segunda-feira, 3 de julho de 2017

Ceticismo do eleitor perpetua a corrupção, aponta pesquisadora.

Trabalho da professora Nara Pavão mostra que eleitor reelege corruptos porque tem tolerância à corrupção.


Doença endêmica que assola boa parte dos países no mundo, a corrupção está longe de ser debelada. E no Brasil ela estará firmemente presente, inclusive, no processo eleitoral de 2018. Quem sustenta a afirmação é a cientista política Nara Pavão, professora da Universidade Federal De Pernambuco. Ao participar, em 26 de junho, do seminário “Corrupção, Opinião Pública e Voto”, promovido pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) e pelo Centro Josué de Castro, ela defendeu uma tese no mínimo polêmica, segundo a qual, a maior barreira para o combate à corrupção está no ceticismo – ou cinismo, como ela prefere chamar – do próprio eleitor, e quanto mais atos de corrupção, maior a tolerância da sociedade aos corruptos.


Essa estreita relação entre corrupção e tolerância é um dos focos de estudo da professora, PhD em Política Comparativa e pós-doutorada  em Instituições Democráticas, ambas nos Estados Unidos. Ela acredita que a corrupção gira em um círculo vicioso, municiado pelo próprio cidadão que, por força do cenário, torna-se inevitavelmente leniente. “Quanto mais alto é o nível corrupção num país, e quanto mais informações o eleitor recebe sobre o assunto, maior seu ceticismo e menos propenso ele fica em punir os corruptos”, afirma Nara Pavão.

A saída para debelar esse mal estaria, então, nas mãos das instituições de controle, a exemplo da mídia e do Judiciário. Sobre a primeira, porém, pesam críticas ao tom demasiado negativo das notícias sobre corrupção, não colaborando para que o eleitor enxergue o lado honesto da política. Já o Judiciário, segundo Nara, precisa passar à opinião pública exemplos de intolerância à corrupção. E embora admita que, de certa maneira, isso tem acontecido hoje no Brasil, ela avalia que falta legitimidade ao Poder, por conta da excessiva judicialização da política. “Parte da população percebe um Judiciário cada vez mais politizado, quando deveria ser imparcial e virtuoso. Se as instituições passam a imagem de leniência ao eleitor, ampliam o ceticismo e a tolerância com os corruptos”, adverte.

Com base nesse pensamento, Nara Pavão avalia que, se não forem punidos em tempo hábil pelas instituições, os políticos envolvidos em denúncias de corrupção que conseguirem chegar às urnas em 2018, por consequência não deverão enfrentar um julgamento duro também por parte dos eleitores. “Eles podem ter sucesso eleitoral, beneficiados pelo ceticismo. Se o eleitor entender que todos são corruptos e que as instituições não punem, ele vai votar no corrupto que tem história, ou no que é do seu partido, ou naquele que já tem experiência política”, conclui.


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