sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Prós e Contras do Natal Antecipado

Estratégia é capaz de aumentar as vendas ou serve apenas para antecipar receitas?


Por Jonas Furtado jfurtado@grupomm.com.br


Decorar as lojas com enfeites natalinos e colocar os produtos típicos dos festejos de final de ano nas gôndolas logo após o Dias das Crianças já se tornou uma tradição no varejo brasileiro. Este ano, porém, os preparativos para a data começaram com antecedência ainda maior: antes mesmo do dia 12 de outubro, era possível encontrar panetones a venda em supermercados e pontos de venda cujas ambientações já remetem à época de maior movimento para o comércio nacional.
Enquanto a Bauducco, líder em panetones, afirma que a chegada antecipada de seus produtos aos mercados cumpriu exatamente o cronograma traçado durante o planejamento do ano, entidades como a Associação Brasileira de Lojas de Shopping (Alshop) e Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA) creditam a motivação do mercado à perspectiva de desaceleração nas vendas para o Natal deste ano. Segundo pesquisa da Provar feita em parceria com a Felisoni Consultores Associados, o índice de consumidores que pretendem efetuar compra no último trimestre de 2013, o que inclui Dia das Crianças e Natal, é o mais baixo registrado desde 2006.
“Todos os indicadores medidos na economia hoje reforçam as evidências que sustentam essa análise de desaceleração. A percepção de inflação bate no poder de compra do consumidor, que vem declarando uma intenção de compra menor”, assegura Nuno Fouto, coordenador de pesquisas do Provar/Fia. “A maneira como as notícias são apresentadas influenciam o comportamento do consumidor. Neste cenário, promoções são fundamentais”.
Outra discussão que permeia os benefícios de colocar o Natal nas vitrines em outubro é a eficácia da iniciativa. A estratégia serve para aumentar o volume total de vendas, fazendo que o consumidor compre mais, ou apenas para antecipar receitas que chegariam somente em dezembro?
Para encontrar essas e outras respostas, Meio & Mensagem convidou representantes de diferentes áreas do mercado para debater os prós e contras de Papai Noel ter chegado tão antes para as festas deste ano.


 ANUNCIANTE
Marcello Gelo
Diretor de Marketing da Bauducco

 “Neste ano, a primeira fornada de panetone chegou aos consumiodores no mês de setembro. A empresa não antecipou a produção nem a distribuição de Natal. Foi seguido o calendário programado anualmente. Esse momento é importante para antecipar o clima de Natal e oferecer o produto aos ‘heavy users’ da categoria, que amam o produto, e gostam de consumi-lo antes do Natal. A intenção da empresa é fazer que as pessoas comprem mais, e não simplesmente antecipem a compra. Estamos acompanhando essa antecipação por meio de novas e específicas formas de comunicação visando mesmo a antecipar o clima. O Natal é uma das datas mais significativas para a Bauducco. Logo depois, já começamos a definir a estratégia e o planejamento do portfólio e das ações  que vão chegar até o nosso consumidor no ano seguinte. Devemos produzir 65 milhões de panetones, e vamos distribuir essa quantidade de acordo com a demanda das diversas regiões do Brasil. Neste ano, temos uma estratégia reginal de 360º para maximizar o potencial de cada praça. Em especial, definimos uma estratégia especial para a região Sul e Nordeste.”

AGÊNCIA
Jonathan Dagues
CEO da Work Able Group e diretor do comitê de trade marketing da Ampro

“Antecipar a lembrança do Natal para os shoppers faz que as compras também sejam antecipadas. Os resultados para o varejo são bastante positivos, já que suas vendas acontecem de forma distribuída e tendem a ser mais organizadas, controlando rupturas, ambientando o PDV e preparando todo o time para atender os clientes. No ponto de vista do consumidor, ele pode ter a sensação de que este ano finalmente poderá comprar tranquilamente, evitando as compras de última hora, feitas com preços altos e atendimento comprometido. Não é fácil, mas fazer o consumidor lembrar que o Natal se aproxima fará que ele se recorde também de amigos e familiares que merecem o presentinho de final de ano. Outro ponto bastante importante é que o orçamento do consumidor passa a ser mais organizado, o que tende a fazer que ele destine parte de seus recursos financeiros para presentes, já que a compra é feita antes de receber o 13º salário. Sentimos que nossos clientes estão preocupados em alavancar os resultados deste ano, já que estamos trabalhando com uma tendência morna”.

