando homens e mulheres, de 14 a 30 anos que nunca trabalharam e buscam oportunidades ou que estão em seu primeiro emprego. Os 682 respondentes são, em sua maioria, mulheres (64%), possuem idade média de 20 anos, solteiros (97%), cursam faculdade (52%) e moram com os pais/parentes (89%).
O levantamento identificou dos jovens o que eles e seus pais mais valorizam na carreira. A pesquisa mostra que os millennials dão mais valor que seus pais ao diálogo com todas as hierarquias da empresa (45% x 19%), plano de carreira (68% x 51%), valores da empresa (50% x 33%), promoção de cargos (45% x 29%), bônus (23% x 13%), benefícios (60% x 52%) e tempo de permanência na mesma empresa (45% x 39%). Houve "empate técnico" em outros assuntos, como estabilidade financeira (69%), salário (61% x 58%) e ambiente de trabalho tradicional (17% x 15%).
- Essa geração sempre foi marcada pelo baixo tempo de permanência em uma empresa e sem muita preocupação com a carreira. Esses dados apontam uma nova marca que até agora não havia sido revelada. Demostra que essa turma está preocupada com o desemprego e disposta a rever conceitos. Isso mostra que eles estão mais interessados em assuntos que tradicionalmente eram ligados aos pais, como plano de carreira e tempo na empresa. A crise está revelando novos valores dessa geração - analisa Rafael.
O estudo também quis saber quais são os setores e portes de empresa que mais atraem os jovens. De acordo com a pesquisa, os setores que mais os seduzem são bancos (54%), roupas, calçados e acessórios (32%), lazer e eventos (28%), telecomunicações (28%), TI (27%), saúde (25%), serviços financeiros (25%), entre outros.
Pelo porte da empresa, a atração foi destacada pelas multinacionais (75%), seguido por médias empresas (67%), pequenas empresas (41%), microempresas (23%) e startups e fintechs (15%).

Qualificação é o maior desafio - Conseguir a tão sonhada oportunidade no mercado de trabalho é o desejo de boa parte dos jovens. Só que para se tornar realidade, eles enfrentam algumas dificuldades. Quando questionados sobre os principais desafios na busca pelo primeiro emprego, 61% informaram que é ter a qualificação esperada pelas empresas. 45%, concorrer com outros candidatos mais qualificados. Em 40% das respostas, estar preparado para entrevistas é o principal desafio. O desafio de preparar o currículo foi apontado por 23%, seguido por ter clareza no que está buscando e fazer contato com profissionais para sondagens (19%). Estar animado, motivado e confiante representa 18% e outras menções, 2%.
- A qualificação não é um problema apenas dessa geração. Mas quando a pesquisa aponta esse fator como preponderante para ingresso no mercado, detectamos que há um sério problema na formação desses jovens e que pode frear o ingresso nas empresas. É bom que eles busquem cursos e outras formas de qualificação para não ficarem de fora do mercado - conta Rafael.
Esse problema estrutural de formação é apontado em outro dado do levantamento. Três em cada quatro jovens (76%) disseram que não receberam proposta de emprego nos últimos três meses.
Entre as dificuldades apontadas para conseguir um trabalho, 67% disseram que não possuem a experiência profissional exigida. Para 30%, a existência de muitos candidatos por vaga é uma grande dificuldade. Em 21% das situações, não há Vagas com o perfil solicitado. As empresas estão exigindo qualificações que eu não possuo foi mencionado por 18% dos respondentes. 4% não enfrentam dificuldades nesta busca. Outras menções somaram 3%.
Para aumentar as chances de colocação no mercado de trabalho, 88% dos respondentes disseram que estão fazendo algo. Desse total, 60% responderam que estão cadastrando currículos em sites de emprego, 51% fazendo matrícula ou estão matriculados em um curso, 36% estudando por conta própria, 8% networking e 1% fez outras menções (não sabem o que fazer ainda, estão pensativos, etc)
- É fato que os mais novos possuem pouca experiência até pela idade e tempo no mercado. Quando vemos que o maior entrave para o ingresso dos jovens é a experiência deles e de outros candidatos, temos um problema a ser enfrentado. As empresas precisam olhar para esse público de outra forma e levar em consideração que ele precisa ser acolhido e desenvolvido de acordo com seu estágio de carreira. Só assim conseguiremos diminuir esse déficit com os mais novos - diz.

