Por
Leandro Rodrigues
No
ano de 64 a.C. Quinto Cícero escreve a obra Commentariolum
Petitionis por ocasião da candidatura de seu irmão, o grande orador romano
Marco Túlio Cícero, ao posto de cônsul, cargo mais importante do cenário
político de Roma à época. Esta obra, ao ser traduzida para o português, recebeu
o título de Como Ganhar uma Eleição (esta
obra já foi tema de postagem no blog, veja aqui). A intenção de Quinto
Cícero era esboçar um manual com dicas para ajudar o irmão na campanha, e os
conselhos nele contidos após mais de dois mil anos permanecem atuais e próximos
da realidade eleitoral no Brasil.
Apesar
de não falar deste ponto diretamente, alguns dos conselhos dados por Quinto Cícero
deixam claro que é importante ser uma pessoa conhecida e reconhecida pelos
eleitores; trata-se de elemento basilar de qualquer candidatura. Assim, cabe ao
político se fazer conhecer, tratar bem seu eleitor e se manter próximo a ele.
Podemos perceber claramente a hodiernidade destas máximas no cenário político
brasileiro atual e nos parece claro que, passados dois mil anos, alguns
postulantes a cargos públicos ainda têm dificuldade em se tornar nomes
conhecidos da maioria do eleitorado.
A
um político que pleiteia disputar uma eleição cabe a busca incessante de se
fazer conhecido e reconhecido, bem como aumentar seus índices de conhecimento.
Alguns sentimentos e avaliações dos eleitores só poderão ser plenamente feitas
se estes conhecerem bem o político, como avaliar a experiência, jovialidade ou
capacidade de promover a renovação. O desconhecimento pode contribuir para o
fator surpresa ou novidade, mas passado o momento inicial faz-se mister
aumentar suas taxas de conhecimento.
As
pesquisas GRUPOM publicadas pelo jornal Tribuna do Planalto trazem três blocos
de possíveis pré-candidatos, tanto para governador quanto para presidente:
aqueles que já estão consolidados no cenário político aqueles que já obtiveram
algum destaque e aqueles que são nomes recentes, ainda desconhecidos da maioria
do eleitorado. Os riscos e dificuldades destes grupos são distintos e
complementares. Um político conhecido não precisa dizer quem é, possui
credenciais prévias que já contribuíram para formar sua imagem junto ao eleitorado.
Se a taxa de conhecimento é elevada, inerente a ela existem alguns riscos,
notadamente a questão da imagem. Uma possível imagem negativa ou desgastada
dificilmente poderá ser revertida ou atenuada de forma eficaz até 5 de Outubro,
data do primeiro turno das eleições de 2014. Tais nomes podem transmitir a
imagem de administradores experientes, mas não representam a novidade,
renovação, mudança, ou seja, o eleitor pode pelo menos pressupor o que esperar.
Pesquisa GRUPOM Fev/2014 - Registradas junto ao TSE e TRE |
Por um lado, os pré-candidatos ainda desconhecidos dos eleitores enfrentarão
como maior obstáculo a tarefa de se tornarem nomes verdadeiramente conhecidos
até o dia da eleição. Por outro lado, podem inspirar nos eleitores a vontade de
algo novo, de mudar, de tentar um caminho diferente e ainda não testado, uma
vez que os eleitores já conhecem a forma de administrar dos políticos
experientes e conhecidos no ardiloso cenário político. Da mesma forma, os nomes
que ocupam uma posição intermediária nas taxas de conhecimento demonstram um
equilíbrio entre a experiência e a possibilidade de renovação. Entendemos que
isso não necessariamente signifique vantagem em relação aos demais graus e
conhecimento, resta àqueles que estão neste grau intermediário de conhecimento
expandi-lo sem que se deixe contaminar por desgaste natural da imagem
ocasionado pelo tempo e por opiniões já formadas previanamente. Neste sentido,
os pré-candidatos a governador em Goiás Antônio Gomide, Júnior do Friboi,
Vanderlan Cardoso e, em alguma medida, Ronaldo Caiado poderão tirar proveito
destas taxas de desconhecimento ou pouco conhecimento que apresentam. Tornar-se
conhecido é uma tarefa hercúlea e penosa. A este esforço há ainda o risco de
não se construir uma imagem positiva, pois somente esta irá converter-se em
votos na eleição.
Fontes: Pesquisa GRUPOM Fev/2014 - Registradas junto ao TSE e TRE; * Pesquisa Datafolha Nov/2013 |
O
mesmo pode ser dito em relação aos pré-candidatos a presidente: o desafio a ser
enfrentado por Eduardo Campos e Aécio Neves para se tornarem conhecidos é
enorme e a extensão territorial do Brasil em nada facilita esta missão.
Ademais, além do dispêndio financeiro para se tornarem nomes conhecidos
enfrentarão as mesmas dificuldades dos candidatos regionais para a construção
de uma imagem positiva. Marina Silva ainda não é plenamente conhecida, mas
ainda há o que ser feito para expandir sua imagem e tentar manter e fortalecer
uma possível imagem positiva junto ao eleitorado. Por fim, Dilma Rousseff é um
nome consolidado, e exatamente por isso corre o risco de sofrer algum desgaste
em sua imagem. O risco enfrentado pela atual presidente que tenta a reeleição é
semelhante àquele enfrentado por Marconi Perillo no cenário político de Goiás:
a busca pela reeleição não permitem um discurso de renovação, é preciso apostar
no convencimento do eleitorado através da continuidade.
Existem
vantagens e desvantagens em taxas de conhecimento altas ou baixas. Aos
interessados e envolvidos no jogo político pré-campanha resta compreender o
momento político atual, os anseios e interesses do eleitorado. O eleitor busca
um nome experiente e consolidado ou busca renovação? As taxas em que o eleitor
aponta em quem não votará indicam que o eleitor goiano dá indícios de buscar
uma alternativa ainda não experimentada para o cargo de governador. Entretanto,
isto não deve ser entendido de forma absoluta e definitiva, ainda há tempo para
se tentar melhorar imagens e talvez haja espaço para que atores conhecidos e
veteranos no cenário goiano possam voltar com alguma garantia de sucesso
eleitoral em 5 de Outubro.
Leandro Rodrigues –
leandro.rodrigues@grupom.com.br
Doutor
em Ciência Política, pesquisador da UnB e analista de política da Grupom
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