ECONOMISTA
Nuno Fouto
Coordenador de pesquisas do Provar/Fia

“Realmente, o comércio tem ‘antecipado’ as datas comerciais, especialmente de cinco anos para cá. O varejo trabalha com a lógica de existem produtos e necessidades fundamentais e outros cuja venda é influenciável e depende da construção de um clima ao seu redor. A disponibilidade dos produtos natalinos nos PDVs tem relação direta com as vendas dos produtos. Considerando a situação atual, com restrição da renda, a marca que chegar primeiro às gôndolas, ofertando uma inovação, pode, inclusive, colher mais do que outras que entrarem na ancoragem ou depois. A estratégia de antecipação puxa ainda ações de trade marketing, em detrimento de outros tipos de iniciativas de comunicação, não só no Natal. Ações pensadas para o ponto de venda ganham cada vez mais espaço. De acordo com pesquisas recentes e levando em consideração a intenção de compra, a percepção da estabilidade do emprego, o comprometimento da renda pelo crediário e os dados oficiais, o cenário esperado para o crescimento do varejo ampliado gira em torno de 4% em 2013, ante o índice de 7,8% verificado em 2012.

VAREJO
Luis Augusto Ildefonso
Diretor de relações institucionais da Alshop



“O quanto o lojista antecipará a chegada do Natal ao seu negócio depende muito da sensibilidade dele em relação a estoque e demanda. Como a expectativa para a data em 2013 é de uma desaceleração no crescimento das vendas em relação a anos anteriores, tanto varejo quanto indústria podem usar a antecipação do clima natalino, para tentar reverter esse quadro. A estratégia, porém, nem sempre é um grande alento, porque historicamente a compra de Natal se dá com maior intensidade na última quinzena de dezembro, concentrando-se especialmente nos dias que antecedem ao Natal e imediatamente após a data. Assim, acaba por funcionar mais como uma antecipação de receita, uma oportunidade para se capitalizar um pouco e aliviar os estoques, caso esses estejam altos. Quanto à comunicação e às promoções, não acredito que a comunicação antecipada do Nata tenha algum efeito nas vendas. É preciso esperar que os meios e a mídia também entrem nesse clima, caso contrário é como gritar sozinho no deserto.

Colaboraram Fernando Murad e Janaina Langsdorff.

Vice é Rubinho Barrichello



Alberto Carlos Almeida
Há dois tipos de eleições presidenciais: aquelas nas quais fica evidente com grande antecedência qual é o candidato favorito, se do governo ou da oposição, e aquelas mais equilibradas, nas quais o cenário é mais complicado quando se trata de identificar quem será o provável vencedor. No início de 2009, mais de um ano antes da última eleição presidencial, o governo Lula tinha a avaliação ótima e boa na faixa de 60%, enquanto Serra, principal candidato de oposição, liderava com folga as intenções de voto. Naquele momento, a maior parte dos que avaliavam de maneira positiva o governo Lula votavam em Serra. O eleitor governista votava em um candidato de oposição apenas por que não sabia quem era o candidato do governo.
Era muito curioso ver, no início de 2009, que quem considerava o governo Lula ótimo acabava votando em Serra. Sabíamos que o eleitor não era (e não é) esquizofrênico. Na medida em que esse eleitor passasse a tomar conhecimento sobre quem era o candidato do governo, ele deixaria de votar em Serra. Foi exatamente o que aconteceu. Lula passou a circular pelo país com Dilma, a partir de janeiro de 2009. Depois disso, a cada mês que passava Serra perdia votos e Dilma ganhava. No final de 2009, a grande maioria de quem considerava o governo ótimo ou bom já votava em Dilma. O destino de Serra estava selado: seria derrotado pela segunda vez em uma eleição presidencial.