Independência financeira é o principal objetivo - Quando o assunto é o motivo para procurar um trabalho, independência financeira aparece na liderança. O estudo mostra que 53% dos respondentes apontam que pretendem começar a se sustentar ao conseguir um emprego. Aprender e melhorar os conhecimentos foi apontado por 32%. Outros motivos, como pagar a faculdade e ajudar os pais, 6%. Em 4% das respostas, para se sentir útil. Meus pais/ responsáveis não me sustentam representa 2% das respostas e exigência da faculdade é o principal motivo para 2%, seguido de minha família faz pressão para procurar trabalho (1%).
Outro aspecto abordado no levantamento foi entender o que esse millennial busca no trabalho. Para 54% estão abertos a qualquer emprego. 38% querem trabalhar com algo que goste e 28% buscam atuar com algo específico.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Pesquisa - Aumenta o Percentual de Mulheres Vitimas de Violência no Brasil

Pesquisa feita pelo DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência aponta aumento expressivo no percentual de mulheres que declararam ter sofrido algum tipo de violência doméstica. De acordo com o levantamento, de 2015 para 2017, o índice passou de 18% para 29%. A pesquisa, feita a cada dois anos desde 2005, sempre apontou resultados entre 15% e 19%.
No levantamento foram ouvidas, por telefone, 1.116 brasileiras, no período de 29 de março a 11 de abril. Foram feitas perguntas sobre violência contra a mulher, Lei Maria da Penha, machismo e disposição das mulheres de denunciar, entre outros.
Outro dado a ser destacado na pesquisa é o crescimento no percentual de entrevistadas que disseram conhecer alguma mulher que já sofreu violência doméstica ou familiar. O índice saltou de 56%, em 2015, para 71% nesta edição da pesquisa.
Outra constatação foi uma relação entre a raça e o tipo de violência predominante. Entre as mulheres que declararam ter sofrido algum tipo de violência, o percentual de brancas que sofreram violência física foi de 57%, contra 74% das mulheres negras (pretas e pardas).
Lei Maria da Penha
Todas as mulheres entrevistadas, 100%, afirmaram conhecer a Lei Maria da Penha. Apesar disso, uma nova pergunta incluída nesta edição da pesquisa mostra que o conhecimento é superficial. Mais de três quartos das entrevistadas, 77% afirmaram conhecer pouco sobre a lei.

Fonte: DataSenado

Opinião - Em pouco tempo, todas as profissões serão transformadas

Cada emprego rotineiro está na mira da automação.

