segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Sucesso ou Fracasso dos Desconhecidos Políticos?

Por Leandro Rodrigues

No ano de 64 a.C. Quinto Cícero escreve a obra Commentariolum Petitionis por ocasião da candidatura de seu irmão, o grande orador romano Marco Túlio Cícero, ao posto de cônsul, cargo mais importante do cenário político de Roma à época. Esta obra, ao ser traduzida para o português, recebeu o título de Como Ganhar uma Eleição (esta obra já foi tema de postagem no blog, veja aqui). A intenção de Quinto Cícero era esboçar um manual com dicas para ajudar o irmão na campanha, e os conselhos nele contidos após mais de dois mil anos permanecem atuais e próximos da realidade eleitoral no Brasil.

Apesar de não falar deste ponto diretamente, alguns dos conselhos dados por Quinto Cícero deixam claro que é importante ser uma pessoa conhecida e reconhecida pelos eleitores; trata-se de elemento basilar de qualquer candidatura. Assim, cabe ao político se fazer conhecer, tratar bem seu eleitor e se manter próximo a ele. Podemos perceber claramente a hodiernidade destas máximas no cenário político brasileiro atual e nos parece claro que, passados dois mil anos, alguns postulantes a cargos públicos ainda têm dificuldade em se tornar nomes conhecidos da maioria do eleitorado.

A um político que pleiteia disputar uma eleição cabe a busca incessante de se fazer conhecido e reconhecido, bem como aumentar seus índices de conhecimento. Alguns sentimentos e avaliações dos eleitores só poderão ser plenamente feitas se estes conhecerem bem o político, como avaliar a experiência, jovialidade ou capacidade de promover a renovação. O desconhecimento pode contribuir para o fator surpresa ou novidade, mas passado o momento inicial faz-se mister aumentar suas taxas de conhecimento.

As pesquisas GRUPOM publicadas pelo jornal Tribuna do Planalto trazem três blocos de possíveis pré-candidatos, tanto para governador quanto para presidente: aqueles que já estão consolidados no cenário político aqueles que já obtiveram algum destaque e aqueles que são nomes recentes, ainda desconhecidos da maioria do eleitorado. Os riscos e dificuldades destes grupos são distintos e complementares. Um político conhecido não precisa dizer quem é, possui credenciais prévias que já contribuíram para formar sua imagem junto ao eleitorado. Se a taxa de conhecimento é elevada, inerente a ela existem alguns riscos, notadamente a questão da imagem. Uma possível imagem negativa ou desgastada dificilmente poderá ser revertida ou atenuada de forma eficaz até 5 de Outubro, data do primeiro turno das eleições de 2014. Tais nomes podem transmitir a imagem de administradores experientes, mas não representam a novidade, renovação, mudança, ou seja, o eleitor pode pelo menos pressupor o que esperar.


Pesquisa GRUPOM Fev/2014 - Registradas junto ao TSE e TRE

Por um lado, os pré-candidatos ainda desconhecidos dos eleitores enfrentarão como maior obstáculo a tarefa de se tornarem nomes verdadeiramente conhecidos até o dia da eleição. Por outro lado, podem inspirar nos eleitores a vontade de algo novo, de mudar, de tentar um caminho diferente e ainda não testado, uma vez que os eleitores já conhecem a forma de administrar dos políticos experientes e conhecidos no ardiloso cenário político. Da mesma forma, os nomes que ocupam uma posição intermediária nas taxas de conhecimento demonstram um equilíbrio entre a experiência e a possibilidade de renovação. Entendemos que isso não necessariamente signifique vantagem em relação aos demais graus e conhecimento, resta àqueles que estão neste grau intermediário de conhecimento expandi-lo sem que se deixe contaminar por desgaste natural da imagem ocasionado pelo tempo e por opiniões já formadas previanamente. Neste sentido, os pré-candidatos a governador em Goiás Antônio Gomide, Júnior do Friboi, Vanderlan Cardoso e, em alguma medida, Ronaldo Caiado poderão tirar proveito destas taxas de desconhecimento ou pouco conhecimento que apresentam. Tornar-se conhecido é uma tarefa hercúlea e penosa. A este esforço há ainda o risco de não se construir uma imagem positiva, pois somente esta irá converter-se em votos na eleição.

Fontes: Pesquisa GRUPOM Fev/2014 - Registradas junto ao TSE e TRE; * Pesquisa Datafolha Nov/2013

O mesmo pode ser dito em relação aos pré-candidatos a presidente: o desafio a ser enfrentado por Eduardo Campos e Aécio Neves para se tornarem conhecidos é enorme e a extensão territorial do Brasil em nada facilita esta missão. Ademais, além do dispêndio financeiro para se tornarem nomes conhecidos enfrentarão as mesmas dificuldades dos candidatos regionais para a construção de uma imagem positiva. Marina Silva ainda não é plenamente conhecida, mas ainda há o que ser feito para expandir sua imagem e tentar manter e fortalecer uma possível imagem positiva junto ao eleitorado. Por fim, Dilma Rousseff é um nome consolidado, e exatamente por isso corre o risco de sofrer algum desgaste em sua imagem. O risco enfrentado pela atual presidente que tenta a reeleição é semelhante àquele enfrentado por Marconi Perillo no cenário político de Goiás: a busca pela reeleição não permitem um discurso de renovação, é preciso apostar no convencimento do eleitorado através da continuidade.

Existem vantagens e desvantagens em taxas de conhecimento altas ou baixas. Aos interessados e envolvidos no jogo político pré-campanha resta compreender o momento político atual, os anseios e interesses do eleitorado. O eleitor busca um nome experiente e consolidado ou busca renovação? As taxas em que o eleitor aponta em quem não votará indicam que o eleitor goiano dá indícios de buscar uma alternativa ainda não experimentada para o cargo de governador. Entretanto, isto não deve ser entendido de forma absoluta e definitiva, ainda há tempo para se tentar melhorar imagens e talvez haja espaço para que atores conhecidos e veteranos no cenário goiano possam voltar com alguma garantia de sucesso eleitoral em 5 de Outubro.

Leandro Rodrigues – leandro.rodrigues@grupom.com.br
Doutor em Ciência Política, pesquisador da UnB e analista de política da Grupom

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