Em 2010, de posse das informações das pesquisas e do modelo analítico mais adequado, não era difícil prever o que iria acontecer. O que facilitou essa previsão foi a boa avaliação do governo Lula e as projeções dos economistas para 2010, indicando que haveria aumento real de consumo da população. É verdade que Serra não tem carisma e é pouco agregador. Contudo, considerando-se que na véspera das eleições a avaliação do governo era de 80% de ótimo e bom, é provável que qualquer que fosse o candidato de oposição ele teria sido derrotado por Dilma. Tratava-se de uma eleição de continuidade. A grande maioria do eleitorado desejava que o sucessor de Lula representasse a continuidade de seu governo. Foi feita a sua vontade.
Ninguém se lembra, sem esforço, de quem era o vice de Serra. Não importa. O vice de Serra não fez a menor diferença no resultado eleitoral. Assim como também o vice de Marina não fez com que ela subisse nas intenções de voto e viesse a ter o excelente desempenho eleitoral que teve para uma candidata que disputava sua primeira eleição presidencial. Poucos se recordam de quem foi o vice de Marina em 2010. Da mesma forma que seus vices não tiveram impacto em seus respectivos desempenhos eleitorais, Dilma não venceu por que teve Michel Temer de vice. Ela venceu porque era a candidata do governo em uma eleição de continuidade.
Se a eleição de 2010 foi de continuidade, a de 2002 foi de mudança. Naquele ano, o governo Fernando Henrique apresentava a soma de ótimo e bom abaixo de 30%. Lula, seu principal opositor, já havia se tornado nacionalmente conhecido porque disputara as três eleições presidenciais anteriores. Como se tratava de uma eleição de mudança, o candidato governista, Serra, foi derrotado por Lula. Mais uma vez, poucos devem se recordar de quem foi o candidato a vice de Serra. Além disso, não haverá quem diga que o desempenho de Serra teria sido melhor se o vice tivesse sido outro. Por outro lado, não haverá quem ouse afirmar, ainda que contra factualmente, que Lula não teria vencido se José de Alencar não tivesse sido seu vice. Aliás, no Brasil, os vices só se tornam realmente conhecidos quando assumem o mandato de presidente.
No Brasil, vice é Rubinho Barrichello. Ele correu na Fórmula 1 entre 1993 e 2011. Nos anos de 2002 e 2004, foi vice-campeão em campeonatos nos quais o alemão Michael Schumacher venceu. Os dois vice-campeonatos de Rubinho tiveram um impacto negativo em sua imagem pública que dificilmente um terceiro ou quarto lugares teriam tido. O vice-campeão é aquele que morre na praia, é aquele que tenta inúmeras vezes, mas não alcança o sucesso. É, no Brasil, alguém que fracassou. O terceiro lugar passa despercebido, ele não tem sucesso ou fracassa, ele simplesmente não é bom o suficiente para vencer. Rubinho é vítima de inúmeras piadas e metáforas que o colocam como sendo lento, o último a chegar e coisas do gênero, justamente porque foi vice. Ninguém o avalia positivamente, o que seria muito justo, porque ele foi vice de nada mais nada menos do que o maior campeão de Fórmula 1 de todos os tempos. Rubinho simplesmente estava no lugar errado, na hora errada, mas isso lamentavelmente não importa. Nós, brasileiros, não damos bola para o vice.
É do mundo da bola que vem o maior trauma nacional: ter sido vice-campeão (aliás, para nós, brasileiros, a palavra "campeão" jamais deveria estar acompanhada de "vice") na Copa de 1950. Todos os brasileiros, de qualquer idade, sabem dessa tragédia. Há um termo específico para designar aquele evento: Maracanazzo. Há heróis e vilões memoráveis. Toda vez que o Uruguai, nosso algoz, joga com o Brasil, a mídia daquele país faz questão de recordar o episódio. No Museu de Futebol, em São Paulo, há uma sala escura especialmente dedicada a esse trauma, tão grande é sua importância. No país do futebol, nada é pior do que ser vice, em particular se a Copa for em casa. Que isso sirva de alerta para nossa seleção em 2014: se tiver que perder, é melhor que não seja na final. Ficaremos mais conformados e não haverá trauma algum. Ser vice em casa novamente, jamais. Se isso acontecer, poderemos dizer que Deus definitivamente não é brasileiro.
É por essa razão que poucos sabem ou se recordam de quem foi o vice de nosso político que mais tempo ficou no poder, Getúlio Vargas. Pesquisa na internet ajuda a preencher essas lacunas da memória. Não se trata de um vazio que surge ao acaso. Afinal, sabemos que a memória seleciona aquilo que consideramos relevante.
Os últimos fatos políticos no Brasil levaram muitos a crer que vice em eleição presidencial tem o poder de mudar o destino de um pleito. Assim, há quem considere que, se Marina for candidata a vice de Eduardo Campos, o atual governador de Pernambuco se tornará favorito em 2014. Cabe levantar uma questão: Campos se tornaria favorito com Marina como vice se Dilma tivesse 25% de ótimo e bom ou se ela tivesse 55%? Muito provavelmente, Campos e Marina serão derrotados caso Dilma alcance os 55% ou mais de ótimo e bom e, por outro lado, disputarão com Aécio a vaga em um segundo turno do qual sairiam vitoriosos caso Dilma e seu governo tenham uma avaliação de 25% às vésperas da eleição presidencial.
A crença de que as pessoas votam em um candidato a presidente porque o vice pede para que votem nele é equivalente a acreditar em mágica. Quem pensa assim evoca, com frequência, a eleição de 1989, quando o mágico Brizola, ao não ir para o segundo turno, pediu que seus eleitores votassem em Lula. Seus eleitores teriam feito isso mesmo Brizola não sendo vice de Lula. O que aconteceu naquele episódio foi o inverso: os eleitores de Brizola iriam votar em Lula de qualquer maneira. O líder pedetista apenas se antecipou ao que os seus eleitores fariam e ficou bem na foto, acabou posando de líder carismático. O que teria ocorrido se Brizola tivesse pedido para seus eleitores votarem em Collor? Seria um fracasso rotundo. Os eleitores de Brizola estavam muito mais próximos de Lula do que de Collor, e por isso votaram em Lula.
Já houve quem desse como exemplo também a eleição de Garotinho para o governo do Rio de Janeiro em 1998, quando Benedita da Silva, do PT, foi sua vice. O adversário de Garotinho era César Maia. Como o eleitor que tradicionalmente votava no PT não teve como votar em um candidato a governador do PT, essa oferta não existiu, e ele acabou escolhendo aquele que estava mais próximo.
Dito isso, como explicar que, segundo a pesquisa do Datafolha, Eduardo Campos, na ausência de Marina na corrida presidencial, herdaria 32% de seus eleitores, Dilma ficaria com 22% e Aécio, com 16%? A primeira coisa que chama atenção é que pouco mais do que um em cada cinco dos eleitores de Marina migrem para Dilma. Isso ocorre porque Marina capta todo tipo de voto, o governista e o oposicionista. Na ausência dela, Dilma fica com os votos governistas. Como esperado, porém, a maior parte dos votos de Marina é oposicionista. Exatamente por isso é que Campos e Aécio somados ficam com 48% dos votos marinistas. Em um primeiro momento, Campos capta mais votos que Aécio porque a pesquisa foi feita em uma semana em que ele teve bem mais mídia do que o candidato do PSDB. Contudo, captar e manter o voto depende mais do que simplesmente ter mídia. O eleitor oposicionista de Marina ficará com aquele com quem ele, eleitor, tiver maior identidade, e isso ainda não está claro.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de "A Cabeça do Brasileiro". alberto.almeida@institutoanalise.comwww.twitter.com/albertocalmeida