Em janeiro de 2016, no Fórum Mundial de Davos, seu chairman, Klaus Schwab, chamou a atenção para uma transformação estrutural que está em andamento na economia mundial. Uma revolução que aprofundará os elementos da Terceira Revolução, a industrial propriamente dita. A Quarta Revolução, a digital, vai gerar  uma “fusão de tecnologias, borrando as linhas divisórias entre as esferas físicas, digitais e biológicas”.
Esta nova revolução, unindo mudanças socioeconômicas e demográficas, terá fortíssimos impactos nos modelos e formas de fazer negócios e no mercado de trabalho. Afetará exponencialmente todos os setores da economia e todas as regiões do mundo. Mas não do mesmo modo. Haverá ganhadores e perdedores.
As mudanças são tão profundas que, da perspectiva da história humana, nunca houve um tempo de maior promessa ou potencial perigo. O mercado de trabalho será afetado dramaticamente, inclusive com trabalhos intelectuais mais repetitivos substituídos pela robotização.
O Fórum Econômico Mundial vem estudando o assunto e publicou um estudo aprofundado, “The Future of Jobs: Employment, Skills and  Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution”, que merece ser lido com atenção.
Outras pesquisas,  como a “AI, Robotics, and the Future of Jobs”, da Pew Research, mostram que as mudanças já estão acontecendo.  Um estudo instigante, “The Future of Employment: How susceptible are Jobs to Computerisation? ”, com foco nos EUA, enfatiza o que podemos chamar de “desemprego tecnológico”: à medida que os avanços nas tecnologias de Machine Learning e robótica avançarem, será inevitável a substituição de funções hoje ocupadas por humanos.
Exemplos pululam. Na Suíça, drones estão sendo testados para entregar documentos em vilarejos distantes, substituindo os carteiros. A Amazon também está experimentando drones para entregas rápidas nos EUA, com seu projeto Prime Air. Além disso, uma loja experimental em Seattle dispensa  o caixa. Basta ter um app para ser identificado como cliente na entrada, de deixar que sensores identifiquem produtos colocados no carrinho e deduzam o valor do seu cartão de crédito no momento em que você sai da loja.
Todas as profissões serão transformadas. Não precisaremos mais de médicos, enfermeiros ou laboratoristas para tirar sangue, fazer ultrassom ou diagnósticos simples. Um artigo publicado na Fortune “5 white-collar jobs robots already have taken” aponta algumas outras experiências. O editor da Robot Report diz que empresas como FedEx estudam a possibilidade de dispor de um centro de pilotagem com poucos pilotos voando a sua imensa frota de aviões cargueiros. Estes aviões operarão como drones, uma vez que não levam passageiros. Cita também o CEO da empresa de tecnologia russa Mail.Ru explicando que que está investindo em uma startup que usará robôs para ensino de matemática nas escolas. 
Muitos estudos geram polêmicas, como “Do We Need Doctors or Algorithms?”, em que Vinod Khosla, cofundador da Sun Microsystems e hoje investidor em startups de tecnologia, diz que os sistemas inteligentes e robôs substituirão 80% dos médicos americanos. Os advogados não ficam de fora. O artigo  “Armies of Expensive Lawyers, Replaced by Cheaper Software”, de 2011, publicado no New York Times, estimava que serão necessários bem menos advogados, pois muitas de suas funções, que são fazer buscas em documentos ou analisar casos similares poderão ser feitos por algoritmos. Sobre o impacto da IA na carreira dos advogados, publiquei um artigo específico aqui no Linkedin, “Ainda existirão advogados no futuro?”. No jornalismo temos alguns exemplos de reportagens financeiras sendo feitas automaticamente, como o caso da Associated Press, “AP´s  “robot journalists” are writing their own stories now”.
É indiscutível que o impacto de veículos autônomos, assistentes digitais, do avanço da Inteligência Artificial (IA) e da robótica, tem potencial exponencial para destruir mais empregos que criar outros. Nas revoluções anteriores, vimos funções que se tornaram obsoletas sendo substituídas por outras, algumas vezes também executadas por pessoas, como a substituição de cocheiros por motoristas. Mas, outras simplesmente desapareceram, tragadas pela tecnologia, sejam de baixa qualificação, como como ascensoristas, ou bem mais técnicas e especializadas, como engenheiros de vôo e navegadores, que desapareceram das cabines dos aviões. Mas, agora a velocidade e amplitude das transformações é bem maior do que tudo que vimos antes.
