sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Prós e Contras do Natal Antecipado

Estratégia é capaz de aumentar as vendas ou serve apenas para antecipar receitas?


Por Jonas Furtado jfurtado@grupomm.com.br


Decorar as lojas com enfeites natalinos e colocar os produtos típicos dos festejos de final de ano nas gôndolas logo após o Dias das Crianças já se tornou uma tradição no varejo brasileiro. Este ano, porém, os preparativos para a data começaram com antecedência ainda maior: antes mesmo do dia 12 de outubro, era possível encontrar panetones a venda em supermercados e pontos de venda cujas ambientações já remetem à época de maior movimento para o comércio nacional.
Enquanto a Bauducco, líder em panetones, afirma que a chegada antecipada de seus produtos aos mercados cumpriu exatamente o cronograma traçado durante o planejamento do ano, entidades como a Associação Brasileira de Lojas de Shopping (Alshop) e Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA) creditam a motivação do mercado à perspectiva de desaceleração nas vendas para o Natal deste ano. Segundo pesquisa da Provar feita em parceria com a Felisoni Consultores Associados, o índice de consumidores que pretendem efetuar compra no último trimestre de 2013, o que inclui Dia das Crianças e Natal, é o mais baixo registrado desde 2006.
“Todos os indicadores medidos na economia hoje reforçam as evidências que sustentam essa análise de desaceleração. A percepção de inflação bate no poder de compra do consumidor, que vem declarando uma intenção de compra menor”, assegura Nuno Fouto, coordenador de pesquisas do Provar/Fia. “A maneira como as notícias são apresentadas influenciam o comportamento do consumidor. Neste cenário, promoções são fundamentais”.
Outra discussão que permeia os benefícios de colocar o Natal nas vitrines em outubro é a eficácia da iniciativa. A estratégia serve para aumentar o volume total de vendas, fazendo que o consumidor compre mais, ou apenas para antecipar receitas que chegariam somente em dezembro?
Para encontrar essas e outras respostas, Meio & Mensagem convidou representantes de diferentes áreas do mercado para debater os prós e contras de Papai Noel ter chegado tão antes para as festas deste ano.


 ANUNCIANTE
Marcello Gelo
Diretor de Marketing da Bauducco

 “Neste ano, a primeira fornada de panetone chegou aos consumiodores no mês de setembro. A empresa não antecipou a produção nem a distribuição de Natal. Foi seguido o calendário programado anualmente. Esse momento é importante para antecipar o clima de Natal e oferecer o produto aos ‘heavy users’ da categoria, que amam o produto, e gostam de consumi-lo antes do Natal. A intenção da empresa é fazer que as pessoas comprem mais, e não simplesmente antecipem a compra. Estamos acompanhando essa antecipação por meio de novas e específicas formas de comunicação visando mesmo a antecipar o clima. O Natal é uma das datas mais significativas para a Bauducco. Logo depois, já começamos a definir a estratégia e o planejamento do portfólio e das ações  que vão chegar até o nosso consumidor no ano seguinte. Devemos produzir 65 milhões de panetones, e vamos distribuir essa quantidade de acordo com a demanda das diversas regiões do Brasil. Neste ano, temos uma estratégia reginal de 360º para maximizar o potencial de cada praça. Em especial, definimos uma estratégia especial para a região Sul e Nordeste.”

AGÊNCIA
Jonathan Dagues
CEO da Work Able Group e diretor do comitê de trade marketing da Ampro

“Antecipar a lembrança do Natal para os shoppers faz que as compras também sejam antecipadas. Os resultados para o varejo são bastante positivos, já que suas vendas acontecem de forma distribuída e tendem a ser mais organizadas, controlando rupturas, ambientando o PDV e preparando todo o time para atender os clientes. No ponto de vista do consumidor, ele pode ter a sensação de que este ano finalmente poderá comprar tranquilamente, evitando as compras de última hora, feitas com preços altos e atendimento comprometido. Não é fácil, mas fazer o consumidor lembrar que o Natal se aproxima fará que ele se recorde também de amigos e familiares que merecem o presentinho de final de ano. Outro ponto bastante importante é que o orçamento do consumidor passa a ser mais organizado, o que tende a fazer que ele destine parte de seus recursos financeiros para presentes, já que a compra é feita antes de receber o 13º salário. Sentimos que nossos clientes estão preocupados em alavancar os resultados deste ano, já que estamos trabalhando com uma tendência morna”.

ECONOMISTA
Nuno Fouto
Coordenador de pesquisas do Provar/Fia

“Realmente, o comércio tem ‘antecipado’ as datas comerciais, especialmente de cinco anos para cá. O varejo trabalha com a lógica de existem produtos e necessidades fundamentais e outros cuja venda é influenciável e depende da construção de um clima ao seu redor. A disponibilidade dos produtos natalinos nos PDVs tem relação direta com as vendas dos produtos. Considerando a situação atual, com restrição da renda, a marca que chegar primeiro às gôndolas, ofertando uma inovação, pode, inclusive, colher mais do que outras que entrarem na ancoragem ou depois. A estratégia de antecipação puxa ainda ações de trade marketing, em detrimento de outros tipos de iniciativas de comunicação, não só no Natal. Ações pensadas para o ponto de venda ganham cada vez mais espaço. De acordo com pesquisas recentes e levando em consideração a intenção de compra, a percepção da estabilidade do emprego, o comprometimento da renda pelo crediário e os dados oficiais, o cenário esperado para o crescimento do varejo ampliado gira em torno de 4% em 2013, ante o índice de 7,8% verificado em 2012.

VAREJO
Luis Augusto Ildefonso
Diretor de relações institucionais da Alshop



“O quanto o lojista antecipará a chegada do Natal ao seu negócio depende muito da sensibilidade dele em relação a estoque e demanda. Como a expectativa para a data em 2013 é de uma desaceleração no crescimento das vendas em relação a anos anteriores, tanto varejo quanto indústria podem usar a antecipação do clima natalino, para tentar reverter esse quadro. A estratégia, porém, nem sempre é um grande alento, porque historicamente a compra de Natal se dá com maior intensidade na última quinzena de dezembro, concentrando-se especialmente nos dias que antecedem ao Natal e imediatamente após a data. Assim, acaba por funcionar mais como uma antecipação de receita, uma oportunidade para se capitalizar um pouco e aliviar os estoques, caso esses estejam altos. Quanto à comunicação e às promoções, não acredito que a comunicação antecipada do Nata tenha algum efeito nas vendas. É preciso esperar que os meios e a mídia também entrem nesse clima, caso contrário é como gritar sozinho no deserto.

Colaboraram Fernando Murad e Janaina Langsdorff.

Nenhum comentário:

Postar um comentário