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A indústria do luxo investe em experiências exclusivas

Na busca por consumidores abonados, marcas de luxo como Pernord Ricard, Louis Vuitton e Audi investem cada vez mais em experiências exclusivas — das quais só participa quem é convidado.


Rodnei Riscali (à dir.): uísque Chivas e crupiê para jogar pôquer com os amigos



São Paulo - As rodadas semanais de pôquer com os amigos na casa do paulista Rodnei Riscali, de 30 anos, não são mais as mesmas. Desde 2011, o encontro informal realizado às terças-feiras em seu apartamento no Morumbi, na zona sul de São Paulo, ganhou um ar de sofisticação.

Um crupiê embaralha e distribui as cartas, e um barman prepara drinques. Um lote de uísque Chivas sempre abastece a reunião, eventualmente até com exemplares envelhecidos em 25 anos, que chegam a custar 1 000 reais a garrafa.
Mas para Riscali tudo isso sai de graça. A mordomia começou quando ele aceitou se tornar um dos 19 embaixadores da fabricante francesa de bebidas Pernod Ricard no Brasil.
Sua única contrapartida é garantir a presença da marca em seus eventos sociais com os amigos. Quando Riscali faz aniversário, a empresa se encarrega de mimar ainda mais seu embaixador. Jogador de golfe, ele já ganhou um taco e outros apetrechos para o esporte. “Já indiquei outros amigos que se interessaram em fazer parte do grupo“, diz.
Mimos assim prosperam junto com o mercado de luxo no Brasil. O investimento das empresas em atividades para se aproximar do público classe A no país mais do que dobrou nos últimos três anos e chegou a 300 milhões de dólares em 2012, segundo a consultoria americana Colloquy, especializada no relacionamento entre empresas e consumidores.
Por trás desses números  estão atividades que vão muito além de mandar cartão de aniversário — como viagens e participação em clubes e eventos fechados. Esse esforço é uma tentativa de cativar um público disposto a gastar cada vez mais.
A empresa de pesquisa americana Digital Luxury Group calcula que o Brasil movimentou 12 bilhões de dólares em produtos de luxo em 2012 — 24% mais em relação a 2011. “Oferecer experiências relevantes se mostrou uma maneira eficiente de aprofundar vínculos com o consumidor”, afirma Fernanda Mandryk, consultora da paulista MCF, especializada no mercado de luxo brasileiro.
Nos casos mais bem-sucedidos, identificar os clientes certos foi tão importante quanto definir a experiência certa. Para selecionar seus primeiros embaixadores, em 2010, a Pernod Ricard contratou uma consultoria especializada em localizar consumidores de alta renda. Em geral, os escolhidos são homens de 25 a 35 anos, com alto poder aquisitivo e hábito de reunir os amigos frequentemente.
Nos anos seguintes, o grupo cresceu por indicações, até chegar aos atuais 19 embaixadores. Treze deles estão em São Paulo, quatro em Brasília e dois em Goiânia — os três principais mercados para a Chivas no Brasil. A relação é revista de tempos em tempos, já que a parceria pode ser renovada todos os anos.
Aqueles que conseguem reunir mais pessoas ao longo de um ano podem ganhar uma viagem para conhecer a destilaria na Escócia. Os que se acomodam são substituídos. “É um trabalho constante dos dois lados. O cliente precisa sentir que faz parte de uma ação exclusiva”, diz Karen Ehrlich, gerente de marcas da Pernod Ricard.
Segundo especialistas, para manter o interesse dos consumidores de alta renda, é preciso colocá-los em situações exclusivas, das quais podem participar só convidados. É a lógica por trás dos encontros promovidos pela bandeira de cartão de crédito Mastercard para os que têm a versão Black, dedicada a clientes de alta renda.
Desde 2011, a empresa realiza seis vezes por ano um show intimista nos hotéis Fasano do Rio de Janeiro e de São Paulo para 40 convidados. Em julho, trouxe de Nova York a cantora brasileira Bebel Gilberto. A apresentação aconteceu durante um jantar, com direito a um bate-papo e a uma sessão de fotos e autógrafos no final.
Na mesma linha, a marca de luxo francesa Louis Vuitton costuma levar seus clientes brasileiros mais fiéis à semana de moda em Paris, para assistir ao desfile na primeira fileira, ao lado de artistas como as atrizes Sarah Jessica Parker e Catherine Deneuve. A carioca Elsaine von Blanckenhagen já participou de quatro viagens.
Ela embarcou no fim de setembro rumo à capital francesa para assistir ao último desfile da marca sob o comando do estilista Marc Jacobs. Nessas ocasiões, Elsaine tem à sua disposição um motorista brasileiro, uma reserva num hotel próximo da Champs-Élysées, uma das principais avenidas da cidade, e o acesso a jantares e festas que promovem a coleção recém-lançada — tudo de graça.
“Não perco um lançamento da marca”, diz Elsaine, cuja bolsa mais cara é uma edição limitada do modelo Polka Dots, com estampa assinada pela artista plástica japonesa Yayoi Kusama, que custou 27 000 euros num evento fechado em Paris.
As experiências são pensadas para reforçar os atributos da marca. É o que fez a alemã Audi pelo quarto ano consecutivo. A empresa levou em junho 12 brasileiros identificados como clientes em potencial para uma entrada vip na prova de resistência automobilística em Le Mans, na França, que dura 24 horas e da qual participam montadoras como Ferrari e BMW.
“Fiquei as 24 horas da prova acordado”, diz Roberto, de 29 anos, um dos escolhidos, que preferiu não revelar seu sobrenome. Ele ficou hospedado com toda a equipe num hotel dentro do autódromo e tinha passe livre para andar pelos boxes, passear de helicóptero, pilotar karts e conversar com os pilotos — além de camarotes abastecidos de comida e bebida.
Nos últimos 13 anos, a Audi venceu a prova de resistência 11 vezes. A ideia é que os clientes associem o resultado nas pistas à qualidade do veículo. De acordo com a companhia, dos 12 convidados deste ano, quatro fecharam negócio. Um deles é Ricardo, que pagou 400 000 reais por um cupê Audi A5. E se tornou mais um exemplo de que os mimos podem valer a pena.
Fonte: Revista Exame 19/10/2013  