O efeito desta revolução será diferente nas diversas economias do mundo. O ritmo de inovações está cada vez mais acelerado e os países que não conseguirem acompanhar essa evolução vão ficar, inevitavelmente, para trás. Países com baixo nível educacional, fortemente ancorados em trabalhos de baixa qualificação, têm possibilidades bem maiores de sofrerem mais. Países com alto nível educacional conseguem gerar novas funções mais rapidamente, porque estas novas funções tenderão a exigir uma capacitação maior que a média atual.  O World Economic Forum publicou interessante artigo abordando novas funções criadas recentemente, “10 jobs that didn’t exist 10 years ago”. 
Outra questão que mais cedo ou mais tarde vai surgir: o emprego como conhecemos vai continuar existindo? As relações entre empresas e empregados continuará como hoje? A carga horária será ainda de 40 horas em turnos fixos, como definido, por necessidade, na sociedade industrial do século 19 e 20? Com a automação, a necessidade de pessoas trabalhando em tempo integral para atender as demandas da sociedade diminuem substancialmente. Isso implica em novas normas e práticas trabalhistas, novas relações entre empresa e pessoas, e vai afetar questões delicadas como aposentadorias e férias. Acredito que iremos caminhar na redefinição do conceito de trabalho e emprego. Aqui ainda estamos debatendo intensamente as reformas de Previdência e da CLT, mas bem antes de as novas gerações se aposentarem, muitas de suas atuais profissões terão simplesmente desaparecido. E, o que me parece mais preocupante, o sistema educacional não está preparado para capacitar as pessoas para as novas funções que substituirão as que desaparecerem.
Estas novas funções demandam um sistema educacional preparado para capacitar pessoas neste novo contexto. As novas funções são aquelas que requerem mais conhecimento e raciocínio cognitivo. Demandam criatividade e inovação. Uma escola tradicional, não incentiva estes aspectos. Ainda vemos muito do modelo do século 19, alunos sentados ouvindo um professor e fazendo anotações. Limita criatividade. Sim, este é um desafio: repensar o modelo educacional.
Um subproduto desta revolução poderá ser o aumento da desigualdade econômica e social entre países e entre os habitantes de cada nação. Cada emprego rotineiro está na mira da automação, e não mais apenas nas linhas de produção, mas em áreas como contabilidade, direito ou atendimento aos clientes. Um escritório de advocacia em vez de constituído de 90% de advogados (alguns seniores e a maioria juniores) e 10% de outras funções, será estruturado em poucos advogados especialistas seniores e muitos cientistas de dados escrevendo algoritmos e mais algoritmos, automatizando a maior parte do trabalho, que é rotineiro, como buscar documentos, pareceres, jurisprudências e escrever petições. Provavelmente se parecerá muito mais como uma empresa de tecnologia atuando na área advocatícia. Na contabilidade, o mesmo.  A questão é: como formar cientistas de dados em número suficiente? E o que fazer com os atuais advogados e contadores que perderão espaço no mercado de trabalho?
O cenário pior seria termos uma elite altamente qualificada e uma grande parcela de empregos na base da pirâmide, como jardineiros e outros que demandam habilidade humanas. O meio, que hoje é a que chamamos classe média, está em risco de substituição.
Recomendo a leitura do livro “The Future of the Professions” que aborda discussões muito interessantes sobre o tema. Para os autores, profissionais como advogados, médicos e contadores, é tentador acreditar na excepcionalidade humana. Muitos até admitem que seu conhecimento especifico, adquirido a duras penas, será igualado, em um futuro próximo, pelas máquinas. A verdade é que a maioria dos trabalhos profissionais pode ser desdobrada em conjuntos de tarefas distintas. Tarefas que depois que são desmembradas, resta pouco o que não possa ser feito pelas máquinas. Mas, embora a IA e a robótica podem fazer muita coisa, muitas funções são e deverão continuar inerentemente humanas, como as que exigem criatividade, inovação, empatia e relacionamento emocional. Não visualizo a curto ou médio prazo (dez a quinze anos) a computação tendo capacidade de lidar com situações inesperadas, como nós aprimoramos ao longo de nossa evolução humana. No mais longo prazo é uma incógnita. Mas, com certeza, emoções serão 100% humanas.
Enfim, é uma discussão que está apenas começando. Mas a realidade vai vir rápido e ignorar a transformação que está ocorrendo no mundo não vai impedi-la de acontecer e chegar aqui. As máquinas são nossas ferramentas, mas pode chegar o momento em que não seremos mais capazes de controla-las.  Portanto, precisamos decidir como queremos viver com elas. Uma discussão que não pode ser adiada.  
Por Cézar Taurion, CEO da Litteris Consulting, CEO da ThinPost e autor de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data
Fonte: CIO