A geração que vai mudar o mundo II

 Carreiras tradicionais em grandes empresas continuam atraindo os profissionais do futuro, mas a relação entre o jovem talento e o chefe experiente mudou drasticamente. Flexibilidade de horários, plano de carreira e maior acompanhamento profissional são fatores decisivos na hora de preencher vagas.

Rodrigo Cardoso, Mariana Brugger e Andres Vera


No post, A geração que vai mudar o mundo I, foram mostrados casos de jovens empreendedores que, desde cedo, já imaginavam ter seu  próprio negócio. A blogueira Lala Rudge é um dos exemplos. A paulista  começou a postar fotos de si própria no Instagram e em um blog há três anos. Hoje, é seguida por quase 400 mil pessoas na rede social de fotos e seu diário virtual recebe 80 mil visitas diárias. Com o sucesso, abandonou a faculdade de direito e aos 23 anosé referência  com dicas de moda, beleza e life style pela internet. 




Carreiras tradicionais em grandes empresas continuam atraindo os profissionais do futuro, mas a relação entre o jovem talento e o chefe experiente mudou drasticamente. Flexibilidade de horários, plano de carreira e maior acompanhamento profissional são fatores decisivos na hora de preencher vagas. Uma pesquisa da Amcham, a Câmara Americana de Comércio, ouviu 87 gestores de recursos humanos e mostrou que 34% deles já haviam criado algum plano específico para reter funcionários da Geração Milênio. Este mês, 8.185 brasileiros até 31 anos foram entrevistados pela Clave Consultoria de Recursos Humanos e o LAB SSJ, consultoria especializada em soluções de aprendizagem corporativa, que queriam entender o que esses profissionais procuram na hora de escolher uma empresa e o que os faz permanecer nela. O estudo, intitulado “Atração e Retenção de Jovens”, mostrou que os fatores mais importantes para a atração dessa mão de obra são a boa perspectiva na carreira futura (69,3%) e a possibilidade de desenvolver novas habilidades (60%). O que retém esses jovens são os desafios constantes e responsabilidades relevantes (39,1%) e a existência de um gestor que os apoie e lhes dê autonomia para realizar o trabalho (31,1%).


O engenheiro carioca Augusto Acioly, 29 anos, formado há quatro, está em seu quarto emprego. Há três meses, conseguiu realizar o sonho de viver no Exterior e foi morar em Milão, na Itália. Funcionário da multinacional francesa Anotech Energy, ele presta consultoria a uma gigante italiana do ramo petrolífero. Antes, trocou três vezes de patrão. Ficou seis meses no primeiro emprego, depois passou dois anos em uma empresa de onde saiu para ganhar três vezes mais. A experiência, porém, durou apenas oito meses. “Saí porque o chefe não enxergava que poderíamos crescer juntos, como alguém que pode agregar. Quando vi que não teria espaço para crescer, procurei outro lugar”, diz. “Uma das mudanças possibilitou que eu adquirisse experiência em gerenciamento, pois sempre havia atuado na parte técnica da profissão.” Como não poderia deixar de ser, quase todas as oportunidades de trabalho de Acioly surgiram via Linkedin, a rede social profissional.

Na pesquisa da Telefónica, temas como educação e desigualdade social também estão em alta na cartilha de interesses da Geração Milênio brasileira. Esses dois fatores foram citados como os que mais afetam o País e receberam 24% dos votos, seguido de saúde, com 17%. Não surpreende, então, que nas manifestações de junho – todas coordenadas pelas redes sociais – as principais bandeiras fossem melhorias no ensino, na saúde e no transporte. Muito antes dos protestos, a estudante catarinense Isadora Faber, 14 anos, já denunciava a precariedade do sistema educacional público do País. No ano passado, ela ganhou notoriedade ao criar a fanpage Diário de Classe, no Facebook, na qual mostrava como funciona uma escola pública na visão de quem a frequenta. Seus posts ecoaram pelo País e a colocaram no centro das atenções. “Se não fosse a internet talvez eu não tivesse feito nada”, diz ela. Com a repercussão, a casa da adolescente foi apedrejada e ela recebeu uma ameaça de morte. 

Isadora, porém, seguiu em frente e, hoje, é referência para empresários, educadores e gestores públicos que frequentam as palestras dela pelo País. No mês passado, a estudante catarinense lançou o site de sua ONG que, entre outras propostas, servirá de canal de denúncias sobre a situação de escolas de todo o Brasil. A postura de Isadora está alinhada com o pensamento de 54% dos brasileiros ouvidos na pesquisa da Telefónica, para quem melhorar o acesso e a qualidade da educação é uma maneira de fazer a diferença no mundo. “A maioria dos jovens de hoje quer resolver questões sociais que, eles acreditam, foram deixadas pelas gerações anteriores”, afirma o sociólogo Ronald E. Riggio, professor de liderança e psicologia organizacional da Claremont McKenna College, na Califórnia.  


Da mesma forma, a questão ambiental tem um apelo inédito para a juventude. Proteger o meio ambiente é citado por 45% dos brasileiros como a maneira de fazer a diferença mundialmente e 70% acreditam que a questão da mudança climática é muito urgente. O pernambucano Lucas Tiné, 21 anos, tornou-se ativista ambiental três anos atrás, em meio à discussão da votação do novo Código Florestal. Depois de alguns debates via internet, ele e o grupo que criou decidiram ir às ruas do Recife fazer coleta de lixo e educar a população sobre a causa. “Percebi uma destruição do meio ambiente gigantesco em minha cidade”, diz ele, que chegou a cursar jornalismo, mas hoje é flautista. Tiné está presente em várias mídias sociais e lança mão delas para difundir suas ideias. “As redes são a maior porta para o debate porque dão o maior e mais rápido feedback atualmente”, acredita. “Meu trabalho de formiguinha pode se converter em um trabalho do formigueiro todo muito mais rápido.” É com essa crença que eles constroem a própria história e transformam o mundo.  


foto: Rafael Hupsel/ag istoé
fotos: montagem sobre foto de kelsen fernandes; 
Leo Caldas; Masao Goto Filho /ag. Isto É
Fonte: Telefónica Global Millennial Survey: Global Results

http://www.istoe.com.br/reportagens/330530_A+GERACAO+QUE+VAI+MUDAR+O+MUNDO?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

A geração que vai mudar o mundo I

Pesquisa realizada em 27 países revela que os jovens de hoje apostam no poder da tecnologia, acreditam que podem fazer a diferença e são muito otimistas. Saiba como eles estão transformando a maneira de se relacionar, trabalhar, fazer política e negócios
Rodrigo Cardoso, Mariana Brugger e Andres Vera


Aos 23 anos, a paulista Lala Rudge é referência para adolescentes e garotas na sua idade com dicas de moda, beleza e life style pela internet. Ela começou a postar fotos de si própria no Instagram e em um blog há três anos. Hoje, é seguida por quase 400 mil pessoas na rede social de fotos e seu diário  virtual recebe 80 mil visitas diárias. O blog possui dez anunciantes e, para ter um banner estampado nele por um mês, a empresa interessada tem de desembolsar entre R$ 5 mil e R$ 30 mil. Com o sucesso, Lala abandonou a faculdade de direito e é disputada por grifes de moda para prestigiar eventos e desfiles.  



Eles são otimistas, acreditam que podem fazer a diferença, têm espírito empreendedor e são ultraconectados. Também podem ser descritos como narcisistas, excessivamente confiantes e um tanto mimados. O retrato dos jovens nascidos entre os anos 1980 e 2000 depende do ângulo escolhido e da lente utilizada. Mas a juventude de hoje, que cresceu embalada pela maior revolução tecnológica dos últimos tempos, a internet, vem transformando o seu tempo com uma eloquência que não se via desde os anos 1960 e 1970, quando a garotada fez barulho pela liberdade sexual e contra os regimes ditatoriais e as guerras. Educados sob o lema “yes, you can” (sim, você pode), interligados pela rede mundial onde compartilham ideais e ambições, eles estão mudando a forma de se relacionar, trabalhar, fazer política e negócios.

Uma pesquisa feita em 27 países, inclusive o Brasil, com 12 mil jovens de 18 a 30 anos traçou o perfil da Geração Milênio. Salta aos olhos a crença no poder da tecnologia (leia quadro), capaz, na visão deles, de transpor barreiras de linguagem, de facilitar a conquista de um novo emprego e até de reduzir as diferenças sociais. Na enquete, intitulada Telefónica Global Millennial Survey, encomendada pela multinacional de telecomunicações espanhola, os brasileiros se destacam pelo otimismo: 81% acreditam que os melhores dias do País estão por vir, contra 67% da juventude no mundo, e 87% esperam ter dinheiro o suficiente para se aposentar de forma confortável – a média mundial ficou em 61%. Também vale ressaltar que 80% dos nossos jovens creem que podem se destacar na sua comunidade (no mundo o percentual ficou em 62%) e apostam no empreendedorismo. Para 47% dos brasileiros entrevistados, ser dono do próprio negócio é muito importante, contra 22% na média geral. “Essa geração quer mudar o mundo como o Mark Zuckerberg, do Facebook, criando algo grande e ganhando muito dinheiro”, resume a psicóloga Maria Célia Lassance, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A estudante de moda Jordana França é um exemplo do jovem empreendedor. Aos 22 anos, nunca pensou em ter patrão. Recém-chegada de um intercâmbio na Itália, ela acaba de inaugurar, com o apoio financeiro da família, seu primeiro empreendimento, a loja de roupas de ginástica Move Fitwear. “Preciso ser um sucesso. E rápido”, diz. Jordana toca o negócio que fatura cerca de R$ 30 mil por mês, mas também gosta de fazer as vezes de modelo e posta fotos de si própria no Instagram da loja. Os planos para o futuro já estão delineados: “Em seis meses quero abrir outra unidade, lançar minha coleção de peças e vendê-las pela internet”.


“Há um desejo muito grande de se arriscar longe do caminho convencional traçado dentro de uma empresa”, diz Marcela Butazzi, consultora da MB Coaching especializada em carreira para jovens. Em seu escritório, Marcela ouve queixas diante da promoção rápida que não veio ou do salário que não cresceu exponencialmente. “Antigamente, o sujeito primeiro acumulava experiência no mercado. Hoje, ele quer experiência e reconhecimento simultâneos”, explica. Em 2012, uma pesquisa da agência de recrutamento Cia de Talentos sondou 40 mil jovens em todo o País. O sonho de 56% dos entrevistados era não ter patrão e metade revelou a intenção de montar uma empresa no prazo máximo de seis anos.  
O desejo de tornar-se uma marca é outra característica desta geração. Jovem, bonita e bem-nascida, a paulista Lala Rudge, 23 anos, virou referência para adolescentes e garotas da sua idade ao dar dicas de moda, beleza e life style pela internet. Ela começou a postar fotos dela mesma no Instagram e em um blog há três anos. Hoje, seu diário virtual recebe 80 mil visitas diárias. Para ter um banner estampado nele por um mês, a empresa interessada tem de desembolsar entre R$ 5 mil e R$ 30 mil. Lala, que deixou a faculdade de direito para desbravar o mundo virtual, possui dez anunciantes. Os convites recebidos constantemente para figurar na primeira fila de desfiles são um termômetro da sua influência. Grifes como Cris Barros, Mixer e Daslu, entre outras, fazem questão da presença dela em seus eventos.

Mesmo gigantes do varejo, como a Riachuelo, estão de olho nas blogueiras fashion. No fim do ano, a marca irá lançar uma coleção assinada por dez personalidades da moda, entre elas duas blogueiras. “Elas são grandes formadoras de opinião”, afirma Marcella Kanner, gerente de marketing da Riachuelo. “Temos um núcleo de mídias sociais que acompanham, entre outras coisas, blogs e sites dessa turma.” Para Veranise Dubeux, da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro, pesquisadora desse público nas áreas social e de consumo, a juventude atual tem uma maneira peculiar de lidar com a pressão para se destacar e ainda ter qualidade de vida. “Ela compartilha isso usando a felicidade como meio de promoção, mostrando sempre coisas agradáveis nas redes sociais.” É nessa passarela que Lala desfila. Seu Instagram é seguido por 396 mil pessoas. “Jovens como eu não querem trabalhar para os outros”, diz ela, hoje dona de uma grife de lingerie localizada no badalado shopping Iguatemi, em São Paulo.

foto: Rafael Hupsel/ag istoé

fotos: montagem sobre foto de kelsen fernandes; 

Leo Caldas; Masao Goto Filho /ag. Isto É

Fonte: Telefónica Global Millennial Survey: Global Results



terça-feira, 22 de outubro de 2013

Como ressuscitar a criatividade

Por Noemi Jaffe


Sem ideias: morte da criatividade ocorre na sala
do chefe, do executivo... até no playground

Com todos os componentes, a linguagem, a tipografia e até o design gráfico da capa correspondentes a uma investigação policial, o livro "Quem Matou a Criatividade?", de Andrew Grant e Gaia Grant (com dr. Jason Gallate) - e por algum motivo inexplicável diversos livros de autoajuda são escritos por vários autores -, promete conduzir o leitor pelos meandros de uma apuração: quem foi o assassino, quais foram os locais do assassinato e as possíveis causas da morte da criatividade. Mas que o leitor não fique decepcionado apenas com os elementos próprios de um investigador de polícia, pois o livro vai além. Ele também oferece soluções para que não haja mais assassinatos. Que alívio!

Bem, vamos para os assassinos e os locais da morte da criatividade: o controle, o medo, a pressão, o isolamento, a apatia, a mentalidade estreita e o pessimismo são os responsáveis. Os lugares onde os assassinatos ocorrem são: o escritório do chefe, a sala da diretoria, as finanças ou a contabilidade, as salas dos executivos, a pesquisa e desenvolvimento (aqui não sei se é a sala de pesquisa ou se é a própria pesquisa), as vendas e marketing (idem), a cafeteria, a sala de aula ou o espaço de leitura e, pasmem, o playground.

As etapas necessárias para que não ocorram mais mortes são: a liberação, a iniciação, a motivação e a transformação. Como? Com liberdade, coragem, independência, abertura, paixão, flexibilidade e positividade. E onde? Você por acaso teve a ousadia de achar que os locais são algo como a casa, a praça ou a rua? Não, de forma alguma! Que falta de criatividade! Os locais são exatamente os mesmos da etapa anterior: a sala do chefe, os escritórios etc.

Se você ainda não percebeu, a investigação rigorosa sobre o assassinato da criatividade tem, por objetivo máximo e por que não dizer, único, recuperá-la para fins de melhor rendimento criativo do executivo.

Paradoxo fundamental número um da ausência de criatividade: quando se ambiciona a criatividade, ela costuma se retrair. Paradoxo fundamental número dois: quando se deseja utilizar a criatividade para fins específicos e utilitários, ela se ofende e se retrai. Ela não está interessada em ser direcionada. E, finalmente, paradoxo número três: ela, a criatividade, não existe em si mesma. Não é algo que se obtenha, como uma propriedade. Ela e o indivíduo são os mesmos, em permanente fluxo e mutação.

Que se queira proceder à análise da desaparição da criatividade nos negócios como uma investigação policial já é, em si mesmo, um assassinato da imaginação. Que ainda se classifiquem as causas e os locais e se proponham soluções, acima de tudo com vistas a um melhor aproveitamento profissional da criatividade, eu diria que é a própria proposta de extermínio do sujeito criativo.

Enquanto os livros de autoajuda, as empresas e os executivos não entenderem que a mente não é um arquivo dividido em gavetas e escaninhos e que as habilidades humanas não são classificáveis nem investigáveis como os autos de um inquérito, não haverá reparo possível para a anestesia geral do comportamento. Enquanto a criatividade for compreendida como algo que serve a uma finalidade - especialmente visando ao lucro -, ela (que não existe por si mesma) não se manifestará. E não se engane. Se ela aparecer, se o livro funcionar, é porque ocorreu o fracasso criativo. O sucesso da criatividade como resultado é a sua derrota.


"Quem Matou a Criatividade? O Assassino Está por Perto".

Andrew Grant e Gaia Grant (com dr. Jason Gallate). Trad.: Silvio Floreal de Jesus Antunha. Saraiva, 312 págs., R$ 34,90
Noemi Jaffe é doutora em literatura brasileira pela USP e autora de "Quando Nada Está Acontecendo" (Martins Editora)